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1 - Rodriguésia - Jardim Botânico do Rio de Janeiro

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— 23 —<br />

novo enxergar a serra, ainda bastante afastada. Era cerca <strong>de</strong> 1 hora da tar<strong>de</strong> e não<br />

tínhamos ainda encontra<strong>do</strong> água, e já estávamos na duvida se seria possível continuar<br />

a viagem, quan<strong>do</strong> avistámos na nossa frente, para além <strong>de</strong> 3 pequenos morros,<br />

um grupo <strong>de</strong> palmeiras "mirity" {Momntíã jlexuosa L. f.) como signal infallivel da.<br />

presença <strong>do</strong> indispensável liqui<strong>do</strong>. Mas errámos o rumo, ao penetrar na matta, e<br />

eram quasi 5 horas quan<strong>do</strong> chegámos ao riachinho corrente entre os mirityzeiros,<br />

n'uma matta pantanosa em que notei a freqüência da bella arvore Dimorphandra ma-,<br />

crostachya Benth., que parece alcançar nessa zona o limite occi<strong>de</strong>ntal <strong>de</strong> sua distribuição<br />

geographica.<br />

5-10:' Dividimo-nos em 2 grupos <strong>do</strong>s quaes um, (eu e <strong>do</strong>is trabalha<strong>do</strong>res) <strong>de</strong>via<br />

explorar o terreno em direcção á serra, para verificar sobretu<strong>do</strong> as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>,<br />

água para o novo acampamento, emquanto o outro grupo se <strong>de</strong>stinava á caça. Fui<br />

com os <strong>do</strong>is companheiros acompanhan<strong>do</strong> <strong>de</strong> subida o riachinho e não tardámos a<br />

chegar a um terreno muito acci<strong>de</strong>nta<strong>do</strong> on<strong>de</strong> a água vinha <strong>de</strong>scen<strong>do</strong> nuraa estreita<br />

garganta; galgámos um <strong>do</strong>s paredões da entrada e logo nos vimos n'um alto pedregoso<br />

e <strong>de</strong>scampa<strong>do</strong>, avistan<strong>do</strong> já a ambicionada serra. Regressan<strong>do</strong> ao acampamento<br />

<strong>do</strong> mirityzal encontrámos os outros homens que não haviam consegui<strong>do</strong> avistar caça<br />

alguma.<br />

6-10: Seguimos to<strong>do</strong>s o meu caminho da véspera, continuan<strong>do</strong> além, por morros,<br />

cuja vegetação era em geral a da campina-rana, até uma fonte no começo d'uma funda<br />

grota; atámos as nossas re<strong>de</strong>s entre arvorezinhas da bella melastomacea Macairea<br />

viscosa D., só conhecida d'esse logar on<strong>de</strong> chega a formar um pequeno bosque. Nos<br />

altos on<strong>de</strong> ha matta, erguem-se, aqui e acolá dispersos, bellos exemplares <strong>do</strong> " coataquiçáua"<br />

(Peltogyne para<strong>do</strong>xa D.).<br />

7-10: Subimos a serra num logar menos íngreme <strong>do</strong> paredão meridional, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong><br />

á esquerda os gran<strong>de</strong>s precipícios esbranquiça<strong>do</strong>s visiveis <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o <strong>Rio</strong> Amazonas<br />

e que parecem ser da mesma origem que as " barreiras" da margem <strong>do</strong> gran<strong>de</strong> rio<br />

na Velha Pobre e acima <strong>de</strong> Óbi<strong>do</strong>s. A serra forma no alto uma extensa chapada,<br />

coberta (pelo menos na parte sul, a única que vi) duma matta baixa mas cerrada <strong>de</strong><br />

pequenas arvores e " varas " ; não pu<strong>de</strong>, infelizmente, tentar atravessar essa chapada,<br />

pela falta <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os recursos (impossível trazer-se a bagagem para o alto!) e sobretu<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> água. O solo ahi é coberto <strong>de</strong> pedras soltas que parecem cacos <strong>de</strong> louça.<br />

e <strong>de</strong> um pedregulho brancacento que os trabalha<strong>do</strong>res compararam a grãos grossos<br />

<strong>de</strong> tapioca; os que andavam <strong>de</strong>scalços ficaram logo com os pés bastante feri<strong>do</strong>s.<br />

Na mattinha só encontrei em flor o Pithccolobium parauaquara D. que também existe<br />

no alto <strong>do</strong> monte Araguay na vizinha região <strong>do</strong> Jutahy, assim como nos morros <strong>do</strong>s<br />

campos <strong>de</strong> Macapá; faltou-me aliás tempo para as investigações, e também a estação<br />

(muito secca) não era propicia. — A serra foi visitada em 1871 pelo afama<strong>do</strong> geólogo<br />

Hartt que a subiu pelo la<strong>do</strong> oeste, vin<strong>do</strong> <strong>do</strong> rio Marapy affluente <strong>do</strong> Jauary, e que<br />

avaliou a sua altitu<strong>de</strong> em 360 m.; lambem elle lutou com sérios obstáculos para alcançar<br />

a serra, por ser difficil approximar-se <strong>de</strong>lia <strong>de</strong> qualquer la<strong>do</strong> (veja-se: Trabalhos<br />

restantes da Comniissão Geológica <strong>do</strong> Brasil - A serra <strong>de</strong> Parauaquara, Boletim<br />

<strong>do</strong> Museu Paraense II p. 352). Da margem <strong>do</strong>s precipícios a vista se exten<strong>de</strong><br />

até muito além <strong>do</strong> Amazonas, mas a fumaça das queimas das roças e <strong>do</strong>s campos não<br />

me permittiu vêr tu<strong>do</strong> quanto seria visível na estação chuvosa; interessantes são os<br />

numerosissimos pequenos morros <strong>de</strong>scampa<strong>do</strong>s, antepostos á serra principalmente <strong>do</strong><br />

la<strong>do</strong> su<strong>do</strong>este e que, visto <strong>do</strong> alto, dão a impressão d'um mar revolto subitamente<br />

petrifica<strong>do</strong>. De volta ao acampamento, ao entar<strong>de</strong>cer, comemos os restos das nossas<br />

provisões <strong>de</strong> pirarucu (peixe secco que substitue vantajosamente o bacalhau) e <strong>de</strong><br />

farinha <strong>de</strong> mandioca; d'um coatá (Ateies sp.) morto por um <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res na<br />

<strong>de</strong>scida da serra, só aproveitámos o liga<strong>do</strong>, <strong>de</strong> tal fôrma era dura a carne. Na estação

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