Detetar Fragilidades e Oportunidades para Bragança
Análise da influência do comércio tradicional no turismo, comunidade e desenvolvimento local
Análise da influência do comércio tradicional no turismo, comunidade e desenvolvimento local
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A genuinidade dos sabores encontra-se, talvez, nas aldeias,<br />
na casa das famílias tradicionais, que ainda usam o lume<br />
como elemento principal na confeção de qualquer<br />
alimento. Os estufados no pote de ferro, onde incluímos o<br />
galo, o coelho bravo, a lebre ou o javali, o cabrito de<br />
montesinho ou o cordeiro bragançano.<br />
Também o famoso Butelo com cascas, produto-chave já<br />
adotado pelo município, deve ser cozido num pote de<br />
ferro, ao lume. O mesmo fogo que cria as brasas de lenha<br />
de carvalho ou castanho, tão importantes nas carnes<br />
assadas, como a posta à mirandesa, não há outra forma de<br />
a confecionar que não assada na brasa, ou então não será<br />
posta à mirandesa.<br />
Até as trutas, que sendo tradicional cozinha-las em<br />
escabeche, têm outro paladar quando grelhadas na brasa.<br />
Este saber fazer que torna a cozinha tradicional tão ímpar<br />
deve ser motivo <strong>para</strong> atrair visitantes e turistas à cidade.<br />
Mas na cozinha há espaço e é conveniente que se aposte<br />
também na inovação, na criatividade, na audácia de fazer<br />
diferente sem alterar a qualidade superior da<br />
matéria-prima que caracteriza o território. E há chefes de<br />
cozinha, que dentro do território, têm vindo a deixar a sua<br />
marca e a garantir que tradição e modernidade podem<br />
caminhar de mãos dadas e fazer sucesso, atraindo novos<br />
públicos, mais exigentes, não apenas no palato, mas<br />
também na apresentação dos pratos.<br />
A mesa deve também ser uma festa <strong>para</strong> o olhar.<br />
Da gastronomia não é possível dissociar os vinhos e a<br />
prosa. Neste último aspeto a região está muito bem<br />
servida, há sempre uma história, uma peripécia, um facto,<br />
um conto ou até uma brincadeira <strong>para</strong> contar à mesa e<br />
garantir um ambiente alegre <strong>para</strong>, com alegria aproveitar<br />
o que de melhor nos oferece a gastronomia.<br />
Atualmente o facto de dois restaurantes serem<br />
referenciados pelo Guia Michelin, o Restaurante G com<br />
uma Estrela Michelin e a Tasca do Zé Tuga com Bib<br />
Gourmand do Guia Michelin, contribui <strong>para</strong> a imagem de<br />
excelência gastronómica do território e estas unidades de<br />
restauração devem integrar as estratégias de promoção<br />
territorial.<br />
FESTAS SOLSTICIAIS<br />
Caretos e Festas dos Rapazes<br />
No curto prazo, enquanto o país e o mundo<br />
permanecerem em contexto de pandemia, estas festas<br />
não poderão realizar-se, pelo menos com a alegria que<br />
aconteciam anteriormente. Mas no médio prazo, estas<br />
manifestações de grande folia, podem representar um<br />
enorme atrativo <strong>para</strong> a retoma do turismo. Os Caretos<br />
invadem as aldeias de <strong>Bragança</strong> entre o Natal e os Reis,<br />
num ritual pagão que atualmente é dedicado a Santo<br />
Estevão. Os rapazes solteiros, mascarados e com<br />
indumentária muito peculiar, espalham a confusão e o<br />
terror, saem à rua, perseguem as raparigas e põem a nu os<br />
boatos das aldeias. É este um ritual de limpeza e<br />
ressurgimento que coincide com o solstício de inverno e<br />
que marca o começo de um novo ciclo.<br />
As festas dos rapazes realizam-se um pouco por todo o<br />
nordeste transmontano e ainda na vizinha Espanha, num<br />
espaço geográfico muito definido que originou uma<br />
candidatura a Património Imaterial da Humanidade,<br />
sendo <strong>Bragança</strong> e Macedo de Cavaleiros os concelhos<br />
onde a tradição está mais presente.<br />
Estas figuras descaradas, que em torno da cinta trazem<br />
barulhentas e enormes chocalhos, saltam sem temor em<br />
torno das pessoas, principalmente das raparigas, que<br />
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