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Sergio Amadeu da Silveira - Cidadania e Redes Digitais

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c i d a d a n i a e r e d e s d i g i t a i s<br />

Um amigo indiano, após assistir a uma palestra minha sobre o padrão<br />

aberto de documentos ODF, me contou uma história interessante sobre<br />

como um padrão já foi usado para limitar a disseminação de conhecimento<br />

em seu país.<br />

A disseminação irrestrita de informações e de conhecimentos na<br />

Índia representava uma forte ameaça ao sistema de castas vigente por lá. Para que a<br />

informação pudesse se manter restrita a apenas uma parte <strong>da</strong> população, a solução<br />

encontra<strong>da</strong> foi a criação de um idioma — utilizado para a produção de livros no<br />

país — que só pudesse ser ensinado aos membros <strong>da</strong>s castas superiores. Assim, o<br />

sânscrito, idioma aprendido por poucos do país, foi utilizado para segregar a informação<br />

durante séculos.<br />

Os egípcios, diferentemente dos indianos, talvez não tivessem a necessi<strong>da</strong>de de<br />

restringir a informação a apenas alguns membros de sua socie<strong>da</strong>de, mas ain<strong>da</strong> assim<br />

desenvolveram uma forma peculiar de escrita, os hieróglifos. Durante séculos, documentaram<br />

a sua história, ciências e organização social em paredes de suas próprias<br />

construções e papiros. Por volta do ano 300 D.C. morreu o último egípcio que<br />

sabia ler os hieróglifos 1 , e por mais de 1.500 anos to<strong>da</strong> a humani<strong>da</strong>de se perguntou<br />

como viviam, como se organizavam, quais eram suas crenças e por que os egípicios<br />

gostavam tanto de fazer desenhos em paredes.<br />

O mistério egípcio só começou a ser desven<strong>da</strong>do quando o exército de Napoleão<br />

encontrou uma pedra entalha<strong>da</strong> na ci<strong>da</strong>de de Rosetta, próxima a Alexandria 2 .<br />

Na superfície dessa pedra, mundialmente conheci<strong>da</strong> como “Pedra de Rosetta”, está<br />

gravado um texto em três linguagens: hieróglifos, demótico e grego clássico. Através<br />

de engenharia reversa, depois de mais de duas déca<strong>da</strong>s de trabalho comparando o<br />

texto em grego com os hieróglifos, foi finalmente possível desven<strong>da</strong>r o significado<br />

dos hieróglifos egípcios. Só então foi possível resgatar informações que estiveram<br />

perdi<strong>da</strong>s por mais de 1.500 anos.<br />

Durante as últimas déca<strong>da</strong>s, utilizando editores de texto, planilhas e apresentações<br />

(partes de uma suíte de escritório), acabamos fazendo o mesmo que os egípcios fizeram<br />

com seus hieróglifos, ain<strong>da</strong> que muitos de nós jamais tenha percebido tal semelhança.<br />

1. De acordo com a Wikipédia (http://en.wikipedia.org/wiki/Egyptian_hieroglyphs), “a <strong>da</strong>ta de inscrição<br />

do hieroglifo mais tardio atualmente conhecido” é a do “Aniversário de Osíris, ano 110 [de<br />

Diocleciano], <strong>da</strong>ta<strong>da</strong> de 24 de agosto de 396”.<br />

2. http://en.wikipedia.org/wiki/Rosetta_Stone (acessado em 28/05/2010).<br />

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