contos lauro ferrao

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Meu coração ficou na curva do Rio Paranaíba
Apesar de muitas críticas para os dois lados, o juiz
estava atento, havia torcedor dizendo que o Timora,
zagueiro do “Nóis bebe e joga” tinha falado que do
pescoço para baixo, na concepção dele, era canela. Os
outros torcedores contrários criticavam o Argolinha,
goleiro do “Me chama que eu vou”, afirmando que ele
tinha mão de quiabo.
Os dois times pertenciam à Liga Esportiva Espartana.
Esse nome ninguém sabia o significado, mas o presidente o
escolheu para o nome da entidade, após ter assistido a um
filme.
O campo estava lindo, tinha somente de afastar os
cachorros para iniciar a partida. Nesse clima de final de
campeonato, os foguetes pipocaram os céus das Pontezinhas,
cenário desse espetáculo. Foi a senha para os
caninos fugirem do barulho para o esconderijo.
Entraram em campo os atletas, garbosos, exibindo
algumas barriguinhas, porque ninguém é de ferro. Foram
se separando conforme a cor dos seus uniformes. Começou
o jogo, disputado, dividido, lutado, não tinha sangue no
jogo, mas muito suor. E nada de gol. Foram os quarenta
e cinco minutos de muito sacrifício. Começou o segundo
tempo e nada de gol. Foram novamente mais quarenta e
cinco minutos e a rede não balançava.
Veio a prorrogação, agora é mata-mata. Quem fizesse
o primeiro gol era o campeão. Foi quando o Timora deu um
carrinho e as duas chuteiras foram no meio das canelas do
Divaldo. Toda essa cena aconteceu na pequena área. O juiz
não vacilou, marcou pênalti.
Chamaram para a cobrança o Teobaldo Coisa Ruim.
Disseram que o apelido foi colocado pela própria mãe. Ele
tinha um chute tão forte que um dia derrubou a trave, bateu
e ela caiu com a pancada.
Ele pegou a bola, colocou no chão e ficou olhando no
fundo dos olhos do Argolinha. Parecia até namoro, mas o
olhar era de muita maldade. Afastou-se uns dez metros,
veio correndo e deu uma bicuda. Foi tão forte o chute que
a bola deu um estrondo e partiu no meio. A metade entrou
no gol e a outra metade passou por cima da trave. O Argo-