contos lauro ferrao

CRÔNICAS E CONTOS 91
Em casa, no primeiro final de semana, num domingo
preguiçoso, Arquimedes recebeu a visita dos vizinhos e
parentes para o almoço. Foi a oportunidade para ver as
filmagens das férias e o grandioso show do É o Tchan. As
meninas mais eufóricas pediam ao pai para reunir todos na
sala e preparar os equipamentos para a apresentação.
Arquimedes ligou a câmara diretamente na televisão
e foi organizando os comandos para exibição. Voltou a fita e
foram passando rápidas as cenas mais chatas do embarque,
fachada do hotel, a primeira praia, os camelôs vendendo
bugiganga e lembranças. As meninas se desesperaram.
– Pai, passa logo e mostra o show.
– Espera, vou colocar bem no começo.
Quando apareceu na tela da TV a fachada do clube
e foi colocado no play, entrada, chamada da banda e a
primeira música, o Compadre Washington e Beto Jamaica
cantando e os dançarinos Carla Perez, Débora Brasil e
Jacaré na frente fazendo coreografias eram os destaques na
filmagem.
Começou com os closes dos rostos das bailarinas e, na
sequência, detalhes das coxas, dos seios e, principalmente,
dos bumbuns. À medida que as imagens apareciam na
tela da televisão, o ambiente totalmente familiar ia ficando
constrangedor. Os maridos foram, aos poucos, com o rabo
do olho observando o comportamento das esposas que,
devido ao ciúme, ficaram sérias, piorando ainda mais a
situação.
As meninas impacientes ficavam insistindo:
– Pai, cadê o Jacaré?
– Espera que vai aparecer.
As cenas foram se repetindo, rebolado, coxas,
bumbum das dançarinas e nada do Jacaré. Em um relance,
aparece o Jacaré por uns quatros segundos.
– O Jacaré, o Jacaré, olha aí o Jacaré! – Falava
entusiasmado o pai diante da cena salvadora.
Passaram-se quatros segundos, voltaram novamente
as pernas, o rebolado e o bumbum das bailarinas.
– Ufa! – Arquimedes respirou aliviado.
Afinal, fora salvo pelo Jacaré.