1 - Rodriguésia - Jardim Botânico do Rio de Janeiro
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sp.), idêntica com o "biribá" brasileiro cuja pátria é até hoje ignorada. A extrema<br />
abundância <strong>do</strong> " biribá", no Peru oriental on<strong>de</strong> as arvores mais freqüentemente<br />
cultivadas no Amazônia brasileira (mangueira, sapotilheira) são relativamente raras,<br />
fala em favor da origem peruana d'essa arvore. Algumas vezes encontram-se ainda<br />
duas apocynaceas arbóreas com fructos comestíveis, provenientes das mattas vizinhas:<br />
o " leche caspi" (Couma sp., parecida com C. macrocarpa) e o "chicle"<br />
(Zschokkca sp.) cuja látex solidifica<strong>do</strong> tqntou-se exportar como succedaneo <strong>do</strong><br />
homonymo producto- mexicano. — Entre as poucas plantas não fructiferas, cultivadas<br />
pelos " cholos" <strong>do</strong>s arre<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Iquitos, notei com freqüência duas espécies venenosas:<br />
a Euphorbia cotinoi<strong>de</strong>s Miq. ("assacuhy" no Pará) e a bella Datura insignis<br />
Barb. Rodr. ("toé"). Cultivada encontrei também a bonita e aromatica verbenacea<br />
Cornutia o<strong>do</strong>rata, <strong>de</strong>scripta e figurada sob o nome <strong>de</strong> Hóstia o<strong>do</strong>rata por Poeppig<br />
que a tinha colhi<strong>do</strong> na região <strong>do</strong> Huallaga. — Das duas lecythidaceas mencionadas<br />
("chope" e "sacha mango"), assim como da "uvilla" e <strong>do</strong> "toé" adquiri mudas<br />
que chegaram em boas condições no <strong>Jardim</strong> on<strong>de</strong> já se acham plantadas.<br />
29-10: Embarcámos to<strong>do</strong>s no vapor "São Salva<strong>do</strong>r" em que cinco dias antes<br />
tinhamos chega<strong>do</strong>, e não foi sem uma sensação <strong>de</strong> allivio que <strong>de</strong>ixámos a cida<strong>de</strong> em<br />
que foramos recebi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> uma maneira tão differente da que esperávamos. Cumpreme<br />
porém <strong>de</strong>clarar que isso não altera o conceito, forma<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a minha primeira<br />
estadia em Iquitos (1906), quanto á inexcedivel amabilida<strong>de</strong> e hospitalida<strong>de</strong> da<br />
immensa maioria <strong>do</strong> povo loretano e <strong>do</strong> Peru em geral. Deixo aqui expressa a<br />
minha gratidão pelas muitas attenções dispensadas á minha esposa por varias familias<br />
da cida<strong>de</strong>, especialmente pela excellentissima senhora <strong>de</strong> Israel e seu digno<br />
esposo, <strong>do</strong>n Victor Israel.<br />
30-10: Passámos gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong> dia no porto da Serraria <strong>de</strong> Nanay pouco<br />
abaixo <strong>de</strong> Iquitos on<strong>de</strong> embarcou gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>do</strong> mogano peruano (" águano"),<br />
provavelmente proveniente da espécie Swietenia Tessmannii Harms. Curioso é que<br />
essa ma<strong>de</strong>ira tão apreciada não tenha si<strong>do</strong> ainda encontrada no Brasil, quan<strong>do</strong> já é<br />
conhecida também <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Ucayali.<br />
2-11: Desembarquei, com os companheiros <strong>de</strong> trabalho, em São Paulo <strong>de</strong> Olivença<br />
<strong>de</strong> on<strong>de</strong> pretendia <strong>de</strong>scer aos poucos o Solimões, emquanto minha esposa seguia<br />
para a capital <strong>do</strong> Pará levan<strong>do</strong> as plantas vivas adquiridas no Peru.<br />
3 a 5-11: Excursões ao re<strong>do</strong>r <strong>de</strong> São Paulo <strong>de</strong> Olivença, villa que occupa o<br />
ponto mais eleva<strong>do</strong> <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o Solimões. A matta é <strong>de</strong> composição mais variada que<br />
em Iquitos, porém o numero das espécies floriferas era muito menor. Nos terrenos<br />
argillosos a vegetação é exhuberante, mas maior é a extensão <strong>de</strong> terras silicosas<br />
com pre<strong>do</strong>mínio <strong>de</strong> matta pequena. As arvores mais altas e mais grossas pertencem<br />
á espécie Cedrelmga catenaeformis D., o " cedro-rana" da Amazônia inferior; como<br />
novida<strong>de</strong> botânica menciono o Catostemma praeco.r n. sp., (bombacacea), represen- .<br />
tante d'um gênero pouco conheci<strong>do</strong>. De seringueiras "cortadas" (trabalhadas) vi<br />
pelo menos três espécies, mas todas fracas, pois falta a Hevea brasüiensis tão freqüente<br />
no vizinho rio Javary; talvez sejam em parte espécies novas, mas só as vi<br />
com cápsulas ainda ver<strong>de</strong>s.<br />
6-11: Embarquei, acompanha<strong>do</strong> pelo pessoal, no reboca<strong>do</strong>r "Acima" que por<br />
preço exorbitante nos forneceu péssimo transporte para Tonantins on<strong>de</strong> amanhecemos<br />
a 8.<br />
8 a 17-11: Tivemos em Tonantins a sorte <strong>de</strong> ser hospeda<strong>do</strong>s pelo distincto commerciante,<br />
sr. Alexandre José <strong>do</strong>s Santos, em cuja casa encontrámos recursos não<br />
communs nessas longínquas paragens, inclusive a facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contractar trabalha<strong>do</strong>res<br />
bons para o serviço da canoa e da matta. O movimento commercial concentra-se<br />
actualmente na " Villa Nova", á margem <strong>do</strong> Solimões, on<strong>de</strong> o dito sr.