30.11.2012 Views

Sergio Amadeu da Silveira - Cidadania e Redes Digitais

Sergio Amadeu da Silveira - Cidadania e Redes Digitais

Sergio Amadeu da Silveira - Cidadania e Redes Digitais

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

c i d a d a n i a e r e d e s d i g i t a i s<br />

“emissor-receptor” e, pelo outro, no controle estatal direto ou indireto, de to<strong>da</strong> maneira<br />

centralizado, <strong>da</strong>s concessões e do financiamento.<br />

A mídia oligopolista fala de “liber<strong>da</strong>de” e “opinião pública”, mas está assusta<strong>da</strong><br />

diante <strong>da</strong> sua crescente incapaci<strong>da</strong>de de continuar formando e disciplinando as opiniões.<br />

Ao mesmo tempo, ela fala de mercado e eficiência, mas só pensa em voltar a<br />

controlar o Estado do qual ela depende inteiramente.<br />

A dimensão estatal e antidemocrática <strong>da</strong> mídia oligopolista não é uma questão<br />

de estatuto de sua proprie<strong>da</strong>de, mas <strong>da</strong> relação de subordinação <strong>da</strong> esfera <strong>da</strong> comunicação<br />

por parte <strong>da</strong> produção. A mídia era, no modelo fordista <strong>da</strong>s economias<br />

centrais e nacional-desenvolvimentista <strong>da</strong>s economias periféricas, um aparelho de<br />

reprodução e legitimação <strong>da</strong>s relações sociais de produção.<br />

Ela tinha um papel preciso: legitimar o projeto industrialista e as formas de<br />

disciplina e exploração que lhe estavam atrela<strong>da</strong>s. Essa mídia funcionava e ain<strong>da</strong><br />

funciona de maneira hierarquiza<strong>da</strong>, produzindo hegemonia a partir de um centro.<br />

Mesmo quando ela veiculava um discurso crítico, esse não deixava de ser estruturalmente<br />

antidemocrático. A mídia contra-hegemônica é, nesse sentido, especular<br />

à hegemônica.<br />

Os direitos que estavam em disputa eram materialmente aqueles produzidos<br />

dentro e a partir <strong>da</strong> relação e do conflito entre capital e trabalho, quer dizer, na<br />

relação salarial. Não se falava de Direitos Humanos, mas de direitos do trabalho: a<br />

ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia tinha como cédula de reconhecimento não a “carteira de identi<strong>da</strong>de” mas<br />

a “carteira de trabalho”, sobretudo quando ela era assina<strong>da</strong>. Nesse sentido, o direito<br />

coincidia com o emprego, e a luta por direitos acabava sendo uma luta pelo pleno<br />

emprego e pelas taxas de crescimento que o proporcionariam.<br />

O capitalismo contemporâneo implica um duplo deslocamento desse modelo.<br />

Por um lado, o trabalho se descola do emprego e isso implica em sua crescente fragmentação,<br />

bem como na redução dos direitos do trabalho, com o enfraquecimento<br />

<strong>da</strong>s organizações sindicais, o desmonte <strong>da</strong> proteção social, a amplificação <strong>da</strong> informali<strong>da</strong>de<br />

e <strong>da</strong> precarie<strong>da</strong>de do trabalho.<br />

Por outro, o único modo que o capitalismo tem de organizar a produção e<br />

continuar fragmentando a relação salarial — quer dizer, mobilizando o trabalho<br />

diretamente nas redes de terceirização e terciarização — é recorrer, de maneira imediatamente<br />

produtiva, às novas tecnologias de informação e comunicação, de modo<br />

a estruturar a produção dentro <strong>da</strong> própria circulação.<br />

De repente, a comunicação encontra uma nova centrali<strong>da</strong>de: não desempenha<br />

145<br />

port

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!