You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
pesquisa<br />
Kantar revela que estereótipos <strong>de</strong><br />
gênero imperam na publicida<strong>de</strong><br />
Nova análise do instituto mostra que quase nada mudou: 76% das<br />
mulheres e 71% dos homens dizem que não se sentem representados<br />
Maura Coracini: “As reformas necessárias não foram feitas”<br />
Claudia Penteado<br />
As discussões seguem, inflamadas,<br />
em torno do tema<br />
<strong>de</strong> gêneros na publicida<strong>de</strong>,<br />
no entanto, na prática pouco<br />
parece ter mudado. De acordo<br />
com a Kantar, que analisou<br />
o tema e reuniu dados para<br />
compartilhar insights com o<br />
mercado sobre como os gêneros<br />
feminino e masculino são<br />
representados na publicida<strong>de</strong>,<br />
76% das mulheres e 71% dos<br />
homens acreditam que a forma<br />
como eles estão sendo retratados<br />
na publicida<strong>de</strong> continua<br />
fora da realida<strong>de</strong>. “O que mais<br />
surpreen<strong>de</strong> na nossa análise é<br />
que, apesar <strong>de</strong> o tema ser muito<br />
presente nas discussões nos<br />
últimos anos, notamos que as<br />
reformas necessárias não foram<br />
feitas para quebrar os paradigmas<br />
dos estereótipos entre homens<br />
e mulheres na publicida<strong>de</strong>”,<br />
diz Maura Coracini, lí<strong>de</strong>r<br />
da área <strong>de</strong> mídia & digital da<br />
Kantar e responsável pela condução<br />
da análise no Brasil.<br />
Segundo ela, apesar <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />
parte das comunicações ser<br />
direcionada para as mulheres,<br />
o homem continua com um papel<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>staque <strong>maio</strong>r - falando<br />
sete vezes mais que as mulheres<br />
e aparecendo quatro vezes mais<br />
do que elas nas telas. Além disso,<br />
o estereótipo do papel da mulher<br />
nas comunicações fica bastante<br />
claro quando foram analisadas<br />
as categorias <strong>de</strong> produto.<br />
Para a comunicação <strong>de</strong> produtos<br />
<strong>de</strong> limpeza, por exemplo, 89%<br />
do target continua sendo mulheres,<br />
ainda que 80% dos homens<br />
sejam <strong>de</strong>cisores das compras <strong>de</strong><br />
supermercado.<br />
Maura fala que o que explica<br />
essa realida<strong>de</strong> é que a partir do<br />
momento que se trabalha com<br />
estereótipos ainda presentes na<br />
socieda<strong>de</strong>, a chance <strong>de</strong> a comunicação<br />
retratar os dois gêneros<br />
<strong>de</strong> forma incorreta é muito alta.<br />
“Hoje gran<strong>de</strong> parte do planejamento<br />
e compra <strong>de</strong> mídia está<br />
embasada em dados e algoritmos.<br />
E quando esse olhar está<br />
contaminado por estereótipos<br />
e por velhos paradigmas<br />
e crenças? O quanto <strong>de</strong> fato os<br />
dados não estão contaminados<br />
por velhas formas <strong>de</strong> pensar da<br />
socieda<strong>de</strong>? Será que estamos<br />
mesmo otimizando ao ser precisos,<br />
quando reforçamos padrões<br />
que já não servem mais<br />
para os dias em que estamos<br />
vivendo?”, questiona. A análise<br />
<strong>de</strong>ixa clara, que homens e mulheres<br />
são importantes nas <strong>de</strong>cisões<br />
<strong>de</strong> compras, no entanto<br />
os estereótipos ainda enviesam<br />
nossa forma <strong>de</strong> pensar.<br />
Divulgação<br />
Quando analisada a base<br />
<strong>de</strong> dados <strong>de</strong> estudos pré-teste<br />
para TV, por exemplo, as marcas<br />
não falam só com eles –<br />
pelo contrário, no Brasil, 52%<br />
das campanhas são direcionadas<br />
para mulheres, enquanto<br />
só 11% são focadas para os<br />
homens. Mas, ainda que as<br />
mulheres apareçam na <strong>maio</strong>ria<br />
das campanhas, quando<br />
ambos aparecem, os homens<br />
têm 34% mais chance <strong>de</strong> serem<br />
mostrados <strong>de</strong> forma mais proeminente<br />
do que as mulheres.<br />
O mesmo ocorre quando se<br />
observa algumas categorias <strong>de</strong><br />
“notamos que<br />
as reformas<br />
necessárias não<br />
foram feitas<br />
para quebrar os<br />
paradigmas dos<br />
estereótipos”<br />
consumo: na categoria <strong>de</strong> produtos<br />
<strong>de</strong> limpeza, as mulheres<br />
representam 89% do target das<br />
comunicações, 85% em alimentos,<br />
76% em higiene pessoal<br />
– ainda que 80% dos homens<br />
sejam <strong>de</strong>cisores <strong>de</strong> compra <strong>de</strong><br />
supermercado, junto com 91%<br />
das mulheres.<br />
Na categoria cerveja, por<br />
exemplo, embora as mulheres<br />
já sejam consumidoras que<br />
gastam inclusive mais do que<br />
os homens por ocasião <strong>de</strong> compra,<br />
especialmente em classes<br />
sociais mais altas, a publicida<strong>de</strong><br />
segue direcionada ao público<br />
masculino. O erro mais grave,<br />
segundo Maura, tanto das<br />
marcas quanto das agências,<br />
é não pensar em uma criação<br />
para todos, e uma comunicação<br />
preparada para acompanhar as<br />
conversas com a socieda<strong>de</strong> em<br />
seus diferentes espectros. “É<br />
fundamental estar informado<br />
sobre as principais questões<br />
que estão sendo discutidas<br />
pela socieda<strong>de</strong> nos principais<br />
canais sociais”, diz.<br />
A Kantar i<strong>de</strong>ntificou ainda as<br />
cinco dimensões para a construção<br />
da autoestima: autonomia<br />
sexual e do corpo, autonomia<br />
financeira, liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
expressão e pensamento, conexões<br />
sociais e representativida<strong>de</strong>,<br />
sendo as três primeiras, para<br />
ambos os sexos, as que mais<br />
contribuem nessa construção.<br />
A partir <strong>de</strong>sta análise, quando<br />
questionado o nível <strong>de</strong> autoestima,<br />
as mulheres estão consi<strong>de</strong>ravelmente<br />
mais inseguras que<br />
os homens, mas a boa notícia<br />
é que, com o passar da ida<strong>de</strong>, a<br />
estima feminina aumenta.<br />
52 <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>maio</strong> <strong>de</strong> <strong>2019</strong> - jornal propmark