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Meu coração ficou na curva do Rio Paranaíba<br />
lamente, inocentemente e ausentes da tragédia prestes a<br />
acontecer. Olhei para cima e vi o bombardeiro americano<br />
B-29, o Enola Gay se aproximando.<br />
Naquele momento, estavam na minha frente umas<br />
crianças brincando perto de um grande prédio. Imediatamente,<br />
fui procurando uma coluna larga e forte que poderia<br />
resistir ao impacto da explosão. Encontrei uma de concreto,<br />
com mais de dois metros de largura, achei que tivesse a<br />
resistência necessária. Reuni as crianças do lado oposto do<br />
hipocentro e aguardei a revelação.<br />
Vi no céu a Little Boy, como ficou chamada a bomba<br />
A, saindo do B-29, descendo em alta velocidade. Fechei os<br />
olhos e aconselhei as crianças a fazerem o mesmo. Assustadas,<br />
elas foram, aos poucos, obedecendo-me. Passaramse<br />
uns 45 segundos. Depois de imaginar que ela chegou<br />
ao solo, ouviu-se um ringir, comparado a um irritante<br />
som da unha riscando o quadro-negro, um som extremamente<br />
desagradável e aterrorizante para mim. Logo após,<br />
o estrondo seguido do clarão cegante. Em seguida, veio<br />
a expansão de grande pressão varrendo tudo pela frente.<br />
Senti que a coluna estava resistindo.<br />
Fitei os olhos das crianças assuntadas por não saber<br />
o que estava acontecendo. Tentei acalmá-las com gestos<br />
carinhosos, sem sucesso. Vi uma água escorrendo entre<br />
os prédios, vindo em nossa direção. Percebi que estava<br />
descalço e, com medo de que aquela água estivesse contaminada,<br />
fui procurando uma posição mais elevada. Senti<br />
que a minha missão estava cumprida da melhor forma<br />
possível.<br />
Acordei transpirando e assustado. Imaginei que,<br />
no pesadelo, eu fora uma espécie de anjo da guarda.<br />
Mas, calculando as minhas ações, concluí que elas desenrolaram-se<br />
sem escolha. Não estava ali predeterminado<br />
para salvar as pessoas que não tivessem pecado, fui<br />
para amparar todas que pudesse e conseguisse. Concluí<br />
que, no meu subconsciente, não estou discriminando os<br />
bons dos maus. Penso que todos nós somos filhos do<br />
Criador. Principalmente, no desespero da explosão de<br />
uma bomba atômica.