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como você produzia os indivíduos e as formas sociais de produção.<br />

E esse dispositivo poderia ser chamado genericamente de<br />

“dispositivo disciplinar”. Ele se baseava naquilo que Foucault<br />

vai chamar de uma “anatomopolítica”: certas condições sistêmicas<br />

geravam um corpo dócil, um corpo que não agiria sem ser<br />

solicitado e que só devia agir quando solicitado. Então esse corpo<br />

vai ser adestrado e vigiado dessa maneira na casa, na escola, no<br />

quartel e, finalmente, na fábrica.<br />

A disciplina escolar, a disciplina militar, a disciplina penal,<br />

a disciplina nas fábricas, a disciplina operária, tudo<br />

isso é uma determinada maneira de administrar a multiplicidade,<br />

de organizá-la, de estabelecer seus pontos de<br />

implantação (Foucault, 2008, p. 16).<br />

Mas a vigilância e a sanção para funcionarem dependiam<br />

de algo essencial: o exame. E os exames tinham que ser constantes,<br />

porque sem o exame não se podia fazer a vigilância chegar à<br />

punição, e a punição remeter à vigilância. Então se tinha que ter<br />

exames regulares e constantes.<br />

Quando nos anos 60 a disciplina cai por terra, arruinada por<br />

inúmeras lutas sociais e a golpes de sexo, drogas e rock and roll,<br />

o que nela se esgota é a impossibilidade do exame. A queda do<br />

exame torna a vigilância e a punição inexequíveis. O exame cai<br />

através dos movimentos de drop out: o abandono dos estudantes<br />

das escolas, os movimentos de abandono da casa, os movimentos<br />

de abandono do trabalho. Esse movimento não acontece só no<br />

seio dos grupos proletários dominados, mas também no seio dos<br />

grupos dirigentes. É uma cena comum desse tempo: o filho do<br />

patrão abraçar o filho do empregado, chutar a fábrica para o alto<br />

e irem os dois “queimar um fumo” em Katmandu ou tomar um<br />

LSD em Marrocos. Nenhum deles quer mais trabalhar na fábrica.<br />

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