edição de 9 de abril de 2018
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mphilips007/iStock<br />
Paqui<strong>de</strong>rmes<br />
contra a pare<strong>de</strong><br />
“Cui<strong>de</strong> <strong>de</strong> vossa graça, pois aqueles ali<br />
não são gigantes, mas moinhos <strong>de</strong> vento,<br />
e aquilo que pensais serem braços são as<br />
pás que, girando o vento, movem a mó”.<br />
Miguel <strong>de</strong> Cervantes<br />
Francisco alberto Madia <strong>de</strong> souza<br />
vida dos paqui<strong>de</strong>rmes não anda fácil.<br />
A No curto prazo, ingênuos e <strong>de</strong>savisados<br />
<strong>de</strong> todo o gênero ficam impactados com os<br />
lucros exuberantes que os paqui<strong>de</strong>rmes,<br />
talvez, novos dinossauros, ainda são capazes<br />
<strong>de</strong> garantir a seus acionistas. Mais todos<br />
os bônus que pagam aos profissionais<br />
que os comandam.<br />
É o tal do efeito inércia. Ou, a energia <strong>de</strong>corrente<br />
do vácuo. De uma série <strong>de</strong> movimentações<br />
e iniciativas, anos e até décadas<br />
passadas, que agora se encontram no ápice<br />
dos resultados. Lembra aquele ponto mais<br />
alto das montanhas-russas, que antece<strong>de</strong> a<br />
<strong>de</strong>scida vertiginosa e insuportável.<br />
Mas, daqui a dois ou três anos, não se colherá<br />
uma fruta sequer, <strong>de</strong> uma árvore que<br />
parecia momentos atrás ser <strong>de</strong> fertilida<strong>de</strong><br />
infinita. Assim, os investidores, mesmo<br />
recebendo divi<strong>de</strong>ndos, começam a se incomodar.<br />
Da mesma forma que os gestores<br />
dos fundos a quem confiaram as suas fortunas<br />
e economias para gestão sobre gran<strong>de</strong><br />
pressão.<br />
Os investidores temem ver parcela expressiva<br />
<strong>de</strong> suas riquezas <strong>de</strong>rreterem junto<br />
com o <strong>de</strong>rretimento, por letargia, gigantismo,<br />
incompetência e dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimentação,<br />
dos paqui<strong>de</strong>rmes da velha economia.<br />
E cansado <strong>de</strong> ser pressionado por seus<br />
investidores, apenas como exemplo, o fundo<br />
Third Point, <strong>de</strong> Daniel Loeb, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
uma trégua <strong>de</strong> um primeiro ano, cobra publicamente<br />
do presi<strong>de</strong>nte da Nestlé maior<br />
agilida<strong>de</strong> nos planos e na ação.<br />
O Third Point <strong>de</strong>tém hoje 1,25% do capital<br />
da Nestlé, <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> investimentos superiores<br />
a US$ 3,5 bilhões feitos nos últimos<br />
anos. As cobranças do fundo ao paqui<strong>de</strong>rme<br />
quase dinossauro Nestlé são as seguintes:<br />
1 – Agir com senso <strong>de</strong> urgência nas Unida<strong>de</strong>s<br />
Essenciais – Alimentos – e <strong>de</strong>sfazer-<br />
-se, com urgência total, das unida<strong>de</strong>s nada<br />
a ver.<br />
Unida<strong>de</strong>s essenciais: café, produtos para<br />
animais <strong>de</strong> estimação, água e nutrição.<br />
Unida<strong>de</strong>s nada a ver: pizza e sorvetes.<br />
Daniel Loeb em manifestação pública<br />
disse: “Embora reconheçamos que a<br />
Nestlé tem limitações culturais e estruturais<br />
peculiares, esperamos agora que o<br />
dr. Ulf Mark Schnei<strong>de</strong>r, que já completou<br />
seu primeiro ano no comando, contando<br />
com todos os sangues novos da empresa,<br />
consiga agir com maior assertivida<strong>de</strong> e<br />
<strong>de</strong>terminação”.<br />
E, ainda, com idêntica ênfase: o fundo<br />
exige que a Nestlé venda imediatamente<br />
a sua participação na L’Oréal. Pon<strong>de</strong>ra e<br />
cobra Daniel: “Hoje não faz mais o menor<br />
sentido <strong>de</strong>ter uma participação minoritária<br />
em uma empresa <strong>de</strong> beleza e muito<br />
menos faz a Nestlé mais forte e competitiva<br />
em nutrição, saú<strong>de</strong> e bem-estar,<br />
como ingenuamente se imaginava anos<br />
atrás...”.<br />
E nada mais disse. Fez-se o silêncio.<br />
Mesmo diante do absoluto silêncio, Mark<br />
Schnei<strong>de</strong>r e seus <strong>de</strong>mais companheiros<br />
<strong>de</strong> diretoria não conseguem mais dormir<br />
em paz. Noites <strong>de</strong> longas e extenuantes<br />
insônias. A vida dos paqui<strong>de</strong>rmes não anda<br />
fácil. A vida <strong>de</strong> seus dirigentes pior anda.<br />
E só vai piorar. O aguardado momento<br />
se aproxima. Conseguirão os paqui<strong>de</strong>rmes<br />
reinventarem-se a tempo, evitando o<br />
processo ainda não perceptível, mas potencialmente<br />
acelerado <strong>de</strong> fossilização?<br />
Possibilida<strong>de</strong> muito próxima <strong>de</strong> zero<br />
<strong>de</strong> acontecer. Talvez, com otimismo, com<br />
muito otimismo, <strong>de</strong> cada 100 uns <strong>de</strong>z consigam<br />
se salvar. Se tanto. Já os outros...<br />
Francisco Alberto Madia <strong>de</strong> Souza<br />
é consultor <strong>de</strong> marketing<br />
famadia@madiamm.com.br<br />
jornal propmark - 9 <strong>de</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> 49