1 - Rodriguésia - Jardim Botânico do Rio de Janeiro
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— 24 —<br />
estivai a caça na " terra firme *' <strong>do</strong> baixo Amazonas é em geral magra; aliás quasi<br />
não se encontra nos trechos altos sujeitos a secca rigorosa.<br />
8-10: Caminhámos em jejum o dia inteiro, <strong>de</strong> volta <strong>do</strong> ultimo acampamento até<br />
o logar on<strong>de</strong> havíamos pernoita<strong>do</strong> no dia 2, percorren<strong>do</strong> nesse dia o trajecto <strong>de</strong> (res<br />
dias <strong>de</strong> ida.<br />
9-10: Tomámos um chá <strong>de</strong> " herva <strong>de</strong> chumbo" (Cassytha americana Nees),<br />
<strong>de</strong> paladar supportavel ainda que sem assucar, e continuámos a viagem por terra e<br />
<strong>de</strong>pois na nossa canoa, chegan<strong>do</strong> a ima hora da tar<strong>de</strong> ao porto <strong>do</strong> "ultimo mora<strong>do</strong>r",<br />
on<strong>de</strong>, após 44 horas <strong>de</strong> jejum, encontrámos farinha <strong>de</strong> mandioca, leite e queijo. A<br />
noite alcançamos o Paraná <strong>do</strong> Parauaquara on<strong>de</strong> nos installámos na casa <strong>do</strong> commerciante<br />
<strong>do</strong> logar para repousar to<strong>do</strong> o dia seguinte, mandan<strong>do</strong> eu franquear aos companheiros<br />
toda a comida que quizessem.<br />
11-10: Sahida pela madrugada, em canoa; á tar<strong>de</strong> man<strong>de</strong>i encostar no Bom Logar<br />
mas encontrei a matta muito secca. Chegámos a Arumanduba na manhã <strong>de</strong> 12.<br />
15-10: Embarquei para Óbi<strong>do</strong>s on<strong>de</strong> cheguei a 18, encontran<strong>do</strong> os arre<strong>do</strong>res<br />
muito seccos e a temperatura elevadíssima. Continuei a viagem a 21, n'uma lancha,<br />
para o Lago Salga<strong>do</strong> junto <strong>do</strong> rio Cuminá affluente <strong>do</strong> baixo Trombetas; fiquei na<br />
casa <strong>do</strong> dr. José Picanço Diniz, o maior proprietário <strong>de</strong> " castanhaes" da região,<br />
organiza<strong>do</strong>r <strong>de</strong> varias viagens <strong>de</strong> exploração que eu havia acompanha<strong>do</strong>, So alto<br />
Mapuera e aos campos <strong>do</strong> Ariramba sitos na bacia fluvial <strong>do</strong> Trombetas.<br />
22 a 24-10: Excursões aos " castanhaes " situa<strong>do</strong>s na terra firme a leste <strong>do</strong> lago<br />
un<strong>de</strong> a matta é, em geral, po<strong>de</strong>rosamente <strong>de</strong>senvolvida. Encontrei o lago muito reduzi<strong>do</strong><br />
em seu volume d'agua <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao forte verão reinante em to<strong>do</strong> o baixo Amazonas<br />
; a vegetação estava, todavia, refrescada pelas chuvas das trovoadas locaes,<br />
freqüentes nesse ponto. O solo consiste, em geral, <strong>de</strong> argilla par<strong>do</strong> vermelho, misturada<br />
com pedras mas fértil, conforme logo nos indicam a existência <strong>de</strong> certas espécies<br />
<strong>de</strong> arvores como o Schizolabium amazonicum " Hub." Ducke, e a presença na "terra<br />
firme", <strong>de</strong> algumas arvores geralmente só encontradas na " várzea", como a sumaúma "<br />
(Ceiba pcntandra Gaertn.) e o " taperebá" {Spondias lutea L.) ; os riachos são em<br />
parte <strong>de</strong> água salobra, pelo menos no verão. Colhi em flor varias arvores interessantes,<br />
das quaes cito a Cedrela o<strong>do</strong>rata L., que fornece a maior parte da ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> cedro<br />
da Amazônia. As arvores maiores d'essa matta são, além <strong>do</strong> "castanheiro" (Bertholletia),<br />
exemplares enormes da Dinizia excelsa D. (assim <strong>de</strong>nominada em homenagem<br />
ao proprietário <strong>do</strong> logar). Entre as innumeras outras espécies <strong>de</strong> arvores salienta-se<br />
o " taperebá-assú " (Poupartia amazônica Ducke, fam. auacardiaceas), com fruetos pentágonos,<br />
áci<strong>do</strong>s mas comestiveis, e que representa na America <strong>do</strong> Sul um gênero até<br />
agora só conheci<strong>do</strong> das ilhas Mascarenhas. Varias outras espécies novas <strong>de</strong> plantas<br />
só são conhecidas <strong>do</strong>s castanhaes <strong>do</strong> Lago Salga<strong>do</strong>: Hirtclla glandulistipula D., Pithecolobittm<br />
Uinizii D., Phaseohts longirostratus D., Custaria trombetensis D., Qualea<br />
amoena D. Notáveis são ainda a anonacea Duguetia ftagellaris Hub., arvorezinha<br />
cujas flores brotam <strong>de</strong> ramos subterrâneos que vão até 10 m. <strong>de</strong> distancia <strong>do</strong> tronco;<br />
c Erythrochiton brasiliensc Nees, cujas columnas <strong>de</strong> poucos metros formam um pequeno<br />
bosque na submatta entre <strong>do</strong>is morros, arbuscula muito ornamental que só se<br />
conhecia <strong>de</strong> Minas e <strong>do</strong> Peru oriental; a Passiflora longiraccmosa D., cipó com<br />
flores e fruetos rubros em racimos no tronco.<br />
25-10: Fui durante a madrugada n'uma lanchinha para o logar Água Fria, á<br />
margem <strong>do</strong> Trombetas logo abaixo da boca <strong>do</strong> Lago <strong>do</strong> Moura em cujos arre<strong>do</strong>res<br />
já houve exportação <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, principalmente da "muirapiranga" verda<strong>de</strong>ira (côr<br />
<strong>de</strong> sangue), proveniente da moracea Brosimum paraense Hub. O solo d'essa matta<br />
é em geral silico-humoso, a matta é alta e limpa; notei, além da "muirapiranga", a<br />
presença <strong>de</strong> outras moraceas <strong>de</strong> porte muito gran<strong>de</strong>, como "amapá-rana" (Brosimion