Sergio Amadeu da Silveira - Cidadania e Redes Digitais
Sergio Amadeu da Silveira - Cidadania e Redes Digitais
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c i d a d a n i a e r e d e s d i g i t a i s<br />
há na<strong>da</strong> mais enganoso do que tomar a rede como palco de ações para atores em<br />
situação de igual<strong>da</strong>de. As condições de participação dos chamados “nós” na rede<br />
são diferentes e se dão em veloci<strong>da</strong>des diferentes (SANTOS, 2002). Há processos<br />
evidentes de centralização do acesso ao conteúdo, via ferramentas de buscas ou links,<br />
que seguem a lógica de redes winners-take-all, ou “vencedores levam tudo” (HIN-<br />
DMAN, 2009). A premissa não pode ser apenas de participação direta por meio de<br />
votações, por exemplo, sobre pautas <strong>da</strong> Câmara, pois isso seria reduzir a participação<br />
política e democrática ao voto. Não é na<strong>da</strong> disso.<br />
Já o sonho utópico <strong>da</strong> democracia deliberativa online pode favorecer uma socie<strong>da</strong>de<br />
elitista, onde as minorias, mesmo que conecta<strong>da</strong>s, mais uma vez, saem prejudica<strong>da</strong>s<br />
(HINDMAN, 2008). Posto de outra forma, a liber<strong>da</strong>de de participação<br />
dos mais fracos no mundo online sempre será limita<strong>da</strong> se não vier acompanha<strong>da</strong> de<br />
igual<strong>da</strong>de, segurança e soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de. A suposta liber<strong>da</strong>de individual, tal como queria<br />
John Locke, pode não ser suficiente para relações mais fraternas e justas sem a igual<strong>da</strong>de<br />
socioeconômica, como queria Jean-Jacques Rousseau (COMPARATO, 2006).<br />
Da<strong>da</strong>s as diferentes condições de participação na rede, é preciso vislumbrar modelos<br />
democráticos que valorizem estratégias que vão além do ato deliberativo online,<br />
que pode ser necessário e transformador, mas insuficiente. Há que se reconhecer<br />
e promover, com o auxílio <strong>da</strong>s TIC, as diferentes mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des de participação política,<br />
tais como o envolvimento em sindicatos e associações de bairro, dentre outros<br />
espaços formais de reflexão e decisões coletivas.<br />
É possível ir além. Deve-se promover e garantir a comunicação informal, em<br />
rede ou não, cujas táticas semânticas são anima<strong>da</strong>s pelas relações orais mais prosaicas<br />
e se multiplicam por bate-papos em cozinhas, praças, quadras de futebol, bares <strong>da</strong><br />
ci<strong>da</strong>de ou trocas de SMS, redes sociais ou ferramentas P2P (peer-to-peer). Portanto,<br />
debater a opção radical pela comunicação na ci<strong>da</strong>de é pensar além dos fóruns<br />
formais de participação política ou dos produtores de conteúdos tradicionais como<br />
profissionais de mídia, educadores, políticos, sindicalistas, ativistas, dentre outros. É<br />
bem possível que a maior parte <strong>da</strong> população urbana faça política de maneira informal,<br />
uma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de que, em geral, é desvaloriza<strong>da</strong> pelos especialistas: jornalistas,<br />
políticos e intelectuais.<br />
Aqui, cabe um destaque. É sabido que o mundo informal cotidiano é pouco valorizado<br />
e objeto de preconceito dos mitos racionais <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de. Muito se critica,<br />
por exemplo, a participação política na internet, especialmente a dos jovens, por ela<br />
não estar inseri<strong>da</strong> nos processos formais de decisão política. Exemplo clássico e repeti-<br />
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