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RENASCENDO DAS CINZAS(1)

Baseado na imortalidade da Fênix, conta a história da morte espiritual do ser. As perseguições morais no serviço público em um ambiente semelhante a uma instituição de policia militar. Traça um paralelo entre a participação popular e a corrupção do sistema democrático.

Baseado na imortalidade da Fênix, conta a história da morte espiritual do ser. As perseguições morais no serviço público em um ambiente semelhante a uma instituição de policia militar.
Traça um paralelo entre a participação popular e a corrupção do sistema democrático.

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Costumava fazer as necessidades em algum canto do corredor,<br />

quando não havia ninguém olhando. Se fosse surpreendido, falava<br />

que estava no mato, que não era proibido fazer ali, e, procurando<br />

nas paredes por folhas de bananeira ou qualquer outra coisa para<br />

se limpar, acabava por sujá-las com marcas de fezes, ao que ele agia<br />

com naturalidade.<br />

Quando passava por alguma crise, tentava de todas as maneiras<br />

fugir da clínica a fim de voltar para sua fazenda que com tanto<br />

esforço ergueu. Subia em cadeiras e tentava escalar as paredes como<br />

se fossem árvores.<br />

Seus filhos e netos até costumavam aparecer, quando não<br />

estavam ocupados usufruindo dos tantos bens..<br />

Em seu olhar cansado, o peso de uma vida que se notava na<br />

quantidade de rugas e nos calos que se amontoaram uns sobre os<br />

outros nas mãos e nos pés para criar os filhos e também os primeiros<br />

netos que já eram casados e já lhe haviam dado seis bisnetos.<br />

Dos filhos, apenas um dos nove morava na fazenda. Todos os<br />

outros queriam distância do lugar, refugiando-se no conforto da<br />

cidade grande, longe da sujeira e do cheiro do gado.<br />

E os dias se passavam com o velhinho fazendo todas as manhãs<br />

o seu trabalho nos corredores, juntando seus bois e nunca deixando<br />

nenhum deles espalhado.<br />

E se guardava mágoas de sua família pelo abandono daquele<br />

que nem viveria mais tanto tempo e lhes deixaria tudo, ninguém<br />

sabe dizer. Seu olhar parecia implorar por um leve resquício de<br />

dignidade em acolher na velhice quem tanto serviu.<br />

Ninguém podia saber se possuía lucidez para se sentir<br />

magoado, pois não se sabia diferenciar os momentos de loucura que<br />

são muitos, dos poucos instantes de lucidez quando falava sobre a<br />

vida na fazenda.<br />

68<br />

rENASCENDO DA CINZA - vITOR MOREIRA

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