contos lauro ferrao

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Meu coração ficou na curva do Rio Paranaíba
O Rui da Borracha era um grande gozador. Todas
as vezes que descobria que alguém não foi trabalhar por
pequena indisposição, ele corria ao telefone para dar um trote.
Ligava para a funerária e pedia um caixão dando o nome e o
endereço do doente. Ficava na porta olhando o Alcides, um
negro alto, arrumando o caixão na perua e saindo com um
papel onde estava escrito o endereço. A volta do Alcides todo
sem graça com o caixão, era motivo de muita gozação e farra
e o doente ficava azedo de raiva pela brincadeira.
O Bar Caverna era tocado de dia pelo Waltinho e,
tarde da noite, por mim. O meu sócio era querido por todos,
apesar de manter sempre uma cara fechada de poucos
amigos e certa falta de educação para com os fregueses, mas
ninguém arredava o pé, o bar era o point.
O local contava com um pequeno reservado ao fundo
com oito mesas, luz negra e decoração nas paredes com
tinta fluorescente. Nos finais de semana, ficava lotado até
altas horas da noite.
No dia 9 de outubro de 1977, era domingo de muito
calor e a cidade estava repleta de turistas, no outro dia, seria
a inauguração do Estádio JK com o jogo do Vasco da Gama
contra o Itumbiara Esporte Clube. A escolha do Vasco
foi do torcedor e também Prefeito Municipal Modesto de
Carvalho.
Os jogadores chegaram no domingo cedo e foram
descansar. À noite, o bar estava lotado. Foi quando parou
na porta um Chevette com quatro garotas e o jogador
Roberto Dinamite. Uma delas desceu foi até o fundo no
espaço reservado e conferiu que estava lotado. Foi até o
Waltinho que estava no caixa e falou baixinho:
– Seu Walter, o Senhor poderia pedir para desocupar
uma dessas mesas do reservado, pois nós estamos com o
Roberto Dinamite e ele quer conhecer o seu bar.
Waltinho manteve a cara amarrada e respondeu sem
pestanejar:
– Minha filha, os meus fregueses estão aqui todos
os finais de semana e o Senhor Roberto Dinamite aparece
somente uma vez na vida. Faz o seguinte, fala para ele
esperar até desocupar uma mesa.