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Lembro e lamento com pesar dos quase dois milhões
de chineses expulsos de suas casas para dar lugar às instalações
olímpicas de Pequim 2008 e por aqueles 42 milhões de dólares
gastos nos jogos não terem servido, mesmo que minimamente,
para reduzir o sofrimento dos moradores de Sichuan, devastada
por um terremoto dias antes dos Jogos.
Enquanto a televisão jogava flores na tradicional maratona
da tocha olímpica, idealizada pela primeira vez nas
Olimpíadas da Alemanha, em 1936, pelo governo nazista, com
intuito obscuro de difundir a ideologia doentia e ariana de
Adolf Hitler, eu sintia pelos desrespeitos aos direitos humanos
na China Olímpica. Pelos abusos do governo, pelos despejos
forçados, pela perseguição aos críticos e pela violação aos direitos
de liberdade de expressão e de imprensa.
O que presenciei naquele sábado, 4 de junho de 2016,
percorrendo as ruas de Natal, da Fortaleza dos Reis Magos, das
ruas da velha, abandonada e deteriorada Ribeira, das ladeiras
da Cidade Alta e dos cruzamentos de Ponta Negra, foi a realização
de um evento esplendidamente bonito, estruturado,
organizado e controlado (quase militar), que força os meios de
comunicação a agirem quase como canais de propaganda do
espírito feliz das Olimpíadas.
Mas que bom que ainda há espaço para o outro lado
da notícia! O lado da bandinha de carnaval e sua fanfarra de
reivindicação contra o não pagamento por parte da Prefeitura.
Dos vários manifestantes com faixas e cartazes de “Fora Temer”,
no cruzamento da feirinha de Ponta Negra, e do senhor
com uma tocha gigante, correndo ao lado da original, com
dizeres fazendo referência aos últimos - e não poucos - casos
de corrupção descobertos no país.
A festa é bonita, mas tem um preço incalculável. Um
preço jorrado por sangue e suor. Por trás do espírito olímpico
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