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última página<br />
pop_jop/iStock<br />
a Embratur e<br />
o amadorismo<br />
oficial<br />
Stalimir Vieira<br />
Graças à intervenção do Paulo Gue<strong>de</strong>s,<br />
que fala sério quando se refere à reforma<br />
da Previdência, uma campanha criada e<br />
produzida internamente pela Secom foi vetada,<br />
quando apresentada ao ministro, por<br />
amadora. Chamaram, então, uma agência<br />
<strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> para resolver o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong><br />
buscar a simpatia da opinião pública para<br />
com a reforma. Mas repito: isso só aconteceu<br />
porque um sujeito dotado <strong>de</strong> alguma<br />
luci<strong>de</strong>z interveio. Estivesse o assunto nas<br />
mãos <strong>de</strong> uma Damares da vida, por exemplo,<br />
a porcaria teria ido ao ar<br />
sem maiores problemas.<br />
Quando a turminha da Embratur<br />
resolve criar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />
casa uma nova “marca” e um<br />
novo “conceito” para a empresa,<br />
na verda<strong>de</strong> não está<br />
inventando moda. Apenas<br />
cumpre o padrão <strong>de</strong> comunicação<br />
adotado pelo novo governo: zero <strong>de</strong><br />
bom gosto e zero <strong>de</strong> inteligência.<br />
Na concepção <strong>de</strong> Bolsonaro e <strong>de</strong> seu<br />
“i<strong>de</strong>ário”, a publicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> não<br />
tem nada a contribuir para a melhoria da<br />
imagem do Brasil e dos brasileiros. Pelo<br />
contrário, faz questão <strong>de</strong> que o baixo nível<br />
dê o tom da comunicação, projetando<br />
a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que somos um país <strong>de</strong> toscos e<br />
ignorantes.<br />
“O curiOsO é que<br />
essa turma está<br />
apenas piOrandO<br />
algumas<br />
iniciativas dO pt”<br />
Enquanto governos conscientes das<br />
limitações <strong>de</strong> seus países para produzir<br />
campanhas <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> contratam agências<br />
internacionais para se ven<strong>de</strong>r ao mundo,<br />
o governo brasileiro faz questão <strong>de</strong><br />
dispensar a notória qualificação das suas<br />
e saúda o amadorismo como prática. O<br />
curioso é que essa turma está apenas piorando<br />
algumas iniciativas do PT, notórias,<br />
principalmente sob o governo Lula, quando<br />
as campanhas governamentais assumiram<br />
um estilo bem mais popularesco.<br />
Se nos governos petistas havia, digamos,<br />
uma intenção populista nos conceitos,<br />
agora a coisa piora um pouco, pois se trata,<br />
aparentemente, da tentativa <strong>de</strong> Bolsonaro<br />
<strong>de</strong> retribuir àqueles que o elegeram, se comunicando<br />
do modo em que acredita ser o<br />
do gosto <strong>de</strong> seu eleitorado.<br />
Tivesse votado nele, ficaria bastante incomodado<br />
por estar sendo confundido com<br />
essa pobreza cultural e estética. Acredito<br />
que por mais que o objetivo tenha sido tirar<br />
o po<strong>de</strong>r do petismo, do<br />
lulismo, do comunismo, do<br />
estrabismo ou do aeromo<strong>de</strong>lismo,<br />
eleitores civilizados<br />
certamente não supunham<br />
que eleger Bolsonaro se tornasse<br />
tão vexatório.<br />
Os fatos, porém, estão aí<br />
a comprovar o preço pago. A<br />
nova comunicação da Embratur vem apenas<br />
fazer companhia às lives tipo organizações<br />
Tabajara semanais do presi<strong>de</strong>nte e aos<br />
tuítes <strong>de</strong> português capenga da família.<br />
Ou mesmo às invencionices atentatórias<br />
a qualquer teoria <strong>de</strong> naming, como o tal<br />
“Future-se”, nome inventado para o lançamento<br />
do plano para a educação por outra<br />
figura exótica <strong>de</strong>sse governo, Abraham<br />
Weintraub (quem não lembra do patético<br />
ví<strong>de</strong>o do guarda-chuva?).<br />
É doloroso pensar que, por pelo menos<br />
mais três anos e meio, veremos a comunicação<br />
institucional do Brasil se apresentando<br />
<strong>de</strong> um jeito tão <strong>de</strong>squalificado, coisa que<br />
não ocorreu nem na ditadura. Pelo contrário,<br />
a ditadura prestigiava a publicida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
qualida<strong>de</strong>. Pena que Bolsonaro tenha preferido,<br />
com relação à época, aprovar apenas<br />
as torturas do Ustra.<br />
Stalimir Vieira é diretor da Base Marketing<br />
stalimircom@gmail.com<br />
54 <strong>29</strong> <strong>de</strong> <strong>julho</strong> <strong>de</strong> <strong>2019</strong> - jornal propmark