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1 - Rodriguésia - Jardim Botânico do Rio de Janeiro

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— 55 —<br />

O pessoal das fazendas <strong>de</strong> ga<strong>do</strong> vive em gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> aves aquáticas e peixes<br />

e bebe a água ligeiramente salobra <strong>de</strong> cacimbas porque a <strong>do</strong> rio é parda e <strong>de</strong> cheiro<br />

podre. Regressei á tardinha para São João e na manhã seguinte para Anajaz<br />

<strong>do</strong> Brabo.<br />

25 a 30-8: Desci n'um vapor para a Quinta <strong>do</strong> Arama, <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> <strong>do</strong> sr.<br />

Fernan<strong>de</strong>s Alves, continuan<strong>do</strong> a viagem aos poucos, em canoa, em companhia d'este<br />

estimavel amigo com quem tornei também a visitar as bellas florestas das ilhas altas<br />

<strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Marata-uá (veja-se o meu ultimo relatório, novembro e <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1922) .<br />

Chega<strong>do</strong> a Antônio Lemos, no <strong>Rio</strong> Tajapurú, on<strong>de</strong> está actualmente installada a<br />

gran<strong>de</strong> serraria da firma Manoel Pedro & Cia., não encontrei noticias <strong>de</strong> vapores<br />

espera<strong>do</strong>s <strong>de</strong> passagem para Belém; não queren<strong>do</strong> per<strong>de</strong>r tempo, aproveitei a viagem<br />

d'um pontão para conducção <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>iras que ia ao <strong>Rio</strong> Mojú e me <strong>de</strong>ixou no Furo<br />

<strong>do</strong> Arrozal on<strong>de</strong> passei para uma canoa com <strong>de</strong>stino á capital. Cheguei em 1-9.<br />

6-9: Florescem, nas mattas <strong>do</strong>s arre<strong>do</strong>res da capital, as enormes arvores <strong>de</strong><br />

"casca <strong>do</strong>ce" ou " páo <strong>do</strong>ce" (Glycoxylon praealtum D., fam. sapotaceas) que nos<br />

annos normaes se encontram floriferas em janeiro. O tempo secco <strong>do</strong> ultimo trimestre<br />

<strong>de</strong> 1925, bruscamente segui<strong>do</strong> pela pluviosida<strong>de</strong> excessiva <strong>do</strong>s primeiros mezes<br />

<strong>de</strong> 1926, atrazou a floração <strong>de</strong>stas como <strong>de</strong> muitas outras arvores !<br />

9 a 27-9: Viagem a Óbi<strong>do</strong>s e em seguida a Santa Julia, o ultimo porto paraense<br />

da margem direita <strong>do</strong> Amazonas, já pouco distante da Serra <strong>de</strong> Parintins. Tive os<br />

trabalhos embaraça<strong>do</strong>s pela secca acompanhada <strong>de</strong> calor formidável no baixo Amazonas;<br />

por toda parte havia fogo nos campos e nas mattas, e tal era a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> da<br />

fumaça que os vapores, <strong>de</strong> Santarém para cima, não podiam navegar <strong>de</strong> noite.<br />

28-9 a 26-11: Trabalhos em Belém e numerosas excursões nos arre<strong>do</strong>res, em<br />

cujas mattas ainda encontrei arvores não ou incompletamente estudadas, agora em<br />

flor ou com frutos ! Menciono a magnifica leguminosa Vatavrea paraensis D., a<br />

quiinacea Lacumria pauciflora D., e varias lecythidaceas. — Realizei também n'esse<br />

tempo (20 a 25-10) uma nova excursão a Bragança, sem encontrar, ainda d'essa<br />

vez, as flores das três arvores em observação <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1923. Na volta passei 2 dias<br />

na antiga Estação Experimental Augusto Montenegro (perto da povoação <strong>de</strong> Peixeboi,<br />

em cerca <strong>de</strong> <strong>do</strong>is terços da distancia entre Belém e Bragança), on<strong>de</strong>, d'um<br />

serviço que custara mais <strong>de</strong> mil contos ao governo estadual, só ficou um vasto<br />

campo <strong>de</strong> " capim gengibre". A extincção d'esse capimi está causan<strong>do</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

difficulda<strong>de</strong>s ao Serviço <strong>do</strong> Algodão <strong>do</strong> Ministério da Agricultura actualmente<br />

installa<strong>do</strong> na dita Estação, <strong>de</strong> sorte que os encarrega<strong>do</strong>s da mesma reduzem as duas<br />

áreas da antiga reserva <strong>de</strong> matta, ainda em parte conservadas mas já ameaçadas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sapparecimento ! A arvore mais alta d'esta matta e a mais bella, quan<strong>do</strong> em flor,<br />

é o "páo d'arco <strong>de</strong> flor roxa" (Teü&ma vxolacea Hub., fam. bignoniaceas). Das<br />

varias espécies raras e interessantes <strong>de</strong> que o sr. Ro<strong>do</strong>lpho Siqueira, ha uns 20<br />

annos, reuniu uma excellente collecção <strong>de</strong> amostras para o herbário <strong>do</strong> Museu Paraense,<br />

pu<strong>de</strong> ainda encontrar o "urucú" arbóreo da matta (Bixa arbórea Hub.),<br />

arvore <strong>de</strong> 20 a 30 m. com sementes azues; esta espécie é notável por sua dispersão<br />

geographica, pois só foi encontrada em 3 pontos enormemente distantes um <strong>do</strong> outro;<br />

além <strong>do</strong> presente, em Juruty Velho nos confins occi<strong>de</strong>ntaes <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pará, e<br />

perto da boca <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Napo no Amazonas peruano ! Convém notar que a arvore<br />

é das mais fáceis <strong>de</strong> se conhecer na matta e é freqüente nos ditos 3 pontos, e não<br />

teria passa<strong>do</strong> <strong>de</strong>sappercebida se existisse, por exemplo, em Belém ou em Bragança,<br />

ou nos pontos mais freqüenta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> baixo Amazonas como Santarém e Óbi<strong>do</strong>s<br />

(Huber a tinha como "um <strong>do</strong>s en<strong>de</strong>mismos mais interessantes das mattas da Estrada<br />

<strong>de</strong> Ferro <strong>de</strong> Bragança"). Consegui trazer, para o <strong>Rio</strong>, mudas boas d'essa<br />

arvore que constitue a segunda espécie d'um gênero botânico ti<strong>do</strong> como monotypico.

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