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Sergio Amadeu da Silveira - Cidadania e Redes Digitais

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c i d a d a n i a e r e d e s d i g i t a i s<br />

Apesar <strong>da</strong>s mazelas, é possível perceber nesse mesmo cenário injusto e muitas<br />

vezes destrutivo a invenção de novas formas criativas de produção de conteúdo, de<br />

colaboração entre pares e de liberação de determinados fluxos comunicacionais, que<br />

antes eram silenciados na chama<strong>da</strong> “esfera pública” domina<strong>da</strong> pelos meios de comunicação<br />

de massa e por uma cultura fun<strong>da</strong><strong>da</strong> no conceito de proprie<strong>da</strong>de (BENK-<br />

LER, 2006). Tome-se por esfera pública “a mídia ou os lugares socioespaciais de<br />

interação pública” e o “repositório cultural/informacional de ideias e projetos que<br />

alimentam o debate público” (CASTELLS, 2008).<br />

Vale notar como o desalento, de um lado, e a esperança, de outro, provocados<br />

pelas concentrações urbanas e seus novos sistemas técnicos trazem à memória o<br />

sentimento ambíguo de Walter Benjamin face à moderni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Paris do século<br />

XIX, uma Paris que se transformava pela força do capital e do consumo. Guiado em<br />

parte por sua leitura <strong>da</strong> obra do poeta francês Charles Baudelaire, Benjamin via na<br />

catástrofe <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de reminiscências de um passado que apontavam para uma<br />

possibili<strong>da</strong>de. Conforme a tese II <strong>da</strong>s Teses Sobre a Filosofia <strong>da</strong> História, havia para<br />

o autor, ou há ain<strong>da</strong>, uma força messiânica no presente que tem origem no passado<br />

(BENJAMIN, 1991b).<br />

Na força <strong>da</strong> poesia de Baudelaire, ou mesmo nas passagens parisienses, nas exposições<br />

universais, nos percursos do flâneur ou no ato de colecionar, Benjamin<br />

identificava uma nostalgia alimenta<strong>da</strong> por um desejo de redenção que se colocava<br />

em permanente relação dialética com a força destruidora provoca<strong>da</strong> pela moderni<strong>da</strong>de.<br />

Tal seria o caso ain<strong>da</strong> hoje? A esperança de formas mais justas de relação social,<br />

anuncia<strong>da</strong> pelos atuais e diversos movimentos colaborativos em rede, seria fruto de<br />

reminiscências que sobreviveram a uma determina<strong>da</strong> forma de capitalismo pre<strong>da</strong>tório,<br />

individualista e em nível global?<br />

A técnica, motivo de críticas severas ao longo <strong>da</strong> história, possui um caráter<br />

ambíguo e paradoxal — sobre a natureza dessa reflexão, nunca é demais lembrar<br />

que Benjamin era judeu e foi perseguido pelos nazistas, mestres no uso <strong>da</strong>s comunicações<br />

de massa. Se por um lado as novas técnicas forçavam o desenvolvimento de<br />

outra percepção do mundo, não raramente com um caráter alienante, por outro elas<br />

também liberavam aspectos novos <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de (BENJAMIN, 1975). A esperança<br />

reside justamente nessa ambigui<strong>da</strong>de.<br />

Na visão de Benjamin, a tarefa de articulação desses elementos oníricos, de esperança<br />

e felici<strong>da</strong>de, em meio às novi<strong>da</strong>des técnicas, seus produtos e suas catástrofes,<br />

seria função do pensamento dialético na quali<strong>da</strong>de de “órgão do despertar histórico”<br />

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