Sergio Amadeu da Silveira - Cidadania e Redes Digitais
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c i d a d a n i a e r e d e s d i g i t a i s<br />
ram, de fato, os representantes experimentais de to<strong>da</strong> a população do mundo. Claro,<br />
havia severas restrições à extensão e à vali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de representação exercita<strong>da</strong><br />
nesse ensaio. Mas é possível dizer que pessoas de quase quarenta países foram<br />
convi<strong>da</strong><strong>da</strong>s a sair de suas vi<strong>da</strong>s cotidianas em família, de suas ocupações ordinárias,<br />
de suas classes sociais e associações nacionais para ponderar sobre o futuro comum<br />
<strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de diante de uma iminente crise climática.<br />
A reunião que observei em Boston foi um exemplo de engajamento ci<strong>da</strong>dão<br />
muito melhor do que o que acontece nos encontros <strong>da</strong> Câmara Municipal sobre<br />
saúde pública que eu frequentei nos EUA no verão anterior. O modelo de deliberação<br />
pública <strong>da</strong> World Wide Views é muito promissor e poderia ser usado em uma<br />
ampla varie<strong>da</strong>de de assuntos que dizem respeito à comuni<strong>da</strong>de global <strong>da</strong>s nações.<br />
Enquanto as opiniões <strong>da</strong>s pessoas são amplamente expressas e respeita<strong>da</strong>s, o formato<br />
<strong>da</strong> reunião não permite a gritaria desagradável, os desabafos e a arrogância que muitas<br />
vezes caracteriza os mal organizados encontros <strong>da</strong> Câmara Municipal.<br />
Eu tenho enfatizado a fronteira entre as ativi<strong>da</strong>des online e os encontros políticos<br />
e sociais face a face porque me parece que esse limite é ignorado em demasia<br />
por aqueles fascinados com os espaços e lugares digitais, que os consideram os locais<br />
principais do que há de novo e interessante na democracia contemporânea. Minhas<br />
observações me levam a acreditar que as pessoas que fazem política exclusivamente<br />
online e não saem para esbarrar nos ombros dos seus vizinhos acabam tendo um<br />
número muito limitado de experiências, muitas delas narcisísticas, <strong>da</strong> política democrática.<br />
Um estudo recente sobre o uso <strong>da</strong> Internet durante a campanha presidencial<br />
de 2008 no EUA mostrou que uma porcentagem crescente de ci<strong>da</strong>dãos acessa<br />
a Internet para ter notícias e opiniões sobre as eleições. O levantamento também<br />
revelou uma tendência, entre aqueles que usam a net, de visitarem apenas os sites<br />
que confirmam e reforçam os seus próprios pontos de vista. Embora esse padrão<br />
de reforço de opinião seja comum na política, ele certamente não cultiva as mais<br />
amplas possibili<strong>da</strong>des para o debate democrático e para os processos de toma<strong>da</strong> de<br />
decisão. Se os ci<strong>da</strong>dãos vão avançar para além <strong>da</strong>s manifestações do “eu com os meus<br />
interesses”, o espaço público deve ser experimentado geograficamente, fisicamente,<br />
face a face, assim como no ciberespaço. A possibili<strong>da</strong>de de misturar os dois espaços<br />
oferece oportuni<strong>da</strong>des especialmente férteis.<br />
As quali<strong>da</strong>des centrais de uma experiência pareci<strong>da</strong> foram reconheci<strong>da</strong>s na antiga<br />
Atenas, um lugar no qual um experimento de democracia direta foi realizado em<br />
um grau considerável. Os atenienses entendiam que aparecer em público e engajar-<br />
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