Sergio Amadeu da Silveira - Cidadania e Redes Digitais
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c i d a d a n i a e r e d e s d i g i t a i s<br />
do por críticos <strong>da</strong> participação política informal ou descentraliza<strong>da</strong>: o pessoal de Davos<br />
não tem como negociar com os líderes do movimento antiglobalização porque uma<br />
representação autoriza<strong>da</strong> do grupo de oposição se faz necessária (CLARK e THEMU-<br />
DO, 2006). De fato, muitos movimentos são relativamente descentralizados, com as<br />
suas lideranças dispersas na rede — isso quando os líderes são identificáveis.<br />
Outro argumento comum é a falta de compromisso de quem reduz a sua participação<br />
política à assinatura de abaixo-assinados eletrônicos ou, por exemplo, a<br />
tweets e retweets com hashtags de protesto. Tais movimentos seriam, em princípio,<br />
estratégias frágeis e acomo<strong>da</strong><strong>da</strong>s de participação política.<br />
Em resumo, argumenta-se que a participação política na internet seria quase<br />
inócua ou um simulacro de participação; que a internet, no mínimo, seria muito<br />
menos poderosa do que anunciam tecnófilos e ativistas.<br />
Há que se situar melhor esse debate. Em primeiro lugar, não é razoável imaginar<br />
que uma ação política informal cotidiana gere resultados imediatos. Há uma expectativa<br />
de veloci<strong>da</strong>de na obtenção de resultados na internet que não é condizente com<br />
qualquer forma de participação política que seja.<br />
To<strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça política possui um tempo próprio (kairos) e somente se realiza a<br />
partir de situações contingentes. A título de ilustração, tome-se o caso <strong>da</strong>s deman<strong>da</strong>s<br />
<strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 60. Muitas delas se concretizaram apenas vinte ou trinta anos depois,<br />
inclusive a própria que<strong>da</strong> <strong>da</strong> ditadura no Brasil.<br />
O #forasarney de hoje pode representar a melhor escolha de amanhã. Ou pode<br />
não representar coisa alguma, assim como várias lutas se esvaziaram com o tempo,<br />
assim como nem a mídia fazendo to<strong>da</strong>s as denúncias possíveis não conseguiu<br />
derrubá-lo ou impedir que outros políticos denunciados se reelegessem. Meios de<br />
comunicação não fazem milagre; a educação, talvez. No caso do Brasil, uma reforma<br />
política também viria a calhar. No entanto, há poucos políticos com coragem suficiente<br />
para tocá-la adiante.<br />
Em segundo lugar, não se pode tomar os ci<strong>da</strong>dãos e ci<strong>da</strong>dãs por idiotas (CER-<br />
TEAU, 1990). A política é um processo histórico com as suas i<strong>da</strong>s e vin<strong>da</strong>s que<br />
também se dão no ambiente informal. Trata-se de um fenômeno <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cotidiana<br />
prosaica e criativa que, por vezes, é imperceptível aos especialistas e profissionais <strong>da</strong><br />
política. Nenhum regime ou estado de coisas cai por terra sem algum suporte <strong>da</strong><br />
vi<strong>da</strong> cotidiana, seja uma ditadura militar, a presidência de Fernando Collor ou a de<br />
George Bush. O informal é constituinte do formal.<br />
O uso <strong>da</strong> internet na campanha do Barack Obama foi muito interessante, mas o<br />
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