contos lauro ferrao

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Meu coração ficou na curva do Rio Paranaíba
– É ladrão? Mataram ele?
– Acho que ele estava roubando uma bicicleta e
pegaram ele – respondeu um curioso.
Uma dona de casa perguntou ao taxista:
– Por que você não o leva para o hospital?
– A gente não pode mexer, tem que esperar a polícia –
respondeu o taxista.
No entanto, ele estava mesmo era desinteressado
em realizar uma corrida que, certamente, não seria paga.
Na loja em frente, um locutor falava ao microfone que os
descontos eram de 70%, mas ninguém se interessava, pois a
loja estava vazia.
Uma mãe que arrastava o filho pelas mãos resistia em
chegar perto do corpo, justificando que, à noite, o menino
não conseguiria dormir, ficaria impressionado.
O hippie, que estava fazendo as suas pulseiras,
levantou rápido e foi vender os seus badulaques aos
curiosos, que se acotovelavam para ver o corpo estendido
no chão.
O policial chegou antes da ambulância e foi logo
perguntando se existiam testemunhas. Ninguém queria se
comprometer.
Os olhos do Tiziu foram ficando sem brilho, enquanto
a ambulância estava estacionando. Um enfermeiro foi logo
tomando o pulso e aferiu a pressão. Estava mesmo morto.
A ambulância levou o corpo de Tiziu, a alma foi
acolhida por Deus, mas a sua bicicleta, que ele defendeu
com a vida, veio outro ladrão e a levou.