saúde | epidemia O impacto das novas doenças Operadoras e órgãos do setor buscam ações para equilibrar o aumento dos custos gerados pela conjuntura econômica somada ao surgimento de Zika vírus, chikungunya, microcefalia e H1N1 Lívia Sousa 24
Ao mesmo tempo em que enfrenta instabilidades na política e na economia, o Brasil atravessa uma onda de novas doenças epidêmicas. O vírus H1N1, também conhecido como Influenza A ou gripe suína, se tornou responsável por metade dos casos de gripe registrados no País e, até o dia 23 de abril deste ano, havia feito ao menos 290 vítimas fatais, segundo o Ministério da Saúde. Na mesma data, o zika vírus (causado pelo Aedes aegypti, mesmo mosquito transmissor da dengue e da chikungunya) somava 1.198 casos confirmados, com mais de 7,2 mil notificações para investigação. Associado também à microcefalia e à síndrome de Guillain-Barré, doença autoimune que ocorre quando o sistema imunológico do corpo ataca parte do próprio sistema nervoso por engano, o vírus também foi detectado em outros países e declarado como emergência internacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A saúde suplementar sente os impactos deste cenário que eleva, de forma não prevista e significativa, o número de procedimentos, internações e atos associados. A começar pelas visitas aos prontos socorros, que cresceram consideravelmente nos últimos meses. “Estas doenças são muito novas e ainda não conseguem ser claramente mensuradas. O que sabemos, ao observar o comportamento dos pacientes, é que por medo, desconhecimento da enfermidade ❙❙Luciana Lauretti, da Azimutemed e dificuldade de diagnóstico, tendem a usar o pronto socorro em uma frequência maior”, declara Luciana Lauretti, sócia da Azimutemed. Para as operadoras de saúde, equilibrar o aumento dos custos gerados pela conjuntura econômica somada ao surgimento de doenças novas é um grande desafio, pois a prática contribui para o aumento desproporcional dos valores a ser desembolsado. No entanto, não é possível fazer projeções imediatas desses valores, uma vez que o cálculo da inflação médica envolve fatores diversos – como frequência de uso, complexidade dos procedimentos eventualmente necessários, custos com internações, medicamentos e insumos. Outro aspecto a ser considerado é a recomposição das perdas inflacionárias, que ocorre somente quando os reajustes são aplicados às mensalidades no futuro. Na tentativa de contornar este cenário, as operadoras investem em melhorias de gestão e otimização das rotinas de trabalho. Mas a presidente da Federação Nacional de Saúde Suplementar (Fena- Saúde), Solange Beatriz Palheiro Mendes, salienta que, independentemente de novas doenças ou do cenário macroeconômico do País, que afeta intensamente a geração de emprego e renda, a instituição vem há tempos alertando sobre os gargalos do setor. Um deles é o desequilíbrio financeiro, situação que resulta do crescimento das despesas assistenciais a patamares muito superiores aos das receitas assistenciais. “Esse quadro, inevitavelmente, impacta as mensalidades pagas pelos beneficiários”, diz a executiva. Segundo ela, a necessidade impõe à cadeia de valor da saúde e à sociedade – beneficiários, operadoras, prestadores de serviços, órgãos reguladores e Governo – urgência em discutir de forma ampla temas cruciais para a sustentabilidade econômica e social do setor. Nesse contexto, é preciso ter claro o papel do segmento privado e seus contornos legais, dar a devida importância à segurança jurídica e regulatória, adequar custos, promover o uso consciente dos serviços médicos e a racionalidade na incorporação de novas tecnologias. Um aspecto desse debate diz respeito às Órteses, Próteses e Materiais Especiais (OPME), itens que têm forte impacto nos custos médicos (ver quadro na página 26). Transmissão de informações à população Com o surgimento de novas doenças, educar o usuário do plano de saúde se faz necessário. “O setor deve levar informação para as pessoas, que precisam entender as doenças e seus sintomas. Na dúvida, elas pecam pelo excesso, atrapalham o tratamento de quem realmente está doente e provocam o aumento do custo assistencial”, explica Luciana. Presidente do Grupo NotreDame, Irlau Machado Filho, declara que é preciso “acalmar” as pessoas para que, justamente no momento de desaceleração da economia e do aumento do desemprego, elas tenham a oportunidade de seguir as recomendações das operadoras de saúde. “Pedimos que a população participe anualmente da campanha de vacinação contra o H1N1 e aconselhamos que evite aglomerações. Não há motivo para pânico e esclarecimentos precisam ser feitos”, frisa ele. Por sua vez, o coordenador de Auditoria Médica da Ameplan Assistência Médica Planejada, Clovis Ianni, acredita que as operadoras necessitam ser ágeis na criação de uma estrutura de atendimento ao paciente compatível com o momento, do atendimento ambulatorial ao hospitalar, para atender a demanda exigida pelas novas doenças. “As operadoras precisam investir fundamentalmente em ❙❙Solange Beatriz, da FenaSaúde 25