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segurança alimentar ENERGIA<br />
“Repercussões são piores<br />
que a própria doença”<br />
Cerca de 6,7 milhões de crianças com<br />
menos de cinco anos correm o risco de<br />
sofrer níveis perigosos de desnutrição<br />
este ano devido à pandemia do novo<br />
coronavírus, segundo o Unicef. A partir<br />
de uma análise publicada na revista The<br />
Lancet, em Julho, calcula-se que 80%<br />
das crianças em risco vivem na África<br />
subsaariana e no sul da Ásia. “É cada<br />
vez mais claro que as repercussões<br />
da pandemia estão a prejudicar as<br />
crianças mais do que a própria doença”,<br />
conclui a directora executiva da Unicef,<br />
Henrietta Fore. O agravamento da<br />
dieta e a interrupção dos serviços de<br />
nutrição vão piorar outras formas de<br />
desnutrição em crianças e mulheres,<br />
como o nanismo, deficiência de<br />
micronutrientes, sobrepeso e obesidade.<br />
Segundo a Unicef, nos primeiros meses<br />
da pandemia houve uma redução geral<br />
de 30% na cobertura de serviços vitais<br />
de nutrição, como a suplementação<br />
de vitaminas, com alguns países a<br />
registarem uma interrupção muito maior.<br />
Os esforços do Governo no combate à<br />
desnutrição crónica já tinham ganho<br />
alguma expressão em 2016, quando o<br />
Conselho de Ministros aprovou o regulamento<br />
da fortificação dos alimentos<br />
que gera a obrigatoriedade da fortificação<br />
de farinhas de milho e de trigo,<br />
óleo alimentar, açúcar e sal. Nessa<br />
mesma altura, o regulamento apresentou<br />
metas bem definidas: beneficiar<br />
1,8 milhões de pessoas com o programa<br />
de fortificação da farinha de<br />
milho; 11 milhões de pessoas com a fortificação<br />
da farinha de trigo; 11,5 milhões<br />
de pessoas com o óleo alimentar<br />
e; 13 milhões com o açúcar.<br />
O programa, que tinha sido lançado<br />
três anos antes, em 2013, compreende,<br />
por exemplo, a fortificação do sal com<br />
iodo, o óleo com a vitamina A e fortificação<br />
da farinha de trigo e de milho<br />
com ferro, ácido fólico, vitaminas<br />
de complexo B e zinco, cuja deficiência<br />
contribui para a alta prevalência de<br />
anemias e das infecções recorrentes<br />
nas crianças. Na altura, esta estratégia<br />
foi considerada a mais eficiente no<br />
controlo das deficiências em micro nutrientes<br />
por adicionar apenas 1% nos<br />
custos aos consumidores. Ficou estabelecido<br />
que as empresas que não aderissem<br />
à fortificação de alimentos nos<br />
termos da legislação eram sujeitas à<br />
penalização.<br />
Todos os processos no quadro deste<br />
programa são liderados pelos ministérios<br />
da Indústria e Comércio e da Saúde,<br />
na qualidade de presidente e vice-<br />
-presidente do Comité Nacional para a<br />
Fortificação de Alimentos (CONFAM).<br />
2021 traz um cenário difícil<br />
Além de Moçambique, no mapa da<br />
África Austral, a directora regional<br />
do PMA destacou a grave situação do<br />
Zimbabué, país com 16 milhões de habitantes<br />
e com as piores estatísticas<br />
de falta de alimentos, com cerca de 4,3<br />
milhões de pessoas a precisar de ajuda<br />
urgente.<br />
O contexto comum é agravado por<br />
uma prolongada crise socioeconómica.<br />
Lola Castro referiu que na África Austral,<br />
entre os próximos meses e 2021,<br />
a insegurança alimentar pode atingir<br />
níveis “que já não se verificavam há<br />
vários anos”, atingindo 44,8 milhões de<br />
pessoas (em comparação com 41,2 no<br />
ano passado) sobretudo devido à seca<br />
e às dificuldades económicas ligadas à<br />
pandemia.<br />
www.economiaemercado.co.mz | <strong>Setembro</strong> <strong>2020</strong><br />
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