Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
última página<br />
Unsplash<br />
Só o amor<br />
reconstrói<br />
Flavio Waiteman<br />
20<strong>21</strong> vai ser um ano <strong>de</strong> reconstrução: negócios,<br />
carreiras, relacionamentos. Vamos<br />
tentar reconstruir aquilo que a vida,<br />
o tempo e esse ano <strong>de</strong> <strong>2020</strong> não permitiram.<br />
Mas como reconstruir se hoje a linha <strong>de</strong><br />
pensamento dominante é o <strong>de</strong>strutivismo? O<br />
<strong>de</strong>strutivismo é um movimento global que se<br />
<strong>de</strong>dica a <strong>de</strong>struir “o que está aí”, sem colocar<br />
nada <strong>de</strong> valor no lugar. É um movimento primo-irmão<br />
do negacionismo, que se propaga<br />
pelas re<strong>de</strong>s e tem o gran<strong>de</strong> feito <strong>de</strong> permitir<br />
que opiniões tenham o mesmo peso que fatos,<br />
por exemplo. O <strong>de</strong>strutivismo mergulhou<br />
o mundo na profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong> argumentos <strong>de</strong><br />
uma 7ª série que zoa o tempo todo.<br />
Alguns exemplos <strong>de</strong> ilustres lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong>sse<br />
movimento são os presi<strong>de</strong>ntes que eleitos<br />
<strong>de</strong>mocraticamente acabam negando o processo<br />
<strong>de</strong>mocrático. Mesmo que isso<br />
<strong>de</strong>strua a <strong>de</strong>mocracia. Ministros<br />
“comunicação<br />
e vacina se<br />
parecem. a<br />
comunicação<br />
requer amor,<br />
energia,<br />
<strong>de</strong>dicação.<br />
ciência.<br />
insights”<br />
que se esforçam para acabar com<br />
o objetivo <strong>de</strong> existência dos próprios<br />
ministérios. É o que acontece<br />
quando, por exemplo, o Ministério<br />
do Meio Ambiente facilita leis<br />
que <strong>de</strong>stroem o meio ambiente.<br />
Aliás, alguns ministros parecem<br />
que estão lá <strong>de</strong> castigo, cuidando<br />
<strong>de</strong> coisas que não gostam <strong>de</strong>finitivamente.<br />
O cara da Saú<strong>de</strong>, por<br />
exemplo, joga contra a vacina que<br />
po<strong>de</strong> salvar a todos. Já pensou<br />
você ao lado <strong>de</strong>sse cara cavando<br />
uma trincheira? Esse movimento está por toda<br />
a parte e faz um sucesso danado na política,<br />
na cultura, na educação e um relativo sucesso,<br />
espero que passageiro, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nossa indústria<br />
da comunicação. Muita gente nos últimos<br />
anos tem expressado opiniões muito ruins<br />
sobre publicida<strong>de</strong> e publicitários. Desprezam<br />
as i<strong>de</strong>ias chamando-as <strong>de</strong> commodities e,<br />
por fim, acabam criando negócios, inovações<br />
e startups que se parecem com... agências. E<br />
até mesmo na origem da indústria da comunicação<br />
existe um mal-estar com marcas centenárias<br />
<strong>de</strong> comunicação. É um movimento<br />
que vimos no último ano. Gran<strong>de</strong>s holdings<br />
juntam várias empresas em apenas uma. E assim<br />
as marcas importantes da indústria vão se<br />
juntando e <strong>de</strong>saparecendo numa fileira interminável<br />
<strong>de</strong> nomes e vão per<strong>de</strong>ndo seu inestimável<br />
valor. Fora o <strong>de</strong>sespero das telefonistas<br />
que precisam <strong>de</strong>corar e repetir um nome diferente<br />
a cada dois meses, po<strong>de</strong> ficar no ar uma<br />
<strong>de</strong>sconfiança: como empresas <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong><br />
conseguem convencer os anunciantes a criar<br />
marcas, se no ramo <strong>de</strong> agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong><br />
a marca não tem tanta importância assim<br />
a ponto <strong>de</strong> abrirem mão <strong>de</strong>las? A pergunta<br />
é retórica, por favor, não me enviem respostas.<br />
Mas estamos falando <strong>de</strong> 20<strong>21</strong>. E precisamos<br />
tratar da reconstrução <strong>de</strong> parte <strong>de</strong> nossas<br />
vidas. Ânimo!<br />
E daí que vamos precisar <strong>de</strong> amor e <strong>de</strong><br />
ciência. Que estão intimamente ligados.<br />
As i<strong>de</strong>ias científicas como as vacinas, por<br />
exemplo, são construídas com muito amor,<br />
pois haja amor para tentar mil formas <strong>de</strong> fazer<br />
até <strong>de</strong>scobrir a melhor para resolver um<br />
problema. E só <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tentar e pensar no<br />
laboratório, lançar para as pessoas. Comunicação<br />
e vacina se parecem. A comunicação<br />
requer amor, energia, <strong>de</strong>dicação. Trabalho<br />
em equipe. Ciência. Insights.<br />
Respeito. Tempo, suor. Por isso<br />
precisa ser muito bem remunerada.<br />
E é com amor, por exemplo,<br />
que dois jovens universitários do<br />
Paraná criaram o Sleeping Giants<br />
Brasil, que tira um dinheiro importante<br />
dos sites que mentem e<br />
confun<strong>de</strong>m as pessoas e acabam<br />
por transformar pessoas relativamente<br />
boas em trogloditas da<br />
caverna <strong>de</strong> platão. Acorrentados<br />
com medo das sombras. Esses<br />
garotos estão tentando colocar a<br />
comunicação nos eixos: mentira<br />
é mentira. Fatos são fatos. Aliás, o nome fake<br />
news é muito sexy para a coisa feia que é. Vamos<br />
<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> usá-lo.<br />
Se esses jovens fazem isso apenas com coragem<br />
e um perfil no Twitter, imagine o que<br />
o Zuckerberg e as plataformas po<strong>de</strong>riam fazer<br />
para restabelecer a verda<strong>de</strong> e um mundo<br />
melhor. A gente sabe que o ódio é o campeão<br />
<strong>de</strong> audiência das re<strong>de</strong>s hoje e gera um lucro<br />
danado para algumas empresas da Califórnia,<br />
mas já está na hora <strong>de</strong> a gente resolver isso<br />
também. Follow the money. Desejo a você<br />
que esse momento que estamos vivendo seja<br />
apenas o vale narrativo que precisa existir<br />
para que o pico da história aconteça no próximo<br />
ano. Um ano on<strong>de</strong> o amor, a inteligência<br />
e a vacina tenham o protagonismo em nossas<br />
vidas. E que nos <strong>de</strong>ixem comer o peru Sadia<br />
em paz enquanto aguardamos um 20<strong>21</strong> melhor<br />
para todos.<br />
Flavio Waiteman é sócio e CCO da Tech and Soul<br />
elaviowaiteman@me.com<br />
42 <strong>21</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> <strong>2020</strong> - jornal propmark