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o metical<br />
ajudado Moçambique. Desde Janeiro<br />
(ver gráficos nestas páginas), perdeu<br />
valor face ao metical. “Se não fosse assim,<br />
teríamos níveis de inflação muito<br />
diferentes. Em 2015/2016, houve grande<br />
impacto na inflação, o rand estava<br />
a 11 ou 12, face a cerca de 4 hoje”, diz o<br />
economista-chefe do Absa.<br />
“Tendo em conta que, para já, ainda<br />
não há impacto na inflação, não intervir<br />
é uma postura adequada do ponto<br />
de vista macroeconómico, porque senão<br />
o que estaríamos a ver era uma<br />
deflação, o que seria péssimo nesta<br />
fase”, reforça o economista-chefe do<br />
Absa, que ‘aposta’ num dólar a valer<br />
73 até ao final do ano.<br />
É, de facto, esta a postura que tem sido<br />
assumida pelo Banco de Moçambique<br />
e que foi revelada no artigo anterior<br />
da E&M. O Banco de Moçambique não<br />
só adimite que não há grandes motivos<br />
para intervir como garante que<br />
está atento a reagir caso haja sinais de<br />
risco de uma inflação mais expressiva.<br />
Banco central deve manter-se ‘fora de jogo’<br />
Também Tiago Dionísio, economista-<br />
-chefe da Eaglestone Securities, presente<br />
no mercado moçambicano há<br />
vários anos, concorda que o Banco<br />
Central se mantenha, para já, ‘fora<br />
de jogo’. “É sempre mais desejável<br />
as autoridades deixarem o mercado<br />
funcionar livremente, sem terem<br />
de intervir”, afirma, acrescentando<br />
que “a depreciação do metical que se<br />
tem verificado ao longo do ano não<br />
exportações do País, colocando maior<br />
pressão sobre o desequilíbrio nas contas<br />
externas e, por conseguinte, no<br />
metical”, antecipa.<br />
Muitos dólares a caminho<br />
Entretanto, quando entrar em operação<br />
o projecto de gás da Total na bacia<br />
de Rovuma, Cabo Delgado – recorde-<br />
-se que a petrolífera francesa já assegurou<br />
o financiamento de mais de 16<br />
mil milhões de dólares para garantir<br />
o maior IDE de sempre em África –, a<br />
situação poderá mudar.<br />
“Podemos esperar uma apreciação do<br />
metical, tendo em conta que a existência<br />
de mais dólares na economia vai<br />
reduzir a pressão de liquidez em moeda<br />
estrangeira e nas reservas internacionais<br />
do País”, explica o economista-chefe<br />
da Eaglestone Securities.<br />
Bernardo Aparício concorda. “Para<br />
se alterar o quadro, terá de haver<br />
um aumento das exportações, que as<br />
grandes exportadoras, como a Vale,<br />
voltem a níveis de 2018/2019, e que o<br />
IDE retome. O avançar do projecto da<br />
Total vai de certeza contribuir para<br />
haver mais IDE e mais dólares na economia”,<br />
considera, concluindo que “teremos<br />
um metical a voltar para níveis<br />
de 60, ou um novo normal na ordem<br />
dos 70”.<br />
Francisco Ferreira dos Santos, administrador<br />
da JFS Holding, presente na<br />
agricultura, agro-indústria, metalomecânica,<br />
automóvel, energia e imobiliário,<br />
lembra os erros cometidos<br />
“É sempre mais desejável as autoridades deixarem o mercado funcionar<br />
livremente, sem terem de intervir... a depreciação do metical que se tem<br />
verificado ao longo do ano não tem tido grande impacto na inflação”<br />
de 100 milhões de dólares, garantindo<br />
apenas 2,8 meses de importações.<br />
No ano seguinte, houve um aumento<br />
para 125 milhões de dólares, mas ainda<br />
assim apenas estavam garantidos<br />
três meses de importações. Hoje, estão<br />
em quase 270 milhões de dólares e<br />
asseguram 4,5 meses de importações.<br />
“Se o Banco Central quisesse manter<br />
administrativamente as taxas na<br />
ordem dos 60 [1 dólar=60 meticais] poderia<br />
fazê-lo, porque tem reservas<br />
para isso, mas está a deixar o mercado<br />
funcionar”, apoiando apenas as<br />
importações de combustíveis, explica<br />
Bernardo Aparício. A desvalorização<br />
da moeda sul-africana, reforça, tem<br />
tem tido grande impacto na inflação”.<br />
Em Julho, de acordo com dados do Banco<br />
Central, a inflação, em termos homólogos,<br />
foi de 2,8%, ligeiramente acima<br />
dos 2,69% de Junho, mas abaixo dos<br />
3% de Junho. Tiago Dionísio lembra<br />
que “a economia mundial enfrenta actualmente<br />
uma grave recessão, espera-se<br />
que a maioria dos países registe<br />
uma forte contração em <strong>2020</strong>. A economia<br />
moçambicana não deverá ser das<br />
mais atingidas em termos de impacto<br />
nas perspectivas de crescimento económico<br />
nos próximos tempos”.<br />
“Mesmo assim, não fica alheia aos efeitos<br />
que a actual recessão mundial venha<br />
a ter nos níveis de IDE ou nas<br />
no passado, no sentido de se manter o<br />
metical artificialmente elevado. Esta<br />
política, diz, por um lado, permitiu melhorar<br />
o poder de compra e a qualidade<br />
de vida nas cidades; mas, por outro,<br />
condenou o sector agrícola à impossibilidade<br />
de competir em termos<br />
de preço com as importações, incluindo<br />
de produtos básicos.<br />
A doença de que devemos ter medo<br />
“Durante estes anos, não houve uma<br />
preocupação agrária, ou estrutural, e<br />
a produção interna é praticamente incapaz<br />
de competir com as grandes importações<br />
em relação aos principais<br />
bens. Se a isto juntarmos uma políti-<br />
www.economiaemercado.co.mz | <strong>Setembro</strong> <strong>2020</strong><br />
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