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1 - Rodriguésia - Jardim Botânico do Rio de Janeiro

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— 62 —<br />

seccos. Em certas mattinhas colhi o Symplocos guianensis que até agora só tinha<br />

encontra<strong>do</strong> nos Campos <strong>do</strong> Ariramba, na parte norte <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pará. Na matta<br />

<strong>de</strong> alguns logarcs pedregosos, perto <strong>de</strong> campinas, apparece a Poupartia amazônica<br />

D. (fam. anacardiaceas) que representa na America um gênero botânico cujas espécies<br />

restantes habitam as Mascarenhas; a arvore imita, no aspecto da casca e das<br />

folhas, o gênero Cedrcla, mas produz fructos comestíveis (embora áci<strong>do</strong>s) que se<br />

ven<strong>de</strong>m na cida<strong>de</strong> como " fructa <strong>de</strong> cedro". Esta espécie foi até agora encontrada<br />

em três áreas muito afastadas entre si: 1.°, na região <strong>do</strong>s campos <strong>de</strong> Cataqui-iamain<br />

no noroeste <strong>de</strong> Matto Grosso (coll. Kuhlmann) ; 2.°, ao norte <strong>do</strong> baixo Amazonas,<br />

<strong>do</strong> Lago Salga<strong>do</strong> (Trombetas) ao <strong>Rio</strong> Branco <strong>de</strong> Óbi<strong>do</strong>s; 3.°, em vários pontos<br />

<strong>do</strong> estuário amazônico, quer na foz <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Amazonas (Ilha <strong>do</strong> Pará e outras ilhas<br />

nos municípios <strong>de</strong> Macapá e Mazagão) quer na <strong>do</strong> Tocantins (além da Vigia ainda<br />

na Ilha <strong>do</strong> Goiabal, município <strong>de</strong> Muaná). Os nomes populares são " taperebáassú",<br />

"cedro", ou (em Muaná) "iacaiacá". Introduzi no <strong>Jardim</strong> <strong>Botânico</strong> mudas<br />

bem <strong>de</strong>senvolvidas, provenientes <strong>de</strong> fructos adquiri<strong>do</strong>s na Vigia.<br />

1-7: Regressei a Belém on<strong>de</strong> permaneci até 19, tratan<strong>do</strong> sobretu<strong>do</strong> da acquisição<br />

<strong>de</strong> plantas vivas. Menciono especialmente o "puchury" (Acrodiclidium puchury<br />

maior Mez, fam. lauraceas) cujas sementes aromaticas têm emprego nas pharmacias,<br />

e o "uchy" (Saccoglottis uchi Hub., fam. humiriaceas), com fructos comestíveis.<br />

20-7: Embarquei para Óbi<strong>do</strong>s on<strong>de</strong> já encontrei o verão bem accentua<strong>do</strong> mas<br />

muitas plantas em flor. Menciono a Lacunaria miitior (quiinacea) e a Anechites<br />

amazônica Markgraf, cipó da familia das apocynaceas colhi<strong>do</strong> por Martius ha mais<br />

<strong>de</strong> um século em esta<strong>do</strong> fructifero mas cujas flores tinham fica<strong>do</strong> ignoradas; <strong>de</strong><br />

plantas vivas, uma rubiacea muito ornamental com bracteas escarlates (Warscezviczia<br />

coccinea Klotzsch) <strong>do</strong> aspecto da Euphorbia (Poinsettia) pulcherrima mas sem o<br />

inconveniente <strong>do</strong> látex.<br />

25 a 26-7: Para Juruty Velho (viagem em vapor e em canoa) e, no dia seguinte,<br />

em lancha lago acima até os portos <strong>de</strong> embarque <strong>do</strong> " páo rosa".<br />

28 a 29-7: Excursões na esplendida matta que fornece o "páo rosa" cujo corte<br />

já recuou para o longínquo "centro", pois as arvores que se achavam mais perto<br />

já foram todas aproveitadas. Encontrei d'essa vez um numero maior <strong>de</strong> arvores<br />

em flor que por occasião das minhas duas visitas prece<strong>de</strong>ntes, mas tive o serviço<br />

difficulta<strong>do</strong> por repetidas e formidáveis trovoadas. Entre as amostras floriferas<br />

que colhi sobresahem as da arvore masculina <strong>do</strong> " mururé" ou " mercúrio vegetal"<br />

(Brosinwpsis acutifolia) que ha annos procurava conhecer, e da "sorva gran<strong>de</strong>"<br />

(Couma macrocarpa Barb. Rodr.) ; das mudas vivas merecem <strong>de</strong>staque as da já<br />

por varias vezes citada Sohnreyia excelsa (rutacea com aspecto <strong>de</strong> palmeira).<br />

Obtive também os fructos maduros da Mouriria trunciflora D. (fam. melastomaceas)<br />

que são <strong>do</strong> tamanho e formato d'um pequeno abacate e talvez comestíveis;<br />

das sementes obtive mudas.<br />

30-7 a 7-8: Viagem <strong>de</strong> regresso para Belém, com uma interrupção em Óbi<strong>do</strong>s<br />

on<strong>de</strong> mu<strong>de</strong>i <strong>de</strong> vapor.<br />

8 a 31-8: Fui obriga<strong>do</strong> a permanecer na capital para mandar rasgar um tumor<br />

f istuloso produzi<strong>do</strong> por uma larva <strong>de</strong> " berne " (na Amazônia: " ôra " — Dermatobia<br />

cyaniventris) adquirida em abril em Soure e que tinha morri<strong>do</strong> sem que a sua presença<br />

fosse suspeitada pelos médicos consulta<strong>do</strong>s ! — Man<strong>de</strong>i em meia<strong>do</strong>s <strong>do</strong> mez o<br />

trabalha<strong>do</strong>r Cecilio Pereira a Bragança para inspeccionar a terceira (e ultima) das<br />

arvores em observação (Lacunaria Jenmani (Oliver) D., fam. quiinaceas) que<br />

d'essa vez <strong>de</strong> facto tinha flores. Merece registro o tino d'esse rapaz que sem nunca<br />

ter i<strong>do</strong> áquella cida<strong>de</strong> acertou com a arvore na matta, só orienta<strong>do</strong> pelos da<strong>do</strong>s por<br />

mim forneci<strong>do</strong>s ! No dia 24 chegou a Belém o nosso servente Pedro Occhioni cuja

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