contos lauro ferrao

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Meu coração ficou na curva do Rio Paranaíba
águas formando sobre a superfície um chicote ondulante,
perdendo-se no horizonte e desaparecendo como num
encanto.
Solua saía das águas, ajoelhava-se nas margens, beijava
os ramos, jogando-os nas águas. Chorava, afirmando:
– Pronto! Por muitos anos, não se falará mais em
cobras por estas terras.
Era assim que esse bruxo tinha o poder magnético
sobre as cobras e por isso era muito solicitado pelos fazendeiros
da região.
– Solua, como é que você chama as bichas? –
perguntou o dono das terras.
– Elas gostam do meu cantar.
– Nonô falô que cobra não tem ovido, elas vai atrais
do perfume secreto das flor de abrataca. Cobra não escuta.
– Ouve sim, o ouvido delas tá na língua.
Assim eram suas explicações, mostrando um mundo
de mistérios e superstições.
Solua nasceu em Arcamim, uma cidadezinha tradicional
e provinciana, presa às tradições e costumes da
região. Todos que moravam em Arcamim conheciam Solua.
Quando chegaram, já encontraram Solua morando
ali. Lendas contavam que ele era filho de índios, descendente
dos Nabutacas, uma tribo isolada por seus costumes
e crenças. Monoteístas, adoravam a lua com o nome de
Acanã. As palavras eram vetadas, tendo a permissão de
falarem poucas vezes por dia. Isso fez com que desenvolvessem
grande poder telepático, com um simples olhar sua
comunicação era completa.
O feiticeiro Astrom fiscalizava, orientava e castigava,
era o único que falava sem repreensão, dominando os
adeptos com suas invocações imortais. Astrom vivia na
gruta Bodoque, considerada por eles a terra santa. Entre
cobras e galhos secos, ele convencia a todos da sua imortalidade.
Ao passar dos anos e já envelhecido, procurou,
entre as índias, uma que pudesse lhe dar um filho. Estava à
procura de um herdeiro.
Todos acreditavam na sua imortalidade. Ao fim dos
seus dias, sentiu revolta por ter envelhecido e, para não