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Revista Curinga Edição 22

Revista Laboratorial do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

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B* trabalha como funcionário terceirizado há<br />

mais de 10 anos para empresas que prestam serviços<br />

à Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop).<br />

Segundo ele, é comum que essas empresas decretem<br />

falência, deixando os funcionários sem receber<br />

seus direitos. B* sente-se prejudicado por não ter<br />

estabilidade em seu trabalho, por não possuir diálogo<br />

direto com a empresa e por trabalhar em condições<br />

precarizadas, sem equipamentos adequados.<br />

Além disso, conta que em sua última contratação<br />

teve seu cargo rebaixado, diminuindo, assim, o seu<br />

salário. “Me mudaram de cargo, meu salário caiu.<br />

Falaram que se eu quisesse continuar ia ser assim,<br />

porque tem muita gente lá fora para pegar minha<br />

vaga”. A doula Laura Muller se viu obrigada a pedir<br />

demissão de uma empresa no sul do Brasil, na qual<br />

trabalhou por quatro anos, após a instituição não<br />

concordar em flexibilizar os horários dela quando<br />

voltou da licença maternidade. Laura precisava ficar<br />

com o filho e não podia trabalhar em horários<br />

noturnos, nos quais não havia funcionamento de<br />

creches, direito que lhe foi vetado usufruir.<br />

Essas são situações que todo mundo conhece.<br />

Desde o impeachment que afastou a presidenta<br />

eleita Dilma Rousseff, em 2016, algumas medidas<br />

controversas foram aprovadas pelo Congresso Nacional,<br />

danificando direitos e legalizando práticas<br />

já muito presentes no nosso cotidiano, que beneficiam<br />

os patrões e, consequentemente, prejudicam<br />

o trabalhador. As perspectivas de trabalho dos brasileiros<br />

sofreram grandes mudanças em 2017 com<br />

a aprovação da Lei da Terceirização e do Projeto de<br />

Lei da Câmara da Reforma Trabalhista, em março e<br />

julho respectivamente. As informações disponibilizadas<br />

na página do Planalto mostram que as modificações<br />

proporcionadas por essas reformas mexem<br />

com pontos históricos da Consolidação das Leis do<br />

Trabalho (CLT) referentes à contratos, férias, horas<br />

de trabalho, e criam medidas para regulamentar as<br />

atividades dos trabalhadores terceirizados.<br />

Antes, as empresas só podiam terceirizar as<br />

funções que não representassem as principais atividades<br />

da instituição, de acordo com a lei brasileira.<br />

Agora todas as atividades de uma empresa privada<br />

e algumas atividades do setor público poderão<br />

ser terceirizadas. O 10º. artigo da lei determina que<br />

“qualquer que seja o ramo da empresa tomadora de<br />

serviços, não existe vínculo de emprego entre ela<br />

e os trabalhadores contratados pelas empresas de<br />

trabalho temporário”. Portanto, a previsão é que<br />

uma enorme parcela dos trabalhadores perca o vínculo<br />

empregatício direto e passe a exercer suas funções<br />

sob um novo regime sem estabilidade. Os parágrafos<br />

desse artigo explicam que os contratos de<br />

trabalho temporário com um mesmo empregador<br />

poderão ser estabelecidos pelo prazo de 180 dias,<br />

com possibilidade de renovação, substituindo o limite<br />

de 90 dias da lei anterior. A condição de inexistência<br />

de vínculo empregatício entre a empresa<br />

tomadora de serviço e o empregado terceirizado colocará<br />

este em situação de vulnerabilidade quanto<br />

às responsabilidades trabalhistas do contratante.<br />

A aprovação da Reforma Trabalhista seguiu<br />

discursos que defendem a modernização da CLT,<br />

bem como a garantia de seguridade jurídica para<br />

os empregadores. Órgãos como a Federação Brasileira<br />

dos Bancos (FEBRABAN) e Federação das<br />

Indústrias de São Paulo (FIESP) criaram cartilhas<br />

e notas oficias nomeando a Reforma de “modernização<br />

trabalhista”. O advogado da Federação das<br />

Indústrias de Minas Gerais (FIEMG), Gustavo Lemos,<br />

acredita nisso: “Nós temos a posição de que<br />

ela é muito positiva, esperada e necessária, porque<br />

as relações trabalhistas já vêm engessadas há muitos<br />

anos. A CLT é de 1943, de uma época em que<br />

os trabalhadores eram de âmbito rural e hoje isso<br />

mudou”. O advogado acredita, também, que existia<br />

a necessidade de tornar as relações de trabalho benéficas<br />

para as duas partes, além de fazer com que<br />

os empresários se interessem mais em investir: “As<br />

relações não podem ser boas só para um lado. Hoje<br />

não tem mais isso de empregado que não sabe das<br />

leis, patrões que massacram os empregados. A lei<br />

trabalhista antiga é muito rígida e não flexibiliza<br />

nada. Essa flexibilização vai estimular empresas a<br />

quererem investir aqui, consequentemente haverá<br />

empregos. Hoje o empresariado tem medo de investir<br />

na economia brasileira”, ele afirma.<br />

Uma das críticas feitas a todas essas mudanças<br />

na legislação trabalhista brasileira é a falta de diálogo<br />

com a população. Na consulta pública realizada<br />

na página oficial do Senado, o PL da Reforma<br />

foi rejeitado por mais de 172.168 brasileiros, contra<br />

16.791 que disseram sim a ele. A Lei da Terceirização<br />

foi aprovada pelo congresso, mesmo tendo<br />

obtido apenas 8.894 votos populares a favor, contra<br />

49.621 que votaram não.<br />

Me mudaram de cargo,<br />

meu salário caiu. Falaram que se eu<br />

quisesse continuar ia ser assim<br />

porque tem muita gente lá fora para<br />

pegar minha vaga.<br />

B*<br />

CURINGA | EDIÇÃO <strong>22</strong><br />

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