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última página<br />
Yurchello/iStock<br />
publicida<strong>de</strong><br />
com lado<br />
Stalimir Vieira<br />
marca da re<strong>de</strong> varejista Havan, pouco<br />
A conhecida fora dos estados do Sul, ganhou<br />
evidência a partir do ano passado,<br />
quando seu proprietário resolveu encampar<br />
a campanha <strong>de</strong> Bolsonaro. Ele fez, inclusive,<br />
ações <strong>de</strong> endomarketing, reunindo<br />
funcionários e sugerindo <strong>de</strong>semprego em<br />
massa caso seu candidato não vencesse.<br />
Outras marcas, através <strong>de</strong> manifestações<br />
explícitas <strong>de</strong> seus gestores, também acabaram<br />
associadas ao mesmo posicionamento,<br />
como a Riachuelo e a Centauro.<br />
No caso da Havan, até hoje, ao entrar<br />
em suas lojas, você encontra os aten<strong>de</strong>ntes<br />
vestindo camisetas ver<strong>de</strong>s com mensagens<br />
<strong>de</strong> ufanismo patriótico. Encorajados<br />
pela eleição <strong>de</strong> um candidato improvável<br />
que se propunha a fazer um<br />
governo <strong>de</strong> extrema-direita,<br />
esses empresários terão vislumbrado<br />
no fato uma tendência<br />
<strong>de</strong> marketing. Até 31 <strong>de</strong> março<br />
estavam reinando sozinhos na<br />
“publicida<strong>de</strong> com lado”. Foi<br />
quando a cerveja Rio Carioca<br />
publicou anúncio, sugerindo<br />
que não fosse bebida em comemoração<br />
ao golpe militar <strong>de</strong><br />
1964, muito enaltecido pelo presi<strong>de</strong>nte<br />
eleito. Inaugurava o conceito <strong>de</strong> marca <strong>de</strong><br />
oposição. Mais recentemente, o “lado” da<br />
cervejaria ganhou a companhia do Burger<br />
King, que convidou o casting do comercial<br />
do Banco do Brasil, vetado por Bolsonaro,<br />
para gravar um anúncio.<br />
Em mais <strong>de</strong> 40 anos <strong>de</strong> carreira, não<br />
lembro <strong>de</strong> ver marcas assumindo posições<br />
políticas <strong>de</strong> maneira tão explícita. Isso<br />
é diferente, por exemplo, do que fazia a<br />
Bombril, através <strong>de</strong> interpretações <strong>de</strong> seu<br />
garoto-propaganda, Carlinhos Moreno. Ali<br />
“AgorA<br />
estAmos<br />
fAlAndo <strong>de</strong><br />
Assumir umA<br />
posturA<br />
diAnte do<br />
governo”<br />
não havia posicionamento político, apenas<br />
o uso <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> adotar o senso<br />
comum como “acabar com a sujeira na política”.<br />
Agora não. Agora estamos falando<br />
<strong>de</strong> assumir uma postura diante do governo<br />
e assinar embaixo, custe o que custar. Vale<br />
a pena? Se consi<strong>de</strong>rarmos o momento em<br />
que Bolsonaro encarnou o moralizador <strong>de</strong>stemido<br />
terá sido conveniente para certas<br />
marcas ousarem e seguirem a manada. Por<br />
que é ousadia? Porque não se sabe o dia <strong>de</strong><br />
amanhã e as marcas têm objetivos perenes.<br />
O fato <strong>de</strong> começarem a pipocar mensagens<br />
<strong>de</strong> marcas em “oposição” <strong>de</strong>monstra isso.<br />
Provavelmente <strong>de</strong>tectaram sinais <strong>de</strong> que<br />
estarão melhor situadas “contra” do que “a<br />
favor” do governo. Porém, em tempos <strong>de</strong><br />
grossa libertinagem nas re<strong>de</strong>s sociais é preciso<br />
tomar cuidado redobrado.<br />
Des<strong>de</strong> que algumas marcas<br />
assumiram essas posições <strong>de</strong><br />
pró e contra, já recebi na minha<br />
timeline inúmeras prováveis<br />
fake news que fariam ruborizar<br />
o diabo. Des<strong>de</strong> a <strong>de</strong>núncia <strong>de</strong><br />
um escandaloso caso <strong>de</strong> sonegação<br />
fiscal, <strong>de</strong>vidamente perdoado<br />
como “retribuição”, até uma<br />
foto, naturalmente em plano<br />
fechado, <strong>de</strong> um hambúrguer recheado<br />
<strong>de</strong> larvas. Acredito que o marketing<br />
das marcas não está preparado para encarar<br />
essa guerra <strong>de</strong> guerrilha. Basta ver como lidam<br />
com os problemas verda<strong>de</strong>iros <strong>de</strong>nunciados<br />
nas re<strong>de</strong>s: quase sempre <strong>de</strong> maneira<br />
atabalhoada, que só faz aumentar a percepção<br />
<strong>de</strong> culpa. Diferentemente do marketing<br />
político, calejado por um longo histórico <strong>de</strong><br />
brigas sem regras, o marketing das marcas<br />
está acostumado a tratar apenas com o lado<br />
positivo das relações. É, portanto, no mínimo<br />
curioso ver como a “publicida<strong>de</strong> com<br />
lado” avança. Se como tendência ou apenas<br />
como tentativa pontual.<br />
Stalimir Vieira é diretor da Base Marketing<br />
stalimircom@gmail.com<br />
58 <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>maio</strong> <strong>de</strong> <strong>2019</strong> - jornal propmark