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1 - Rodriguésia - Jardim Botânico do Rio de Janeiro

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— 52 —<br />

mente separadas como talvez em nenhum outro ponto da Amazônia; o verão é<br />

rigoroso <strong>de</strong> agosto a novembro, quasi sem chuva e com vento fortíssimo <strong>de</strong> sueste;<br />

no auge <strong>do</strong> inverno (março a maio) as chuvas são muito mais prolongadas que na<br />

capital, ás vezes continuas durante vários dias, sem <strong>de</strong>scargas electricas, com calma<br />

ou vento norte. Será talvez esse typo <strong>de</strong> clima um <strong>do</strong>s factores da relativa pobreza<br />

vegetal <strong>do</strong>s arre<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Macapá on<strong>de</strong> observei tão pequeno numero <strong>de</strong><br />

espécies como em nenhum outro ponto da Amazônia.<br />

26-4: Segui a pé para a fazenda Paricás cujo proprietário, sr. Antenor Picanço,<br />

teve a amabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> me acompanhar, apezar da forte chuva que cahia o dia inteiro<br />

; seriam, ao que me pareceu, uns vinte e poucos kilpmetros rumo geral noroeste<br />

até as proximida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> rio Matapy, sempre em campo alto com excepção <strong>de</strong><br />

pequenas travessias <strong>de</strong> "ilhas" <strong>de</strong> matta. A fazenda é <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> ga<strong>do</strong> vaceum<br />

e abrange campos em parte muito altos e pedregosos, "lagos" (pântanos) e "ilhas"<br />

<strong>de</strong> matta cuja vegetação é um pouco mais variada que nos arre<strong>do</strong>res próximos <strong>de</strong><br />

Macapá, notan<strong>do</strong>-se á margem <strong>do</strong>s "lagos" uma espécie <strong>de</strong> sapucaia (Lecythis),<br />

e, nos pontos mais altos, o " coatáquiçáua" (Pcltogyne para<strong>do</strong>xo, D.) <strong>de</strong> snigular<br />

aspecto (veja-se o primeiro <strong>do</strong>s presentes relatórios, junho <strong>de</strong> 1919). A presença<br />

<strong>do</strong> ultimo e <strong>do</strong> Pithccolobhim paraitaquarae D. que o acompanha, <strong>de</strong>monstra a ligação<br />

<strong>de</strong>sta flora com as das pequenas serras <strong>do</strong> baixo Amazonas, <strong>de</strong> Montealegrc a<br />

Almeirim.<br />

30-4: Da fazenda Paricás ao vizinho porto <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Matapy, escoa<strong>do</strong>uro geral<br />

d'uma gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong>s campos <strong>de</strong> Macapá e cuja corrente única é a das marés.<br />

Comecei logo a <strong>de</strong>scida, n'uma canoa a remo que só no dia seguinte alcançou o<br />

" barracão" principal da bocea <strong>do</strong> rio. As margens, todas inundáveis, sustentam<br />

matta medíocre on<strong>de</strong> notei a presença da bella Mucuiia rostrata Benth. com gran<strong>de</strong>s<br />

flores escarlates e <strong>do</strong> "compadre <strong>do</strong> azeite" (Elaéophora abutacfolia D.) cujas<br />

flores masculinas vim encontrar pela primeira vez; havia algumas arvores <strong>de</strong> "cedro"<br />

(Cedrcla o<strong>do</strong>rata L.), mas só pequenas, porque as gran<strong>de</strong>s já foram cortadas.<br />

— O Matapy. ainda mais que a zona percorrida <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Macapá, é terrivelmente infesta<strong>do</strong><br />

pelas anophelinas já citadas, cuja sagacida<strong>de</strong> em penetrar por um buraquinho<br />

ou ponto frouxo nos mosquiteiros é sem igual entre as espécies brasileiras <strong>de</strong> mosquitos;<br />

os mora<strong>do</strong>res da zona só usam mosquiteiros <strong>de</strong> panno (apezar <strong>do</strong> calor !), e<br />

só consegui <strong>do</strong>rmir com os <strong>do</strong>is que tinha, enfia<strong>do</strong>s um no outro.<br />

2-S: Na falta <strong>de</strong> embarcações boas fretei uma canoa a vela, bastante estragada,<br />

mas que por muita sorte me levou para Mazaganopolis, n'um <strong>do</strong>s braços <strong>do</strong> <strong>de</strong>lta<br />

<strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Anauerapucú, o Furo da Villa Nova; o vapor "Santa Maria", o mesmo<br />

que me tinha trazi<strong>do</strong> a Macapá, <strong>de</strong>via no dia seguinte passar por aquelle porto, <strong>de</strong><br />

regresso <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Maracá on<strong>de</strong> fora buscar " castanha". Esperan<strong>do</strong> em vão por esse<br />

navio, só podia fazer excursões pequenas aos arre<strong>do</strong>res próximos, quan<strong>do</strong> passou<br />

o vaporzinho " Marcilio Dias" em que tomei passagem para Belém. — Mazaganopolis<br />

é a se<strong>de</strong> actual <strong>do</strong> município <strong>de</strong> Mazagão, em substituição a Mazagão Velho<br />

que foi aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> por suas febres e pelo difficil accesso <strong>de</strong> seu porto; porém a<br />

nova "cida<strong>de</strong>" chegou somente a 14 habitações (entre casas e barracas) e é ainda<br />

mais assolada pelo paludismo que a antiga. Os arre<strong>do</strong>res são, com excepção <strong>do</strong>s<br />

pontos mais altos, mattas inundáveis entremeadas <strong>de</strong> pântanos e lagoas, o que ha<br />

<strong>de</strong> mais hostil e inaccessivel ao homem !<br />

8-5: Embarquei para Belém, no já cita<strong>do</strong> vaporzinho que "faz a linha das ilhas"<br />

o que quer dizer navega no estuário amazônico entre os portos <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Pará e os<br />

da foz <strong>do</strong> Amazonas propriamente dito, atravez <strong>do</strong>s canaes <strong>de</strong> Breves, tocan<strong>do</strong> em<br />

numerosos (mais <strong>de</strong> 100) logares.

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