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1 - Rodriguésia - Jardim Botânico do Rio de Janeiro

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9-10: Embarque no "São Salva<strong>do</strong>r" da Amazon River C.°, vapor fluvial <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong>s dimensões, próprio para clima quente e <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o conforto para<br />

a viagem a qual é longa na subida, com escala em numerosos pequenos portos. Ia<br />

no comman<strong>do</strong> o capitão <strong>de</strong> longo curso James Ferreira Lemos, estima<strong>do</strong> <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os<br />

passageiros e a cuja gentileza tenho <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer concessões especiaes que me permittiram<br />

fazer excursões botânicas em vários portos <strong>de</strong> lenha e preparar a bor<strong>do</strong><br />

o material colhi<strong>do</strong>. — As margens <strong>do</strong> Solimões são em geral inundáveis e cobertas<br />

<strong>de</strong> " imbaubal" (matta composta <strong>de</strong> varias espécies <strong>de</strong> " imbaúba" — gênero botânico<br />

Cecropia) ; a paizagem é muito mais monótona que no baixo Amazonas.<br />

Nas vastas praias <strong>de</strong> areia par<strong>do</strong> amarella<strong>do</strong> já não ha a outrora falada abundância<br />

<strong>de</strong> tartarugas e seus ovos; recentemente, estes animaes utilissimos têm diminuí<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

maneira assombrosa, o que vulgarmente se attribue á perseguição excessiva pelos<br />

mora<strong>do</strong>res mas parece antes <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> á irregularida<strong>de</strong> das estações, nos últimos annos<br />

em que se têm repeti<strong>do</strong> enchentes enormes e prolongadas alternan<strong>do</strong> com perío<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>susada secca <strong>do</strong> rio.<br />

20-10: Parada maior em Remate <strong>de</strong> Males, se<strong>de</strong> <strong>do</strong> município <strong>de</strong> Benjamin<br />

Constant, no baixo Javary. A villa, construida n'um lamaçal, tem as casas collocadas<br />

em giráos para escapar da invasão pela enchente que annualmente alcança as<br />

ruas; ella já conheceu tempos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> movimento commercial, nas epochas da<br />

borracha "alta", mas foi sempre mal afamada pelo paludismo e está hoje totalmente<br />

<strong>de</strong>cahida e <strong>de</strong> apavorante aspecto. Logo atraz da única mas extensa rua que<br />

acompanha a beirada relativamente alta <strong>do</strong> rio, começa a matta inundavel (não existe<br />

"terra firme" nas proximida<strong>de</strong>s), composta <strong>de</strong> poucas espécies <strong>de</strong> arvores mas on<strong>de</strong><br />

ha exemplares muito gran<strong>de</strong>s da Hevea brasiliensis que fornece borracha superior.<br />

N'essa matta feia, cujo solo lamacento é corta<strong>do</strong> por pântanos que conservam água<br />

o anno inteiro, notei a abundância <strong>de</strong> plantas armadas <strong>de</strong> espinhos ou aculeos e sobretu<strong>do</strong><br />

a das plantas myrmecophilas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as gran<strong>de</strong>s arvores <strong>do</strong> "tachy" (Triplaris<br />

Schomburgkiana Benth., differente <strong>do</strong> "tachy" <strong>do</strong> Solimões que é a espécie Triplaris<br />

surinamensis, ambas habitadas pelas temiveis formigas <strong>do</strong> gênero Pseu<strong>do</strong>myrmà) e as<br />

"imbaúbas" (Cecropia) até as numerosas melastomaceas arbustivas (com as suas<br />

formiguinhas <strong>do</strong> gênero Azteca) e os " jardins <strong>de</strong> formigas" (segun<strong>do</strong> E. Ule) :<br />

ninhos arbóreos livres, construí<strong>do</strong>s por diversos gêneros <strong>de</strong> formici<strong>de</strong>os e que hospedam<br />

uma variada flora <strong>de</strong> plantas epiphyticas (sobretu<strong>do</strong> araceas, solanaceas e<br />

gesneriaceas) .<br />

23-10: Estivemos poucas horas no porto da " Hacienda Belo Horizonte" na boca<br />

<strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Pebas, á margem esquerda <strong>do</strong> Amazonas peruano (o immenso rio, em seu<br />

trecho entre a fronteira <strong>do</strong> Brasil e a boca <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Huallaga, tem novamente o nome<br />

<strong>de</strong> Amazonas o qual somente da boca d'este gran<strong>de</strong> affluente para cima é substituí<strong>do</strong><br />

pelo nome <strong>de</strong> "Marafion"). O embarque da lenha era feito por índios "Yaguas" em<br />

seus costumes originaes. O aspecto da paizagem é o opposto da <strong>do</strong> Javary: terras<br />

altas cobertas <strong>de</strong> vegetação esplendida em que notei varias arvores da família das moraceas<br />

<strong>de</strong> espécies <strong>de</strong>sconhecidas.<br />

24-10: Pela manhã, parada no porto <strong>de</strong> lenha da "Hacienda Indiana", acima da<br />

boca <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Napo. O logar é bonito e bem cuida<strong>do</strong> e <strong>de</strong>ve a sua prosperida<strong>de</strong> á estrada<br />

que o liga a um porto <strong>do</strong> dito rio, muito distante da foz. Essa estrada percorre<br />

férteis terrenos argillosos que ostentam uma vegetação exhuberante como melhor<br />

não lembro ter visto; trechos ligeiramente inundáveis alternam com terras "firmes"<br />

("alturas" no Peru). Realizei em apenas duas horas, n'essa matta, uma colheita<br />

<strong>de</strong> vegetaes interessantissimos. Menciono, <strong>de</strong> arvores <strong>de</strong> porte gran<strong>de</strong>, o "sapote"<br />

<strong>do</strong> Peru (Matisia cordata H. B. K.) em esta<strong>do</strong> espontâneo, e o " urucú" arbóreo<br />

(Bi.va arbórea Hub.), só conheci<strong>do</strong> <strong>de</strong> um ponto da E. <strong>de</strong> F. <strong>de</strong> Bragança e <strong>de</strong>

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