You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Nação<br />
“É melhor ter uma inflação regulada, mas que represente o ‘espelho’<br />
da economia, do que uma inflação que resulte de cortes que se fazem<br />
administrativamente pelo Banco Central ao sistema financeiro”<br />
porque há menos dinheiro e porque<br />
este está mais caro. Portanto, a fórmula<br />
do Banco Central pode funcionar<br />
bem a curto prazo, mas não a longo<br />
prazo numa economia em contracção.<br />
A obsessão pela taxa de inflação a um<br />
dígito está a prejudicar esta economia.<br />
Quais seriam os diferentes modelos<br />
de política que poderiam ser aplicados<br />
para lidar com este dilema sem<br />
causar, digamos, feitos colaterais?<br />
O que temos assistido, infelizmente, é<br />
que o Banco Central tem políticas muito<br />
restritivas, muito inflexíveis, muito<br />
penalizadoras para a produção. Mas<br />
também precisamos de uma política<br />
fiscal que venha do Ministério da <strong>Economia</strong><br />
e não das Finanças (enfatizou,<br />
lembrando que, actualmente, “<strong>Economia</strong>”<br />
e “Finanças” estão aglutinadas<br />
no mesmo ministério – o da <strong>Economia</strong><br />
e Finanças), com incentivos à produção.<br />
Isto é, se o Banco Central comprime<br />
a disponibilização do financiamento<br />
ao sector produtivo, o Ministério<br />
da <strong>Economia</strong>, através de uma política<br />
económica e fiscal de estímulo,<br />
pode alimentar o mercado com recursos<br />
que permitam que o sector<br />
produtivo tenha procura e possa ter<br />
produção, mais emprego, mais rendimentos<br />
para as famílias e para as empresas<br />
e, em último plano, haja crescimento<br />
real da economia que, no ciclo,<br />
possa contrapor os efeitos do controlo<br />
da inflação. Por exemplo, o Millennium<br />
Challenge Corporation (MCC) –<br />
agência norte-americana de apoio ao<br />
desenvolvimento externo, que disponibiliza<br />
fundos através do Millennium<br />
Challenge Account (MCA) a vários países,<br />
incluindo Moçambique – é o caminho<br />
menos nocivo enquanto mecanismo<br />
de deflação importada, por tratar-<br />
-se de uma injecção de divisas no sistema<br />
financeiro para apoiar sectores<br />
muito concretos, que vão depois demandar<br />
produtos e serviços, e aumentar<br />
o emprego, a produção, as infra-estruturas,<br />
e a capacidade de ampliar<br />
as exportações.<br />
Esta seria uma abordagem complementar<br />
às medidas do Banco Central.<br />
E quanto ao próprio regulador,<br />
que caminhos deveria tomar para<br />
minorar as fragilidades ao nível<br />
da inflação e das taxas de câmbio?<br />
Por exemplo, não entendo como um<br />
país com as características deste tecido<br />
produtivo continua a insistir numa<br />
política do controlo de inflação. Obviamente<br />
que ninguém quer uma inflação<br />
descontrolada, mas uma inflação<br />
controlada aumenta dinheiro para os<br />
exportadores, estimula a produção e<br />
funciona como um mecanismo que dinamiza<br />
a economia. A longo prazo, aumenta<br />
o rendimento e, se assim é vai<br />
aumentar o poder de compra das famílias.<br />
A minha sugestão, como economista,<br />
é que uma economia como a<br />
nossa, que não é estável nem altamente<br />
produtiva, não deve ter uma inflação<br />
estática, inflexível porque não ajuda<br />
a termos mais estímulo à exportação<br />
e aos investimentos. É melhor ter<br />
uma inflação regulada, mas que represente<br />
o “espelho” da economia, do<br />
que uma inflação que resulte de cortes<br />
que se fazem administrativamente<br />
pelo Banco Central ao sistema financeiro.<br />
Mas a culpa é do Ministério<br />
da <strong>Economia</strong> que não faz nada. O Banco<br />
Central até faz. Mas o Ministério da<br />
<strong>Economia</strong> não tem um programa de<br />
estímulo ou um programa de desenvolvimento<br />
em que diz: “o Banco Central<br />
está a limitar-nos, mas vamos nós<br />
reinventar-nos encontrando parceiros<br />
que apoiem a produção”. Esta produção<br />
aliviaria a carga do Banco Central<br />
criando hipóteses para ampliar<br />
postos de trabalho.<br />
Quais são os cenários que se esperam<br />
ao longo do presente ano em<br />
relação ao comportamento do metical,<br />
olhando para a prevalência do<br />
Covid-19 e o gradual alívio às medidas<br />
de prevenção?<br />
Acredito que a taxa de câmbio é capaz<br />
de atingir 75 meticais por dólar, porque,<br />
visualmente, não há uma resposta<br />
produtiva para fazer face à Covid-19.<br />
A partir de 2021, há muitos fenómenos<br />
que podem ocorrer e reverter esta situação<br />
de cariz monetário, mas para já,<br />
até ao fim deste ano, continuaremos a<br />
ter os mesmos pressupostos que a mineradora<br />
Vale tinha para lidar com esta<br />
situação (quando decidiu paralisar a<br />
produção por três meses para ajustar<br />
questões laborais internas, lembrando<br />
que esta empresa é responsável pela<br />
maior parte da produção de carvão,<br />
cujo peso nas exportações totais é largamente<br />
maior). Por outro lado, o Banco<br />
de Moçambique vai continuar a lutar<br />
com todas as armas possíveis para<br />
que a desvalorização não seja tão grave<br />
e, se necessário, vai colocar a moeda externa<br />
no sistema financeiro<br />
36<br />
www.economiaemercado.co.mz | <strong>Setembro</strong> <strong>2020</strong>