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Sergio Amadeu da Silveira - Cidadania e Redes Digitais

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c i d a d a n i a e r e d e s d i g i t a i s<br />

mutuamente por relações simbióticas de reforço mútuo ou dependência mútua. Podemos<br />

distinguir as relações entre positivas — basea<strong>da</strong>s na colaboração e orienta<strong>da</strong>s<br />

ao benefício mútuo — ou negativas — parasitismo ou depre<strong>da</strong>ção. Essas relações<br />

têm um papel fun<strong>da</strong>mental na criação de novas espécies digitais que estão espalhando<br />

o centro do poder, levando o sistema de volta ao ci<strong>da</strong>dão. Para que se leve adiante<br />

essa dinâmica positiva, um ecossistema digital deve desenvolver uma infraestrutura<br />

orienta<strong>da</strong> a serviços que sejam recursos públicos. Nesse sentido, define-se um ecossistema<br />

digital como uma estrutura digital auto-organizativa orienta<strong>da</strong> à criação de um<br />

ambiente digital distribuído em rede. Está caracterizado por uma série de elementos:<br />

conhecimento compartilhado, tecnologias, padrões e protocolos abertos, cooperação<br />

solidária e novos modelos de negócios.<br />

A implementação desse ambiente digital tem a estrutura de um procomun, que<br />

Benkler define como espaços institucionais em que se podem exercer certas liber<strong>da</strong>des<br />

com respeito às restrições impostas pelos mercados. Essas restrições aparecem,<br />

frequentemente, na forma de relações de proprie<strong>da</strong>de, que definem quem tem controle<br />

sobre quais recursos, e quais são as relações entre agentes em função <strong>da</strong> posse<br />

ou carência de um bem ou um recurso determinado. Isso não significa que os bens<br />

comuns sejam espaços anárquicos, mas que os agentes podem atuar neles com uma<br />

lógica diferente <strong>da</strong> do mercado, evitando os paradoxos que se produzem na Teoria<br />

dos Jogos quando um agente busca a maximização <strong>da</strong> utili<strong>da</strong>de espera<strong>da</strong> de suas<br />

decisões. Em outras palavras, é o que acontece quando se atua em ambientes estratégicos,<br />

em que vários agentes atuam de forma que as decisões de um dependem <strong>da</strong>s<br />

decisões dos demais, seguindo as regras dos ambientes paramétricos, aqueles em que<br />

o mundo e o conjunto de possibili<strong>da</strong>des já <strong>da</strong><strong>da</strong>s não são modificáveis pelas decisões<br />

de outros sujeitos 3 . Os bens comuns podem ser usados através de normas sociais que<br />

3. Um exemplo baseado no modelo <strong>da</strong> tragédia dos bens comuns (Hardin, 1968) pode ser esclarecedor.<br />

É uma comuni<strong>da</strong>de pecuarista onde os pastos e a água são comuns, em que ca<strong>da</strong> proprietário desejará<br />

incrementar seu benefício pessoal aumentando o número de cabeças de gado, maximizando seus<br />

ganhos e assim seu lucro. Mas se todos os demais fizerem o mesmo, os bens comuns (pastos e água)<br />

se esgotarão e todos os pecuaristas <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de cairão na miséria. Sem estar de acordo com as conclusões<br />

que Hardin extrai desse experimento mental, é importante assinalar que a soma de benefícios<br />

individuais não conduz de forma automática a um benefício <strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de. Neste caso, o seguimento<br />

<strong>da</strong>s regras de uma racionali<strong>da</strong>de individual (paramétrica) converte essa estratégia em uma ação absolutamente<br />

ilógica e contraproducente do ponto de vista coletivo (estratégico). A partir dessa última<br />

perspectiva, consegue-se um benefício maior quando se coopera e se restringe o benefício pessoal.<br />

Esse problema demonstra o fracasso <strong>da</strong>s estratégias egoístas frente às estratégias cooperativas sob certas<br />

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