contos lauro ferrao

O escritor e suas vítimas
Lauro Ferrão é um escritor
raro. Ele tem o dom de nos prender,
pobres leitores desavisados. Falo por
experiência própria. Pensei comigo:
vou ler um pouquinho, antes de
dormir. Que nada! Fui fisgado como surubim, e só parei
quando o livro acabou.
“Meu coração ficou na curva do Rio Paranaíba” tem
histórias fantásticas. Várias delas entrariam sem favor em
qualquer antologia. Eu amei “Agosto”. Nela, um doente
terminal chega em casa e... O final você vai descobrir
sozinho. Daria uma peça de teatro. “E agora?” É um achado
criativo de 1ª linha. Quem não gostaria de ter nas mãos,
indefeso, o agressor cruel de sua família? Poderia citar, a
esmo, vários outros contos: “Eu não sou cachorro não”,
“Toninho Dondoca”, “Paranaíba, eu te amo”, “As paixões
de Tiãozinho”.
Muitos contos ficam tentando ser crônicas. A linha
entre um gênero e outro é tênue. Na maioria das narrativas
há, claro, traços de crônica, mas o DNA nega. Crônica é uma
prima bonita, mas sem dinheiro, dentro da literatura, e este
não será o caso aqui.
Todas as histórias, mesmo as assentadas em casos
reais, têm uma dimensão maior, só possível num conto.
Você vai encontrar, também, poesia da melhor qualidade.
“Você” e “Estrelas felizes” são emocionantes. Daquelas de
se recortar e pôr numa moldura. Agora, esqueça o prefácio e
leia “Meu coração ficou na curva do Rio Paranaíba”. Só um
aviso: eu não começaria se tivesse de acordar cedo.
Carlos Antônio Jordão
Publicitário e escritor