contos lauro ferrao

CRÔNICAS E CONTOS 115
no meio do rio e foi levado pela correnteza. Nessa hora, a
coragem transforma-se em ações de desespero e as águas
foram levando-o rio abaixo, enquanto os guerreiros o
acompanhavam pelas margens, tentando salvá-lo.
Quando a morte surgiu a sua frente e se tornou uma
realidade, passaram-se, em sua mente, cenas de toda a sua
vida, os seus parentes, amigos, aventuras e, principalmente,
um pedido de socorro à Uyara, deusa das águas.
Esforçando-se para permanecer com a cabeça fora
d’água, foi descendo, tentando chegar às margens. Os outros
índios iam gritando o seu nome, procurando alguma coisa que
pudesse ser jogada ao grande líder para o seu salvamento.
Ele fez muitas promessas em troca da vida, a mais
constante foi a de fazer morada onde conseguisse atingir
o chão firme. Nesse desespero e luta, foi enfraquecendo ao
ponto de se achar vencido pelas águas. Depois de grande
distância lutando, viu uma curva acentuada logo à frente e,
com a velocidade da correnteza, foi aos poucos se aproximando
das margens. Animados, os guerreiros atiravam
cipó para puxar o guerreiro que já estava quase vencido.
Itubira conseguiu pegar a ponta do cipó e com as
últimas forças foi aos poucos atingindo a margem. Em
terra firme, agradeceu os comandados, depois reverenciou
Uyara, a deusa das águas, e contou aos guerreiros a sua
promessa.
– Aqui vou morar até os fins dos meus dias – afirmou
convicto.
Assim, Itubira foi construindo a sua choça e, aos
poucos, vieram outras até formar uma aldeia que se consolidou
na curva do Rio Paranaíba.
Esse local, mais tarde, foi descoberto pelos homens
brancos que aqui fizeram uma base com uma balsa para
a travessia do rio. O lugar foi chamado de Santa Rita dos
Impossíveis, depois Santa Rita do Paranaíba e, finalmente,
Itumbiara.
Existem outras justificativas para a escolha do nome
Itumbiara, mas prefiro acreditar que foi uma homenagem
ao índio Itubira e a deusa Uyara que salvou o bravo
guerreiro, cujo coração ficou na curva do Rio Paranaíba.