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Revista Curinga Edição 22

Revista Laboratorial do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

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os funcionários para trabalhar, se não tiver reservas,<br />

não chamarão. “Se eu tiver turista na semana<br />

que vem, eu te chamo”. É como se o trabalhador<br />

fosse objeto. Eu pego aquele objeto e uso, se eu não<br />

tenho mais utilidade para ele, eu não o contrato.<br />

RC: O que você destacaria como um dos pontos<br />

mais prejudiciais na nova Lei?<br />

A: Na regra anterior, por exemplo, a mulher grávida<br />

não poderia trabalhar em ambiente insalubre. Se<br />

no ambiente de trabalho houvesse insalubridade, o<br />

empregador tinha que arcar com os custos e deixála<br />

em casa. Com a Reforma, se a insalubridade for<br />

mínima, ela pode mostrar um laudo dizendo que<br />

poderá ficar naquele lugar. Se o potencial agressivo<br />

for grande, a trabalhadora deverá ser afastada<br />

pela Previdência, que passará a arcar com os custos<br />

do afastamento. Essa regra, que era protetiva,<br />

vai servir de discriminação da contratação, porque<br />

o empregador pode agir preconceituosamente e<br />

não contratar mulheres. Além de ser uma regra de<br />

precarização, pode acarretar em preconceito. Estão<br />

dizendo que a Previdência precisa de uma reforma,<br />

mas estão dando mais ônus para este Seguro Social.<br />

RC: O que você acha dos Acordos Coletivos<br />

previsto na Reforma?<br />

A: Sempre foi possível fazer acordo coletivo, mesmo<br />

com a CLT, sem muitas restrições. As restrições<br />

eram referentes à saúde, à segurança do trabalhador<br />

e ao que a gente chama de patamar civilizatório<br />

mínimo, que significa ter carteira assinada,<br />

fundo de garantia, INSS, férias e décimo terceiro.<br />

O discurso é de privilegiar acordos coletivos, mas<br />

eles não podem ser feitos sem limites. O sindicato<br />

não pode ser um instrumento de precarização dos<br />

direitos, senão ele perde o sentido. O sindicato não<br />

pode criar regras em prejuízo do representado. Se<br />

isso acontecer, tem que haver atuação do poder judiciário.<br />

Mas o sindicato perde sua força agora que<br />

o patrão pode fazer acordos diretos com o empregado.<br />

O discurso foi de fortalecimento, mas na prática<br />

foi de enfraquecimento do sindicato, por exemplo,<br />

na prática da negociação individual em vários temas,<br />

mas não em todos. Alguns ainda estão restritos<br />

a negociação coletiva. Alguns estão postos para<br />

a negociação individual. São eles: banco de horas<br />

(12h por 36h), trocar de contrato presencial para<br />

o teletrabalho, que é o home office, parcelamento<br />

das féria em três períodos. Esses temas, que não são<br />

muitos, podem ser negociados individualmente. Os<br />

que trazem impactos coletivos ficam sujeitos a negociações<br />

coletivas.<br />

RC: Como fica o trabalhador rural depois dessa<br />

reconfiguração dos direitos trabalhistas?<br />

A: Vai vir ainda uma Reforma trabalhista Rural.<br />

Esses trabalhadores têm uma lei própria que não<br />

é a CLT. Tramita na Câmara um Projeto de Lei para<br />

tratar especificamente de uma Reforma para o trabalho<br />

rural. Hoje, do jeito que está, as modificações<br />

já se aplicam a esse trabalhador. Mas, segundo<br />

parte da bancada ruralista, é necessária outra. Há<br />

uma proposta de um deputado que autorizaria,<br />

por exemplo, a possibilidade do trabalhador rural<br />

trabalhar em troca de comida e moradia. Além de<br />

ser inconstitucional, essa possibilidade demandaria<br />

uma reforma trabalhista rural específica.<br />

RC: Por que há forte resistência das centrais<br />

sindicais?<br />

A: Por princípio e por ver o que acontece no resto<br />

no mundo, o imposto sindical acabou prejudicando<br />

o sindicalismo brasileiro, pois o dinheiro que vem<br />

fácil para o cofre do sindicato o deixou acomodado.<br />

Num universo de mais ou menos 15 mil sindicatos,<br />

conseguimos nomear uns poucos que são bons, a<br />

maioria vive de impostos e representa mal o povo.<br />

Com o fim do imposto, talvez haja uma melhora na<br />

qualidade da representação. Quem vive do sindicalismo<br />

para se aproveitar do dinheiro será afastado.<br />

As boas centrais vão resistir contra a Reforma.<br />

RC: Você acredita que essa reforma pretende<br />

atrair empresas estrangeiras, devido o seu caráter<br />

de benefício para os patrões?<br />

A: Pode atrair mais empresas, mas o ambiente de<br />

incertezas que essa legislação vai trazer vai desincentivar.<br />

Estamos com uma lei nova que vai entrar<br />

em novembro e que precisa ser primeiramente interpretada<br />

pelo empregador, pelos seus advogados,<br />

pelo trabalhador, pelo sindicato e pelo Juiz do Trabalho.<br />

Dependendo do Juiz, a Lei vai ser interpretada<br />

de um jeito. Isso vai para o Tribunal Regional do<br />

Trabalho. Para consolidar um entendimento dessa<br />

matéria, vai demorar uns três anos, no mínimo. Depois,<br />

no Tribunal Superior do Trabalho, vai demorar<br />

uns cinco anos para isso. Eu sempre vou interpretar<br />

a lei a favor do trabalhador. A CNI vai interpretar a<br />

favor dela. Haverá um choque de interpretação. O<br />

judiciário vai determinar quem tem razão. Vão ser<br />

dez anos de incertezas. Os investidores não querem<br />

viver sob esses riscos. Como você atrai uma empresa<br />

estrangeira para um país empobrecido? Só se ela<br />

vier para explorar mão-de-obra, sem se preocupar<br />

em vender no mercado interno.<br />

RC: O que pode ser feito para conter essa<br />

onda de retrocessos?<br />

A: Espero que haja eleições em 2018. O Presidente<br />

terá que mandar um Projeto de Lei para o Congresso<br />

Nacional, revendo ou excluindo o que foi feito. O<br />

nosso Congresso sempre foi a cara da elite branca e<br />

masculina do Brasil. Agora é evangélica e ruralista<br />

também. Se não mudarmos ele, não adianta mudar<br />

o Presidente.

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