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edição de 13 de maio de 2019

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última página<br />

Yurchello/iStock<br />

publicida<strong>de</strong><br />

com lado<br />

Stalimir Vieira<br />

marca da re<strong>de</strong> varejista Havan, pouco<br />

A conhecida fora dos estados do Sul, ganhou<br />

evidência a partir do ano passado,<br />

quando seu proprietário resolveu encampar<br />

a campanha <strong>de</strong> Bolsonaro. Ele fez, inclusive,<br />

ações <strong>de</strong> endomarketing, reunindo<br />

funcionários e sugerindo <strong>de</strong>semprego em<br />

massa caso seu candidato não vencesse.<br />

Outras marcas, através <strong>de</strong> manifestações<br />

explícitas <strong>de</strong> seus gestores, também acabaram<br />

associadas ao mesmo posicionamento,<br />

como a Riachuelo e a Centauro.<br />

No caso da Havan, até hoje, ao entrar<br />

em suas lojas, você encontra os aten<strong>de</strong>ntes<br />

vestindo camisetas ver<strong>de</strong>s com mensagens<br />

<strong>de</strong> ufanismo patriótico. Encorajados<br />

pela eleição <strong>de</strong> um candidato improvável<br />

que se propunha a fazer um<br />

governo <strong>de</strong> extrema-direita,<br />

esses empresários terão vislumbrado<br />

no fato uma tendência<br />

<strong>de</strong> marketing. Até 31 <strong>de</strong> março<br />

estavam reinando sozinhos na<br />

“publicida<strong>de</strong> com lado”. Foi<br />

quando a cerveja Rio Carioca<br />

publicou anúncio, sugerindo<br />

que não fosse bebida em comemoração<br />

ao golpe militar <strong>de</strong><br />

1964, muito enaltecido pelo presi<strong>de</strong>nte<br />

eleito. Inaugurava o conceito <strong>de</strong> marca <strong>de</strong><br />

oposição. Mais recentemente, o “lado” da<br />

cervejaria ganhou a companhia do Burger<br />

King, que convidou o casting do comercial<br />

do Banco do Brasil, vetado por Bolsonaro,<br />

para gravar um anúncio.<br />

Em mais <strong>de</strong> 40 anos <strong>de</strong> carreira, não<br />

lembro <strong>de</strong> ver marcas assumindo posições<br />

políticas <strong>de</strong> maneira tão explícita. Isso<br />

é diferente, por exemplo, do que fazia a<br />

Bombril, através <strong>de</strong> interpretações <strong>de</strong> seu<br />

garoto-propaganda, Carlinhos Moreno. Ali<br />

“AgorA<br />

estAmos<br />

fAlAndo <strong>de</strong><br />

Assumir umA<br />

posturA<br />

diAnte do<br />

governo”<br />

não havia posicionamento político, apenas<br />

o uso <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> adotar o senso<br />

comum como “acabar com a sujeira na política”.<br />

Agora não. Agora estamos falando<br />

<strong>de</strong> assumir uma postura diante do governo<br />

e assinar embaixo, custe o que custar. Vale<br />

a pena? Se consi<strong>de</strong>rarmos o momento em<br />

que Bolsonaro encarnou o moralizador <strong>de</strong>stemido<br />

terá sido conveniente para certas<br />

marcas ousarem e seguirem a manada. Por<br />

que é ousadia? Porque não se sabe o dia <strong>de</strong><br />

amanhã e as marcas têm objetivos perenes.<br />

O fato <strong>de</strong> começarem a pipocar mensagens<br />

<strong>de</strong> marcas em “oposição” <strong>de</strong>monstra isso.<br />

Provavelmente <strong>de</strong>tectaram sinais <strong>de</strong> que<br />

estarão melhor situadas “contra” do que “a<br />

favor” do governo. Porém, em tempos <strong>de</strong><br />

grossa libertinagem nas re<strong>de</strong>s sociais é preciso<br />

tomar cuidado redobrado.<br />

Des<strong>de</strong> que algumas marcas<br />

assumiram essas posições <strong>de</strong><br />

pró e contra, já recebi na minha<br />

timeline inúmeras prováveis<br />

fake news que fariam ruborizar<br />

o diabo. Des<strong>de</strong> a <strong>de</strong>núncia <strong>de</strong><br />

um escandaloso caso <strong>de</strong> sonegação<br />

fiscal, <strong>de</strong>vidamente perdoado<br />

como “retribuição”, até uma<br />

foto, naturalmente em plano<br />

fechado, <strong>de</strong> um hambúrguer recheado<br />

<strong>de</strong> larvas. Acredito que o marketing<br />

das marcas não está preparado para encarar<br />

essa guerra <strong>de</strong> guerrilha. Basta ver como lidam<br />

com os problemas verda<strong>de</strong>iros <strong>de</strong>nunciados<br />

nas re<strong>de</strong>s: quase sempre <strong>de</strong> maneira<br />

atabalhoada, que só faz aumentar a percepção<br />

<strong>de</strong> culpa. Diferentemente do marketing<br />

político, calejado por um longo histórico <strong>de</strong><br />

brigas sem regras, o marketing das marcas<br />

está acostumado a tratar apenas com o lado<br />

positivo das relações. É, portanto, no mínimo<br />

curioso ver como a “publicida<strong>de</strong> com<br />

lado” avança. Se como tendência ou apenas<br />

como tentativa pontual.<br />

Stalimir Vieira é diretor da Base Marketing<br />

stalimircom@gmail.com<br />

58 <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>maio</strong> <strong>de</strong> <strong>2019</strong> - jornal propmark

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