A STARTUP ENXUTA - ERIC RIES
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colá-los? Na abordagem do lote grande, teríamos de esvaziar os envelopes, comprar novos, e<br />
voltar a enchê-los. Numa abordagem de lote pequeno, descobriríamos isso de imediato e não<br />
haveria necessidade de refazer o trabalho.<br />
Todas essas questões são visíveis num processo tão simples quanto encher envelopes, mas<br />
têm consequência real e muito maior no trabalho de cada empresa, grande ou pequena. A<br />
abordagem do lote pequeno produz um produto acabado a cada poucos segundos, enquanto a<br />
abordagem do lote grande deve entregar todos os produtos de uma vez, no final. Imaginemos<br />
qual seria a aparência disso se o horizonte de tempo fossem horas, dias ou semanas. E se no<br />
fim das contas os clientes decidirem que não querem o produto? Que processo permitiria a<br />
uma empresa descobrir esse fato mais cedo?<br />
Os adeptos da manufatura enxuta descobriram os benefícios dos lotes pequenos há décadas.<br />
Na economia subsequente à Segunda Guerra Mundial, os fabricantes japoneses de carros,<br />
como a Toyota, não conseguiam competir com as imensas fábricas norte-americanas, que<br />
utilizavam as últimas técnicas de produção em massa. Seguindo a maneira intuitivamente<br />
eficiente de manufatura, as indústrias de produção em massa fabricavam carros em lotes<br />
sempre maiores. Elas gastariam enormes quantias de dinheiro comprando máquinas capazes<br />
de produzir peças de carros às dezenas, centenas ou milhares. Ao manter essas máquinas<br />
funcionando a todo vapor, podiam reduzir o custo unitário de cada peça e produzir carros<br />
inacreditavelmente baratos, desde que fossem completamente uniformes.<br />
O mercado automobilístico japonês era muito pequeno para que empresas como a Toyota<br />
adotassem essas economias de escala; portanto, as empresas japonesas enfrentavam intensa<br />
pressão por parte da produção em massa. Além disso, na economia arruinada pela guerra, não<br />
havia capital disponível para vultosos investimentos em grandes máquinas.<br />
Foi com esse pano de fundo que inovadores como Taiichi Ohno, Shigeo Shingo e outros<br />
acharam uma maneira de ter sucesso usando lotes pequenos. Em vez de adquirir grandes<br />
máquinas especializadas capazes de produzir milhares de peças por vez, a Toyota utilizou<br />
máquinas menores, de uso geral, capazes de produzir uma grande variedade de peças em lotes<br />
pequenos. Isso exigiu descobrir maneiras de reconfigurar cada máquina com rapidez para<br />
produzir a peça certa no momento certo. Ao se concentrar nesse “tempo de troca”, a Toyota foi<br />
capaz de produzir automóveis completos mediante lotes pequenos em todo o processo.<br />
Essa rápida mudança nas máquinas não era uma façanha fácil. Como em qualquer<br />
transformação enxuta, os sistemas e as ferramentas existentes muitas vezes precisam ser<br />
reinventados para respaldar o trabalho em lotes menores. Shigeo Shingo criou o conceito de<br />
SMED (Single-Minute Exchange of Die – troca rápida de ferramenta) a fim de permitir um<br />
tamanho de lote de trabalho menor nas primeiras fábricas da Toyota. Ele foi tão incansável na<br />
atividade de repensar a maneira pela qual as máquinas eram operadas que foi capaz de reduzir<br />
os tempos de troca de ferramenta, que antes levavam horas, para menos de dez minutos.<br />
Shingo fez isso não por meio de pedidos para que os operários trabalhassem mais rápido, mas<br />
reimaginando e reestruturando o trabalho que precisava ser feito. Cada investimento em<br />
ferramentas e processos melhores tinha um benefício correspondente em termos de reduzir o<br />
tamanho do lote de trabalho.<br />
Por causa do tamanho de lote menor, a Toyota foi capaz de produzir uma maior diversidade