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Economia & Mercado Setembro 2020

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Nação<br />

“É melhor ter uma inflação regulada, mas que represente o ‘espelho’<br />

da economia, do que uma inflação que resulte de cortes que se fazem<br />

administrativamente pelo Banco Central ao sistema financeiro”<br />

porque há menos dinheiro e porque<br />

este está mais caro. Portanto, a fórmula<br />

do Banco Central pode funcionar<br />

bem a curto prazo, mas não a longo<br />

prazo numa economia em contracção.<br />

A obsessão pela taxa de inflação a um<br />

dígito está a prejudicar esta economia.<br />

Quais seriam os diferentes modelos<br />

de política que poderiam ser aplicados<br />

para lidar com este dilema sem<br />

causar, digamos, feitos colaterais?<br />

O que temos assistido, infelizmente, é<br />

que o Banco Central tem políticas muito<br />

restritivas, muito inflexíveis, muito<br />

penalizadoras para a produção. Mas<br />

também precisamos de uma política<br />

fiscal que venha do Ministério da <strong>Economia</strong><br />

e não das Finanças (enfatizou,<br />

lembrando que, actualmente, “<strong>Economia</strong>”<br />

e “Finanças” estão aglutinadas<br />

no mesmo ministério – o da <strong>Economia</strong><br />

e Finanças), com incentivos à produção.<br />

Isto é, se o Banco Central comprime<br />

a disponibilização do financiamento<br />

ao sector produtivo, o Ministério<br />

da <strong>Economia</strong>, através de uma política<br />

económica e fiscal de estímulo,<br />

pode alimentar o mercado com recursos<br />

que permitam que o sector<br />

produtivo tenha procura e possa ter<br />

produção, mais emprego, mais rendimentos<br />

para as famílias e para as empresas<br />

e, em último plano, haja crescimento<br />

real da economia que, no ciclo,<br />

possa contrapor os efeitos do controlo<br />

da inflação. Por exemplo, o Millennium<br />

Challenge Corporation (MCC) –<br />

agência norte-americana de apoio ao<br />

desenvolvimento externo, que disponibiliza<br />

fundos através do Millennium<br />

Challenge Account (MCA) a vários países,<br />

incluindo Moçambique – é o caminho<br />

menos nocivo enquanto mecanismo<br />

de deflação importada, por tratar-<br />

-se de uma injecção de divisas no sistema<br />

financeiro para apoiar sectores<br />

muito concretos, que vão depois demandar<br />

produtos e serviços, e aumentar<br />

o emprego, a produção, as infra-estruturas,<br />

e a capacidade de ampliar<br />

as exportações.<br />

Esta seria uma abordagem complementar<br />

às medidas do Banco Central.<br />

E quanto ao próprio regulador,<br />

que caminhos deveria tomar para<br />

minorar as fragilidades ao nível<br />

da inflação e das taxas de câmbio?<br />

Por exemplo, não entendo como um<br />

país com as características deste tecido<br />

produtivo continua a insistir numa<br />

política do controlo de inflação. Obviamente<br />

que ninguém quer uma inflação<br />

descontrolada, mas uma inflação<br />

controlada aumenta dinheiro para os<br />

exportadores, estimula a produção e<br />

funciona como um mecanismo que dinamiza<br />

a economia. A longo prazo, aumenta<br />

o rendimento e, se assim é vai<br />

aumentar o poder de compra das famílias.<br />

A minha sugestão, como economista,<br />

é que uma economia como a<br />

nossa, que não é estável nem altamente<br />

produtiva, não deve ter uma inflação<br />

estática, inflexível porque não ajuda<br />

a termos mais estímulo à exportação<br />

e aos investimentos. É melhor ter<br />

uma inflação regulada, mas que represente<br />

o “espelho” da economia, do<br />

que uma inflação que resulte de cortes<br />

que se fazem administrativamente<br />

pelo Banco Central ao sistema financeiro.<br />

Mas a culpa é do Ministério<br />

da <strong>Economia</strong> que não faz nada. O Banco<br />

Central até faz. Mas o Ministério da<br />

<strong>Economia</strong> não tem um programa de<br />

estímulo ou um programa de desenvolvimento<br />

em que diz: “o Banco Central<br />

está a limitar-nos, mas vamos nós<br />

reinventar-nos encontrando parceiros<br />

que apoiem a produção”. Esta produção<br />

aliviaria a carga do Banco Central<br />

criando hipóteses para ampliar<br />

postos de trabalho.<br />

Quais são os cenários que se esperam<br />

ao longo do presente ano em<br />

relação ao comportamento do metical,<br />

olhando para a prevalência do<br />

Covid-19 e o gradual alívio às medidas<br />

de prevenção?<br />

Acredito que a taxa de câmbio é capaz<br />

de atingir 75 meticais por dólar, porque,<br />

visualmente, não há uma resposta<br />

produtiva para fazer face à Covid-19.<br />

A partir de 2021, há muitos fenómenos<br />

que podem ocorrer e reverter esta situação<br />

de cariz monetário, mas para já,<br />

até ao fim deste ano, continuaremos a<br />

ter os mesmos pressupostos que a mineradora<br />

Vale tinha para lidar com esta<br />

situação (quando decidiu paralisar a<br />

produção por três meses para ajustar<br />

questões laborais internas, lembrando<br />

que esta empresa é responsável pela<br />

maior parte da produção de carvão,<br />

cujo peso nas exportações totais é largamente<br />

maior). Por outro lado, o Banco<br />

de Moçambique vai continuar a lutar<br />

com todas as armas possíveis para<br />

que a desvalorização não seja tão grave<br />

e, se necessário, vai colocar a moeda externa<br />

no sistema financeiro<br />

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www.economiaemercado.co.mz | <strong>Setembro</strong> <strong>2020</strong>

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