Sergio Amadeu da Silveira - Cidadania e Redes Digitais
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c i d a d a n i a e r e d e s d i g i t a i s<br />
“emissor-receptor” e, pelo outro, no controle estatal direto ou indireto, de to<strong>da</strong> maneira<br />
centralizado, <strong>da</strong>s concessões e do financiamento.<br />
A mídia oligopolista fala de “liber<strong>da</strong>de” e “opinião pública”, mas está assusta<strong>da</strong><br />
diante <strong>da</strong> sua crescente incapaci<strong>da</strong>de de continuar formando e disciplinando as opiniões.<br />
Ao mesmo tempo, ela fala de mercado e eficiência, mas só pensa em voltar a<br />
controlar o Estado do qual ela depende inteiramente.<br />
A dimensão estatal e antidemocrática <strong>da</strong> mídia oligopolista não é uma questão<br />
de estatuto de sua proprie<strong>da</strong>de, mas <strong>da</strong> relação de subordinação <strong>da</strong> esfera <strong>da</strong> comunicação<br />
por parte <strong>da</strong> produção. A mídia era, no modelo fordista <strong>da</strong>s economias<br />
centrais e nacional-desenvolvimentista <strong>da</strong>s economias periféricas, um aparelho de<br />
reprodução e legitimação <strong>da</strong>s relações sociais de produção.<br />
Ela tinha um papel preciso: legitimar o projeto industrialista e as formas de<br />
disciplina e exploração que lhe estavam atrela<strong>da</strong>s. Essa mídia funcionava e ain<strong>da</strong><br />
funciona de maneira hierarquiza<strong>da</strong>, produzindo hegemonia a partir de um centro.<br />
Mesmo quando ela veiculava um discurso crítico, esse não deixava de ser estruturalmente<br />
antidemocrático. A mídia contra-hegemônica é, nesse sentido, especular<br />
à hegemônica.<br />
Os direitos que estavam em disputa eram materialmente aqueles produzidos<br />
dentro e a partir <strong>da</strong> relação e do conflito entre capital e trabalho, quer dizer, na<br />
relação salarial. Não se falava de Direitos Humanos, mas de direitos do trabalho: a<br />
ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia tinha como cédula de reconhecimento não a “carteira de identi<strong>da</strong>de” mas<br />
a “carteira de trabalho”, sobretudo quando ela era assina<strong>da</strong>. Nesse sentido, o direito<br />
coincidia com o emprego, e a luta por direitos acabava sendo uma luta pelo pleno<br />
emprego e pelas taxas de crescimento que o proporcionariam.<br />
O capitalismo contemporâneo implica um duplo deslocamento desse modelo.<br />
Por um lado, o trabalho se descola do emprego e isso implica em sua crescente fragmentação,<br />
bem como na redução dos direitos do trabalho, com o enfraquecimento<br />
<strong>da</strong>s organizações sindicais, o desmonte <strong>da</strong> proteção social, a amplificação <strong>da</strong> informali<strong>da</strong>de<br />
e <strong>da</strong> precarie<strong>da</strong>de do trabalho.<br />
Por outro, o único modo que o capitalismo tem de organizar a produção e<br />
continuar fragmentando a relação salarial — quer dizer, mobilizando o trabalho<br />
diretamente nas redes de terceirização e terciarização — é recorrer, de maneira imediatamente<br />
produtiva, às novas tecnologias de informação e comunicação, de modo<br />
a estruturar a produção dentro <strong>da</strong> própria circulação.<br />
De repente, a comunicação encontra uma nova centrali<strong>da</strong>de: não desempenha<br />
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