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contos lauro ferrao

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CRÔNICAS E CONTOS 41<br />

Minha mãe ficava com olhos vidrados na Dona<br />

Maria da Santa, fascinada com os poderes que ela contava<br />

que tinha. No canto direito, estava deitado o Ximbica, um<br />

vira-lata de olhos remelentos. Por causa dele, na semana<br />

passada, levei muitos cascudos por ter pisado no seu rabo.<br />

Foi uma gritaria e assustou todo mundo. Também casa<br />

não é lugar de cachorro, casa é de gente, mas ninguém me<br />

entendeu.<br />

– Amém!<br />

Terminou Dona Maria da Santa colocando o terço no<br />

altar.<br />

– Agora vamos ver a Santa.<br />

Pediu a Mariquinha para apagar os candeeiros,<br />

porque Santa vem só no escuro. Santa gosta de escurinho.<br />

Eu segurei no varal da prateleira para não me sentir perdido<br />

na escuridão.<br />

– Olha ela lá!<br />

Era a Dona Maria da Santa, ela era sempre a primeira<br />

a ver. Também pudera! A Santa era dela.<br />

– Olha ali, no cantinho, ela está andando pro rumo da<br />

janela. Agora, chegou à tramela. As mãozinhas dela, olha o<br />

terço. Que coisa mais linda!<br />

– Eu tamém tô veno.<br />

Era o seu Genaro, só ele e Dona Maria da Santa viam a<br />

Santa. Eu firmei a vista, esfreguei os olhos e fiz de um tudo,<br />

mas não consegui ver a Santa.<br />

Eu não desisto, quando crescer vou mastigar fumo e<br />

então...

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