02.08.2013 Views

1 - Rodriguésia - Jardim Botânico do Rio de Janeiro

1 - Rodriguésia - Jardim Botânico do Rio de Janeiro

1 - Rodriguésia - Jardim Botânico do Rio de Janeiro

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

- 3» -<br />

pella. Notável é a belleza <strong>do</strong> panorama que se offerece ahi ao visitante: ao sul os<br />

campos <strong>de</strong> Montealegre entremea<strong>do</strong>s <strong>de</strong> pequenas áreas <strong>de</strong> matta, o Amazonas e a<br />

extensa " várzea" inundavel aquém e além <strong>do</strong> mesmo; ao norte um semicirculo <strong>de</strong><br />

longínquas serras azues que começam <strong>do</strong> la<strong>do</strong> das cachoeiras <strong>do</strong> rio Maecurú e terminam<br />

na Serra <strong>de</strong> Parauaquara a leste. A encosta Íngreme <strong>do</strong> la<strong>do</strong> sul é coberta <strong>de</strong><br />

matta <strong>de</strong> regular tamanho mas <strong>de</strong>vastada; para o norte, a serra <strong>de</strong>scamba <strong>de</strong>vagarinho<br />

e to<strong>do</strong> esse plano inclina<strong>do</strong> é um campo pedregoso com vegetação herbacea<br />

baixa em que pre<strong>do</strong>minam gramineas. Um riacho que nasce d'esse la<strong>do</strong> perto <strong>do</strong> cume<br />

tem cava<strong>do</strong> em sua <strong>de</strong>scida, em vários trechos, fundas grotas algumas vezes com<br />

precipícios verticaes, repletas <strong>de</strong> vegetação arbórea interessante e variada da qual faz<br />

parte a rubiacea Ferdinandusa nítida D. (ainda não encontrada em outra localida<strong>de</strong>)<br />

e o curiosissimo "coatáquiçáua" (Peltogyne para<strong>do</strong>xo, D.), muito mais freqüente nas<br />

serras <strong>do</strong> municipio <strong>de</strong> Almeirim e ao qual já me referi <strong>de</strong>talhadamente no relatório<br />

sobre a minha commissão <strong>de</strong> 1919. Regressámos á cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Montealegre á tar<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

dia 6; atravessan<strong>do</strong> os restos <strong>de</strong> matta na colônia <strong>do</strong> Itauajury, ao pé da serra, colhi<br />

ramos floriferos da Caesalpinia paraensis D. (única espécie amazônica d'este gênero<br />

tão bem representa<strong>do</strong> em to<strong>do</strong> o resto <strong>do</strong> Brasil!) e d'uma nova espécie <strong>de</strong> rubiaceas,<br />

Isertia glabra D..<br />

8-3: Partimos para a povoação <strong>do</strong> Ereré, em canoa, pelos " campos da várzea".<br />

então completamente inunda<strong>do</strong>s pela cheia annual <strong>do</strong> Amazonas; esses campos fornecem,<br />

no verão, excellente pastagem ao ga<strong>do</strong> que no começo da alagação é conduzi<strong>do</strong><br />

alos campos firmes. Ha, n'esses campos da várzea, laguinhos que conservam água durante<br />

o anno inteiro, e muitos <strong>de</strong>stes estavam na occasião cobertos por plantas aquáticas<br />

com flores das mais vistosas entre as quaes sobresahiam exemplares enormes<br />

<strong>do</strong> "forno <strong>de</strong> jacaré", a celebre Victoria regia. Na margem d'esses campos vêem-se<br />

palmeiraes <strong>de</strong> "mirity'' (Mauritia flexnosa L. f.) e <strong>de</strong> " caraná " (Mauritia Martiana<br />

Spruce) que com as serras no fun<strong>do</strong> tornam a paizagem summamente pittoresca.<br />

Depois da travessia <strong>do</strong> campo aTaga<strong>do</strong> entrámos no Igarapé <strong>do</strong> Ereré que subimos<br />

até o ponto on<strong>de</strong> a estrada vinda <strong>de</strong> Montealegre o atravessa, seguin<strong>do</strong> d'ahi a pé, pelo<br />

campo firme, para a povoação <strong>do</strong> Ereré. O campo, argilloso com abundante pcdregulho,<br />

tem bôa pastagem <strong>de</strong> gramineas com muitas leguminosas e outras hervas e<br />

arbustinhos; grupos isola<strong>do</strong>s <strong>de</strong> arvores e arbustos maiores são em parte os mesmos<br />

<strong>do</strong> " campo coberto". — A povoação on<strong>de</strong> nos hospedámos é uma antiga al<strong>de</strong>ia indígena<br />

e se acha em gran<strong>de</strong> aban<strong>do</strong>no; notei nella muitas arvores fructiferas entre<br />

as quaes laranjeiras <strong>de</strong> extraordinária velhice. O logar que outrora gozava da fama<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> salubrida<strong>de</strong> foi, ha talvez uns 10 annos, invadi<strong>do</strong> pelo paludismo que agora<br />

faz periodicamente gran<strong>de</strong>s estragos na já escassa «população á qual a in<strong>do</strong>lência e<br />

a falta <strong>de</strong> instrucção e meios não permittem reagir contra o flagello4 Por occasião<br />

da nossa visita grassava também a hydrophobia, e cães <strong>do</strong>entes d'este mal horrível<br />

erravam pelos arre<strong>do</strong>res sem que ninguém se lembrasse <strong>de</strong> os perseguir, ten<strong>do</strong> eu<br />

mesmo si<strong>do</strong> ataca<strong>do</strong> por um d'estes animaes que me mor<strong>de</strong>u na calça, felizmente sem<br />

me tocar na pelle. Varias pessoas mordidas na mesma occasião applicaram o remédio<br />

em uso na região, que é o balsamo <strong>de</strong> copaibá; raramente usam o ferro em<br />

braza.<br />

9-3: Visitámos a interessantíssima Serra <strong>do</strong> Araxy, amontoa<strong>do</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

blocos <strong>de</strong> pedra entre os quaes nascem hervas e arbustinhos e algumas das arvores<br />

características <strong>do</strong> " campo coberto"; n'um <strong>do</strong>s flancos da serra, uma <strong>de</strong>nsa faixa<br />

<strong>de</strong> "jaramacarú" (Ccrcus, espécie <strong>de</strong> vários metros <strong>de</strong> altura) dá ao visitante a<br />

illusão <strong>de</strong> se achar no Nor<strong>de</strong>ste secco <strong>do</strong> Brasil e não na Amazônia. Conseguimos<br />

<strong>de</strong>svendar a origem <strong>do</strong> " ar quente " que sae <strong>de</strong> uma fenda no alto d'essa serra (vêr:<br />

O. Derby, " Boletim <strong>do</strong> Museu Paraense" II, p. 342, e A. Ducke, " La Geographie"

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!