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Meu coração ficou na curva do Rio Paranaíba<br />
– Agora você me chama de Doutor. Quando você<br />
estava me batendo, só me chamava de palavrões.<br />
Frederico foi enfiando lentamente a pinça no<br />
ferimento da bala sem anestesia e Edisley gritava de dor.<br />
Não precisava perguntar, mas havia certo ar de contentamento<br />
na voz do médico.<br />
– Tá doendo?<br />
Não precisava responder. Os olhos do infrator, cheios<br />
de lágrimas, demonstravam o horror que passava naquele<br />
momento.<br />
– Estou em dúvida. Se cortar esta artéria você morre<br />
em dois minutos, mas acho muito pouco para você pagar<br />
esta dívida comigo.<br />
– Pelo amor de Deus!<br />
– Ah! Acredita em Deus? Mas Deus ensina que<br />
devemos amar o próximo como a si mesmo. Você não<br />
demonstrou isso.<br />
– Não pode fazer isso com um ser humano!<br />
– Certo. Mas você, para mim, não é um ser humano.<br />
Para mim, você é um monstro que devemos tirar do<br />
convívio da comunidade. Você é um câncer na sociedade.<br />
– Pelo amor que você tem pela sua família...<br />
– Estou fazendo isto, justamente pelo amor que tenho<br />
a minha família, principalmente pela minha filha a quem<br />
você fez tanto mal.<br />
– Sou doente.<br />
– Vou mandar você para o inferno para ser curado,<br />
mas morrer assim, você sofre muito pouco. Acho melhor<br />
cortar o oxigênio do seu cérebro para deixá-lo ficar<br />
vegetando em uma cama.<br />
Frederico começou, rapidamente, a entubar Edisley,<br />
antes que a enfermeira voltasse. Tinha certeza de que, no<br />
outro dia, haveria apenas uma notícia nas páginas policiais:<br />
“BANDIDO É FERIDO EM ASSALTO E FICA TETRA-<br />
PLÉGICO”.