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CRÔNICAS E CONTOS 93<br />
Quando criança, eu fiquei assustado ao ouvir o<br />
Zoroastro falando de uns tópicos da Bíblia que estavam<br />
totalmente destoantes da realidade. Como eu era católico<br />
fervoroso e frequentava as missas todos os domingos, achei<br />
que era um pecado muito grande acreditar nas teses dele.<br />
Assim, eu saía de perto quando ele começava a falar sobre o<br />
Livro Sagrado.<br />
Um dia, ele veio com uma ideia que achamos<br />
muito louca, afirmou que os polos da Terra estavam<br />
degelando. Que os mares na linha do Equador estavam<br />
com um volume de água maior. Assim, a Terra ficaria<br />
mais achatada, os polos derreteriam e a parte mais larga<br />
aumentaria e, segundo ele, o planeta iria acelerar a sua<br />
velocidade de rotação, diminuindo, assim, as horas do<br />
dia. Ele apareceu até com uma calculadora para fazer<br />
as contas, afirmando que, em poucos meses, os dias<br />
ficariam com mais ou menos 20 horas. E ia explicando as<br />
consequências dessa alteração. Eu ficava fascinado com<br />
a sua inteligência e, ao mesmo tempo, assustado com as<br />
suas pesquisas.<br />
Certa vez, estávamos todos no bar, tomando cerveja<br />
em uma mesa, quando o Zoroastro veio e afirmou, categoricamente,<br />
que o mundo iria acabar no dia 13 de agosto de<br />
2004, às 14 horas, numa sexta-feira. Detalhava a tragédia do<br />
fim do mundo da seguinte forma: primeiro viriam as trevas,<br />
depois um estrondo e, enquanto isso, a terra iria se abrir e o<br />
mundo sumir no buraco.<br />
A turma, já sob efeito da bebida, afirmava que ainda<br />
faltavam vinte anos para o fim do mundo, portanto tinha<br />
ainda muito tempo para beber. Isso o deixava muito<br />
nervoso, as pessoas não davam credibilidade às suas<br />
previsões. Confesso que fiquei intrigado, bem diferente dos<br />
meus amigos que achavam que essa previsão era mais uma<br />
das maluquices dele.<br />
Durante vinte anos, fiquei na expectativa, esperando<br />
para conferir as previsões de Zoroastro. Para não esquecer<br />
a data, procurava marcar em todas as agendas o dia 13 de<br />
agosto. Assim, poderia em 2004 conferir se as premonições<br />
dele iam ou não se confirmar.