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Revista Curinga Edição 22

Revista Laboratorial do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

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Traição premiada<br />

Opinião<br />

No século XVIII, a chamada Inconfidência Mineira<br />

teve como objetivo a libertação dos abusos políticos<br />

e econômicos feitos por Portugal ao Brasil. Sua<br />

história se assemelha muito aos tempos atuais<br />

que vivemos no nosso país.<br />

Segundo o diretor do Museu da In confidência<br />

de Ouro Preto, Rui Mourão, os<br />

Inconfidentes eram pessoas do alto escalão<br />

da sociedade, como padres, advogados e<br />

militares, e que apenas entraram no<br />

movimento porque, com a libertação<br />

do Brasil, deixariam de pagar<br />

impostos à matriz portuguesa.<br />

Além disso, estes principais<br />

arti culadores eram alguns dos<br />

maiores devedores da Coroa<br />

portuguesa e com essa<br />

separação teriam dívidas<br />

canceladas.<br />

Como explica o diretor, Tiradentes era o mediador<br />

entre a elite e os pobres de Minas Gerais, e foi até<br />

o Rio de Janeiro para encontrar adeptos para o<br />

movimento. Mas ao chegar lá, foi preso. Segundo ele:<br />

“Tiradentes não acreditava na conspiração, ele achava<br />

que precisava levantar o povo e fazer uma revolução<br />

verdadeira, implantar a independência”<br />

Na história, um dos integrantes dos Inconfidentes<br />

delatou o movimento, em troca do perdão da sua<br />

dívida. A partir disso, outras denúncias e delações<br />

foram feitas. Os delatores queriam salvar a própria<br />

pele. O historiador e professor da Universidade Federal<br />

de Ouro Preto (Ufop), Francisco Andrade, afirma<br />

que quando há interesse político, conflitos e lutas<br />

de classe, sempre haverá delações. ”O momento que<br />

vivemos hoje é um espelho envolvendo toda a história<br />

que moveu o Brasil”, diz o historiador.<br />

Numa primeira sentença, Portugal condenou 11<br />

pessoas à forca, todas de alto escalão. No dia seguinte,<br />

apareceu outra sentença, que revogava a anterior,<br />

levando os 11 condenados para o exílio na África.<br />

No dia 21 de abril de 1792, o único levado à forca foi<br />

Tiradentes, tendo partes do seu corpo expostas no<br />

caminho para o Rio de Janeiro.<br />

O momento que vivemos hoje<br />

é um espelho envolvendo toda<br />

a história que moveu o Brasil<br />

Francisco Andrade<br />

Segundo Francisco, o fato destes Inconfidentes<br />

estarem ligados a elite, e alguns terem estudado<br />

magistério na Universidade de Coimbra, possuindo<br />

laços diretos com Portugal, foi possível terem as<br />

penas mais brandas. Já Tiradentes não possuía esses<br />

laços de apadrinhamento.<br />

No Brasil de 2017, há também delações, agora explicitamente<br />

premiadas. Os que possuem poder saem<br />

ilesos, exilados em seus próprios domicílios. A conspiração<br />

é iniciada por uma elite e os delatores são vistos<br />

como heróis. Já sabemos quem será o enforcado.<br />

Texto: Luana Carvalho<br />

Foto: Jéssica Avelar<br />

Arte: Deborah Alves<br />

CURINGA | EDIÇÃO <strong>22</strong> 33

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