contos lauro ferrao

CRÔNICAS E CONTOS 107
Tolerância zero
Alfredo era um cara intransigente, para ele era oito
ou oito mil, não existia meio-termo. Costumava afirmar
que “as regras são feitas para serem determinadas e as leis
são para serem cumpridas.” Tudo certinho como se o erro
fosse o maior mal do comportamento humano. Os amigos
até falavam que ele não era brasileiro, pois os conterrâneos
sempre têm um jeitinho para todas as situações.
Clara, sua esposa, estava atrasada para o serviço.
Tomou o café muito rápido e, quando já ia saindo para a
garagem, escutou do Alfredo o pedido de carona.
Tomou o volante e manobrou o carro até a rua.
Não chegou a percorrer um quarteirão quando o
seu celular tocou. Atarefada, com uma mão dirigia, com a
outra foi procurando o aparelho para atender quando viu o
telefone já na mão do Alfredo.
Prevendo confusão, pediu urgente o celular, mas
Alfredo alertou:
– Você não pode atender, está dirigindo, vai ser
multada e perder pontos na carteira.
– Me dá logo o celular, deve ser o meu patrão.
– De jeito nenhum, deixa que eu atendo. Alô! Sim...