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Economia & Mercado Setembro 2020

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o metical<br />

ajudado Moçambique. Desde Janeiro<br />

(ver gráficos nestas páginas), perdeu<br />

valor face ao metical. “Se não fosse assim,<br />

teríamos níveis de inflação muito<br />

diferentes. Em 2015/2016, houve grande<br />

impacto na inflação, o rand estava<br />

a 11 ou 12, face a cerca de 4 hoje”, diz o<br />

economista-chefe do Absa.<br />

“Tendo em conta que, para já, ainda<br />

não há impacto na inflação, não intervir<br />

é uma postura adequada do ponto<br />

de vista macroeconómico, porque senão<br />

o que estaríamos a ver era uma<br />

deflação, o que seria péssimo nesta<br />

fase”, reforça o economista-chefe do<br />

Absa, que ‘aposta’ num dólar a valer<br />

73 até ao final do ano.<br />

É, de facto, esta a postura que tem sido<br />

assumida pelo Banco de Moçambique<br />

e que foi revelada no artigo anterior<br />

da E&M. O Banco de Moçambique não<br />

só adimite que não há grandes motivos<br />

para intervir como garante que<br />

está atento a reagir caso haja sinais de<br />

risco de uma inflação mais expressiva.<br />

Banco central deve manter-se ‘fora de jogo’<br />

Também Tiago Dionísio, economista-<br />

-chefe da Eaglestone Securities, presente<br />

no mercado moçambicano há<br />

vários anos, concorda que o Banco<br />

Central se mantenha, para já, ‘fora<br />

de jogo’. “É sempre mais desejável<br />

as autoridades deixarem o mercado<br />

funcionar livremente, sem terem<br />

de intervir”, afirma, acrescentando<br />

que “a depreciação do metical que se<br />

tem verificado ao longo do ano não<br />

exportações do País, colocando maior<br />

pressão sobre o desequilíbrio nas contas<br />

externas e, por conseguinte, no<br />

metical”, antecipa.<br />

Muitos dólares a caminho<br />

Entretanto, quando entrar em operação<br />

o projecto de gás da Total na bacia<br />

de Rovuma, Cabo Delgado – recorde-<br />

-se que a petrolífera francesa já assegurou<br />

o financiamento de mais de 16<br />

mil milhões de dólares para garantir<br />

o maior IDE de sempre em África –, a<br />

situação poderá mudar.<br />

“Podemos esperar uma apreciação do<br />

metical, tendo em conta que a existência<br />

de mais dólares na economia vai<br />

reduzir a pressão de liquidez em moeda<br />

estrangeira e nas reservas internacionais<br />

do País”, explica o economista-chefe<br />

da Eaglestone Securities.<br />

Bernardo Aparício concorda. “Para<br />

se alterar o quadro, terá de haver<br />

um aumento das exportações, que as<br />

grandes exportadoras, como a Vale,<br />

voltem a níveis de 2018/2019, e que o<br />

IDE retome. O avançar do projecto da<br />

Total vai de certeza contribuir para<br />

haver mais IDE e mais dólares na economia”,<br />

considera, concluindo que “teremos<br />

um metical a voltar para níveis<br />

de 60, ou um novo normal na ordem<br />

dos 70”.<br />

Francisco Ferreira dos Santos, administrador<br />

da JFS Holding, presente na<br />

agricultura, agro-indústria, metalomecânica,<br />

automóvel, energia e imobiliário,<br />

lembra os erros cometidos<br />

“É sempre mais desejável as autoridades deixarem o mercado funcionar<br />

livremente, sem terem de intervir... a depreciação do metical que se tem<br />

verificado ao longo do ano não tem tido grande impacto na inflação”<br />

de 100 milhões de dólares, garantindo<br />

apenas 2,8 meses de importações.<br />

No ano seguinte, houve um aumento<br />

para 125 milhões de dólares, mas ainda<br />

assim apenas estavam garantidos<br />

três meses de importações. Hoje, estão<br />

em quase 270 milhões de dólares e<br />

asseguram 4,5 meses de importações.<br />

“Se o Banco Central quisesse manter<br />

administrativamente as taxas na<br />

ordem dos 60 [1 dólar=60 meticais] poderia<br />

fazê-lo, porque tem reservas<br />

para isso, mas está a deixar o mercado<br />

funcionar”, apoiando apenas as<br />

importações de combustíveis, explica<br />

Bernardo Aparício. A desvalorização<br />

da moeda sul-africana, reforça, tem<br />

tem tido grande impacto na inflação”.<br />

Em Julho, de acordo com dados do Banco<br />

Central, a inflação, em termos homólogos,<br />

foi de 2,8%, ligeiramente acima<br />

dos 2,69% de Junho, mas abaixo dos<br />

3% de Junho. Tiago Dionísio lembra<br />

que “a economia mundial enfrenta actualmente<br />

uma grave recessão, espera-se<br />

que a maioria dos países registe<br />

uma forte contração em <strong>2020</strong>. A economia<br />

moçambicana não deverá ser das<br />

mais atingidas em termos de impacto<br />

nas perspectivas de crescimento económico<br />

nos próximos tempos”.<br />

“Mesmo assim, não fica alheia aos efeitos<br />

que a actual recessão mundial venha<br />

a ter nos níveis de IDE ou nas<br />

no passado, no sentido de se manter o<br />

metical artificialmente elevado. Esta<br />

política, diz, por um lado, permitiu melhorar<br />

o poder de compra e a qualidade<br />

de vida nas cidades; mas, por outro,<br />

condenou o sector agrícola à impossibilidade<br />

de competir em termos<br />

de preço com as importações, incluindo<br />

de produtos básicos.<br />

A doença de que devemos ter medo<br />

“Durante estes anos, não houve uma<br />

preocupação agrária, ou estrutural, e<br />

a produção interna é praticamente incapaz<br />

de competir com as grandes importações<br />

em relação aos principais<br />

bens. Se a isto juntarmos uma políti-<br />

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