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contos lauro ferrao

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104<br />

Meu coração ficou na curva do Rio Paranaíba<br />

– Agora você me chama de Doutor. Quando você<br />

estava me batendo, só me chamava de palavrões.<br />

Frederico foi enfiando lentamente a pinça no<br />

ferimento da bala sem anestesia e Edisley gritava de dor.<br />

Não precisava perguntar, mas havia certo ar de contentamento<br />

na voz do médico.<br />

– Tá doendo?<br />

Não precisava responder. Os olhos do infrator, cheios<br />

de lágrimas, demonstravam o horror que passava naquele<br />

momento.<br />

– Estou em dúvida. Se cortar esta artéria você morre<br />

em dois minutos, mas acho muito pouco para você pagar<br />

esta dívida comigo.<br />

– Pelo amor de Deus!<br />

– Ah! Acredita em Deus? Mas Deus ensina que<br />

devemos amar o próximo como a si mesmo. Você não<br />

demonstrou isso.<br />

– Não pode fazer isso com um ser humano!<br />

– Certo. Mas você, para mim, não é um ser humano.<br />

Para mim, você é um monstro que devemos tirar do<br />

convívio da comunidade. Você é um câncer na sociedade.<br />

– Pelo amor que você tem pela sua família...<br />

– Estou fazendo isto, justamente pelo amor que tenho<br />

a minha família, principalmente pela minha filha a quem<br />

você fez tanto mal.<br />

– Sou doente.<br />

– Vou mandar você para o inferno para ser curado,<br />

mas morrer assim, você sofre muito pouco. Acho melhor<br />

cortar o oxigênio do seu cérebro para deixá-lo ficar<br />

vegetando em uma cama.<br />

Frederico começou, rapidamente, a entubar Edisley,<br />

antes que a enfermeira voltasse. Tinha certeza de que, no<br />

outro dia, haveria apenas uma notícia nas páginas policiais:<br />

“BANDIDO É FERIDO EM ASSALTO E FICA TETRA-<br />

PLÉGICO”.

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