1 - Rodriguésia - Jardim Botânico do Rio de Janeiro
1 - Rodriguésia - Jardim Botânico do Rio de Janeiro
1 - Rodriguésia - Jardim Botânico do Rio de Janeiro
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
— 35 —<br />
syndicato belga <strong>de</strong> exploração <strong>de</strong> seringaes e em cujos arre<strong>do</strong>res o extincto dr. J. Huber<br />
realizou no anno 1900 pesquizas botânicas <strong>de</strong> importância.<br />
28-11: Continuei a <strong>de</strong>scida pelo rio Arama até a " Quinta" <strong>do</strong> sr. Fernan<strong>de</strong>s<br />
Alves, commerciante em ma<strong>de</strong>iras, on<strong>de</strong> no meio das inhospitas florestas inundadas<br />
vim encontrar o conforto d'uma bôa casa e <strong>de</strong> uma excellente alimentação. Explorei<br />
nos <strong>do</strong>is seguintes dias a matta vizinha, só em parte inundavel ou pantanosa,<br />
<strong>de</strong> aspecto opulento mas com poucas arvores em flor ou com fructos; notei aliás<br />
sempre nas regiões extremamente chuvosas que as arvores floresciam mais escassamente<br />
que em logares on<strong>de</strong> ha uma estação secca bem pronunciada (Bragança,<br />
Tocantins, baixo Amazonas). Encontrei arvores da " muirapiranga" <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />
inferior (Brosimum angitstifolium Ducke), cuja ma<strong>de</strong>ira é d'urn par<strong>do</strong>, avermelha<strong>do</strong><br />
claro e muito menos bonita que a <strong>do</strong> B. paraense Hub.. Na margem inundavel<br />
vi um pé <strong>de</strong> "bacabão" (Oenocarpus, n. sp?), palmeira com fructos como os da<br />
"bacaba" commum (Oe. disticha Mart. e Oe. bacaba Mart.) porém maiores, e quanto<br />
ao porte, parecida com o "patauá" (Oe. bataua Mart.); este é freqüente no Arama<br />
como no Anajaz que exportam bastante quantida<strong>de</strong> <strong>do</strong> seu azeite, suecedaneo <strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
oliveira.<br />
30-11: O sr. Alves teve a amabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> me levar (em canoa) aos rios Limão<br />
e Maratauá em cuja vizinhança ha ilhas que nunca alagam e cujas florestas são ricas<br />
em páo amarello" (Euxylophora paracnsis Hub.). Essa magnífica arvore que<br />
fornece a mais bella das ma<strong>de</strong>iras amarellas conhecidas só existe nos arre<strong>do</strong>res <strong>de</strong><br />
Belém e na E. <strong>de</strong> F. <strong>de</strong> Bragança, nas regiões <strong>do</strong>s affluentes meridionaes <strong>do</strong> estuário<br />
paraense e n'alguns pontos das ilhas <strong>de</strong> Breves; ella reúne á utilida<strong>de</strong> da ma<strong>de</strong>ira a<br />
belleza da folhagem escura e muito lustrosa e o perfume das flores que lembram no<br />
aspecto as da laranjeira mas nascem em amplas paniculas erectas. O " páo amarello "<br />
<strong>do</strong> Pará recebe no commercio <strong>de</strong> exportação o nome <strong>de</strong> " páo setim".<br />
1-12: Passei a manhã sob chuva continua nas mattas <strong>do</strong> Maratauá; á tar<strong>de</strong><br />
segui na canoa <strong>do</strong> sr. Alves atravez <strong>de</strong> vários " furos " para a parte inferior clb <strong>Rio</strong><br />
Arama, até a boca <strong>do</strong> Mapuá on<strong>de</strong> esse commerciante possue uma segunda casa.<br />
Continuan<strong>do</strong> a viagem pela madrugada e durante o dia inteiro, alcancei Breves á meianoite<br />
<strong>do</strong> dia 2. O dia seguinte empreguei-o na preparação e seccagem das <strong>do</strong>llecções<br />
na casa <strong>do</strong> sr. inten<strong>de</strong>nte.<br />
4-12: Excursão pela matta já mencionada a leste da cida<strong>de</strong>zinha, até uma campina<br />
arenosa e em parte humosa que dizem não muito afastada <strong>do</strong> rio Arapijó. Na<br />
campina ha muitas eriocaulaceas; na matta <strong>do</strong>s arre<strong>do</strong>res notei a presença <strong>de</strong> arvores<br />
muito gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong> "bacury" (Platonia insignis Mart.) cujos fructos, apezar da distancia,<br />
os mora<strong>do</strong>res da cida<strong>de</strong> vêm buscar, e <strong>de</strong>scobri o Macrolobium brevensc D.<br />
(fará. leguminosas), uma das varias espécies <strong>do</strong> "ipê" paraense que não se confun<strong>de</strong><br />
com o "ipê" <strong>do</strong> sul (Tecoma, fam. bignoniaceas).<br />
5-12-1922: Segui para Belém on<strong>de</strong> <strong>de</strong>sembarquei a 7.<br />
8-12-1922 a 5-1-1923: Continuei as comparações <strong>de</strong> plantas classificadas por<br />
Huber e outros botânicos, no herbário <strong>do</strong> Museu. Realizei excursões atos arre<strong>do</strong>res<br />
da capital (Utinga, Estrada <strong>do</strong> Pinheiro, Quinta Carmita. Ilha das Onças, Santa<br />
Izabel da E. <strong>de</strong> F. <strong>de</strong> Bragança), fazen<strong>do</strong> também novas plantações <strong>de</strong> sementes e<br />
Tildas. No Utinga encontrei em flor as magníficas arvores <strong>de</strong> " páo <strong>do</strong>ce " ou " casca<br />
<strong>do</strong>ce " da espécie Glycoxylon praealtum D., a maior sapotacea conhecida na Amazônia,<br />
mais notável pelas enormes " sapopemas" na base <strong>do</strong> altíssimo tronco cylindrico que<br />
Pelo sabor <strong>do</strong>ce (além <strong>de</strong> adstringente) encontra<strong>do</strong> em todas as espécies <strong>do</strong> gênero<br />
Glycoxylon e ainda em outros gêneros <strong>de</strong> sapotaceas.<br />
6-1-1923: Parti, pela E. <strong>de</strong> Ferro, para Bragança.