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A seleção sem negros perdeu duas das três partidas e foi eliminada
na primeira fase.
Galeano, em “Futebol ao sol e à sombra”, disse que “o
futebol, metáfora da guerra, pode transformar-se, às vezes, em
guerra de verdade. E então a morte súbita deixa de ser somente
o nome de uma dramática maneira de desempatar partidas”.
E esse desempate metafórico, aparentemente, pode estar mais
próximo do que imaginamos.
Senão, vejamos. Quem imaginaria, durante a campanha
eleitoral e as pesquisas de votos, que o inconsequente Donald
Trump seria eleito presidente dos Estados Unidos?! Penso,
paro, reflito, avalio, me desespero, só de cogitar a possibilidade
de um Bolsonaro, de qualquer geração, ser eleito um dia presidente
do nosso país. Mas porque não, se parece que tudo pode
no Brasil?! Comentam pelos corredores que não existe pecado
abaixo da linha do Equador.
Aliás, fico aqui imaginando como seria, caso alguém assim,
com complexo de Deus, sem ser Deus de verdade, decidisse
de uma hora pra outra seguir a cartilha preconceituosa de
Epitácio em 1921.
Nossa Seleção Canarinha jogaria armada até os dentes,
para torturar nossos adversários até a morte, digo, até nos entregarem
o jogo de mão beijada.
Nosso artilheiro de preferência sexual (ou de gênero)
não aceito pelo poder, finalmente poderia sair do armário. Não
por bondade do senhor presidente, mas porque fora expulso
de campo para se tratar numa clínica de reabilitação cristã.
O ponta esquerda negro, vindo da favela, ídolo da criançada,
que fazia a alegria da torcida com seus dribles desconcertantes,
deixaria de ser convocado, sob o risco de humilhação
coletiva. Nem a proibição de levar bananas ao estádio impedi-
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