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1 - Rodriguésia - Jardim Botânico do Rio de Janeiro

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tes <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Pará, o qual por sua vez faz parte <strong>do</strong> gran<strong>de</strong> estuário amazonico-tocantino)<br />

e pelo Guamá (o mais próximo <strong>do</strong>s ditos affluentes) acompanha<strong>do</strong> por uma larga<br />

faixa <strong>de</strong> mattas inundadas ou inundáveis; somente entre leste e o nor<strong>de</strong>ste se exten<strong>de</strong>m<br />

terras não inundáveis ("terra firme") <strong>de</strong> poucos metros <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>, atravessadas<br />

pela E. <strong>de</strong> F. <strong>de</strong> Bragança e o seu ramal <strong>do</strong> Pinheiro. Toda essa " terra<br />

firme", até muitos kilometros <strong>de</strong> distancia da cida<strong>de</strong>, acha-se actualmente transformada<br />

em capoeira baixa ou capoeirão já cresci<strong>do</strong>, em varias graduações <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

da sua ida<strong>de</strong> e das qualida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> solo, vegetação secundaria bastante pobre em espécies<br />

nos terrenos que já foram queima<strong>do</strong>s para roça, mais variada naquelles em que a<br />

<strong>de</strong>rrubada da matta só se fez para exploração <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>iras e on<strong>de</strong> por conseguinte<br />

nunca houve incêndio. A exploração das ma<strong>de</strong>iras por sua vez era no começo feita<br />

no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> se retirarem unicamente as <strong>de</strong> maior valor (" acapú " e " páo amareilo<br />

"), o que pouco alterava o aspecto da matta virgem, para ser, freqüentemente annos<br />

<strong>de</strong>pois, seguida pela extracção das ma<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> construcção <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m e da<br />

lenha, e ainda pelo fabrico <strong>do</strong> carvão, transforman<strong>do</strong>-se aos poucos a matta em capoeira.<br />

Conservam-se no emtanto intactas, nos arre<strong>do</strong>res immediatos <strong>de</strong> Belém logo<br />

ac sul <strong>do</strong> começo da linha da E. <strong>de</strong> F. <strong>de</strong> Bragança, as mattas <strong>do</strong> Utinga pertencentes<br />

ao Esta<strong>do</strong> e que consistem em formações secundarias muito velhas com trechos <strong>de</strong><br />

matta virgem, região <strong>de</strong> nascentes <strong>do</strong>s riachos (affluentes <strong>do</strong> Guamá) que abastecem<br />

a cida<strong>de</strong> com água potável. Particularmente bella e magestosa é a matta virgem no<br />

limite oriental <strong>do</strong> Utinga, para além <strong>do</strong> riacho Catú, on<strong>de</strong> a dita posse estadual confina<br />

com a da Provi<strong>de</strong>ncia (pertencente ao arcebispa<strong>do</strong>) e com os terrenos <strong>do</strong> Deposito<br />

Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pólvora <strong>do</strong> Aura. Do resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> varias excursões ao Utinga e arre<strong>do</strong>res,<br />

n'esse tempo, menciono a colheita <strong>do</strong> material florifero <strong>de</strong> Saccoglottis excelsa D.<br />

(espécie <strong>de</strong> " achuá-rana", fam. humiriaceas) e Tachigalia myrmccophila D. (uma das<br />

espécies <strong>do</strong> " tachy preto", leguminosa cuja casca é utilizada nos cortumes), arvores<br />

magníficas que alcançam ou exce<strong>de</strong>m 50 m. <strong>de</strong> altura; d'um novo gênero <strong>de</strong> sapotaceas:<br />

Sycygiopsis oppositifolia D.; da Ccdrela o<strong>do</strong>rata L., o " cedro" da melhor qua-<br />

1 ida<strong>de</strong> que os trata<strong>do</strong>s <strong>de</strong> botânica só mencionavam para a flora das Antilhas e para<br />

a parte norte da America meridional, quan<strong>do</strong> em geral o " cedro vermelho " da Amazônia<br />

pertence a essa espécie. Outras excursões foram feitas ás mattas periodicamente<br />

inundadas <strong>do</strong> logar Murutucú á margem <strong>do</strong> Guamá (menciono as arvores ás vezes<br />

enormes <strong>de</strong> Stcrculia elata D., —" tacacá" no baixo Amazonas —, e a Hymenaca<br />

oblongifolia Hub., o "jutahy" <strong>do</strong>s alluviões argillosos), ao longto da Estrada <strong>do</strong><br />

Pinheiro e pela E. <strong>de</strong> F. <strong>de</strong> Bragança ás mattas da Quinta Carmita e <strong>de</strong> Santa Izabel.<br />

Nestas ultimas colhi bom material <strong>de</strong> arvores floriferas e adquiri mudas novas das<br />

duas lauraceas "folha <strong>de</strong> ouro" {Acrodiclidium aureum Hub.) e "folha <strong>de</strong> prata"<br />

(Ocotca argyrophylla D.), com forte brilho metallico no la<strong>do</strong> inferior das folhas as<br />

quaes são, em Belém, empregadas em vários ornamentos; estas duas arvores são,<br />

além da belleza, interessantes pela área geographica muito restricta em que se encontram<br />

e que não passa da primeira meta<strong>de</strong> da E. <strong>de</strong> F. <strong>de</strong> Bragança.<br />

15-9: Segui para o <strong>Rio</strong> Tapajoz, embarcan<strong>do</strong> <strong>do</strong>is dias <strong>de</strong>pois, no porto <strong>de</strong><br />

Gurupá, <strong>do</strong>is " mateiros" que já em 1919 tinham trabalha<strong>do</strong> ao meu serviço, sen<strong>do</strong><br />

um d'elles habilissimo em trepar por meio <strong>de</strong> cipós em arvores altas. Cheguei em<br />

21 a Itaituba, "cida<strong>de</strong>" hoje (<strong>de</strong>pois da <strong>de</strong>cadência <strong>do</strong> commercio da borracha) só<br />

no nome, mas se<strong>de</strong> duma comarca e d'um municipio que contam entre os mais extensos<br />

<strong>do</strong> Pará e cujos limites meridionaes são os <strong>do</strong> mesmo Esta<strong>do</strong> com Matto<br />

Grosso. Consegui no dia seguinte encontrar uma canoa directa ao porta <strong>de</strong> Goyana<br />

e que <strong>de</strong>via ir a vela aproveitan<strong>do</strong> o " vento geral" (que sopra nesse rio <strong>de</strong> baixo<br />

para cima), costumeiro <strong>do</strong> verão mas cuja ausência na oceasião nos obrigou a viajar<br />

a remo fazen<strong>do</strong>-nos gastar o dia e meta<strong>de</strong> da noite.

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