contos lauro ferrao

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48 Meu coração ficou na curva do Rio Paranaíba A vingança dos pássaros O automóvel Brasília foi grande sucesso na época do seu lançamento, quadrado, motor traseiro, grande espaço interno e conforto total. No seu auge, eu tinha uma, amarela, som amplificado, rodas especiais e coxinilho preto. Eu era o cara. Um dia ao anoitecer, desci para o centro da cidade a fim de ir ao cinema. Estacionei na Praça da República, embaixo de uma grande árvore, entrei no Cine Walter
CRÔNICAS E CONTOS 49 Barra, assisti ao filme Midnight Cowboy e saí assustado com a vida noturna em Nova York. O meu susto foi maior ainda quando vi que a minha maravilhosa Brasília amarela estava branca, toda coberta de caca de passarinho. Somente o meu carro estava assim, nenhum carro ao lado foi borrado. Estava tão sujo que tive que pedir, em um pit dog próximo, uma garrafa de água e um pano para limpar o para-brisa, pois não era possível enxergar nada à minha frente. Enquanto estava limpando, um passarinho pousou no teto do carro e atrevidamente ficou me fitando, parecia que estava me ameaçando. Fiquei ali olhando o seu comportamento e tentando entender o que estava acontecendo comigo. Veio à minha mente, como se fosse um filme antigo, a lembrança de que, quando menino, levava sempre comigo um estilingue para matar passarinho. Disputava com outros amigos quem conseguia acertar mais aves. Só podia ser isto, aqueles pássaros descobriram em mim um antigo predador, por vingança, estavam cobrindo o meu carro de caca e o atrevido no teto estava me dando o troco. A vingança foi cruel!
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Nasci na cidade de Anápolis - GO,
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