14
Nesta rápida entrevistaa Simonetta Persichetti,para Unicaphoto,o mestre Hélio Campos Mellofala e sua trajetória,influências e do momentohistórico atualComo você vê a importância dofotojornalismo como um narradorhoje da notícia amanhã dahistória?É obvio que o fotojornalista temque ter a noção de como seutrabalho se insere na História.É óbvio que seu material temque ser bem identificado, parafuturo acesso. Neste futuroacesso o seu trabalho vai auxiliare eventualmente modificar aHistória. Ela tem importânciainfinita e mesmo assim é relegadaa um segundo plano. Haja vista opresidente que temos. Tudo o quefaz hoje já fazia quando estavano baixo clero do Congresso.A História nos relata era sóconsultá-la com serenidade.Quando falamos emfotojornalismo em geral falamosdo fotógrafo, mas acho quenão podemos esquecer o papelfundamental do editor queconsegue juntar texto e imagem.Você esteve nas duas frentes.Como você vê esta ligação textoimagem?A ligação ideal entre texto e foto:o editor é uma espécie de curador.Ele não só encomenda, pauta, omaterial a ser produzido, ele agregaDois luíses.Jorge Luis Borges, oescritor argentino e LuizInácio Lula da Silva, o expresidente.Nas páginas 10-11,o ex-presidente JânioQuadros.informações, orienta pesquisa eauxilia na eficiência. Eu fui diretorde redação da revista IstoÉ pormais de uma década. Vinha daAgência Estado que cuidava dassucursais e da fotografia do Estadãoe do JT, onde, como diretor defotografia, participei da renovaçãopor lá e da transição do analógicopara o digital. Fui para IstoÉ comoredator-chefe para fazer a ponte, aintegração, entre texto e imagem,entre a arte e a redação. Fuiconvidado pelo Mino Carta, um dosmaiores jornalistas que passarampor aqui e com quem aprendibastante. O Mino se desentendeu,saiu, e veio Tao Gomes Pinto,outro brilhante profissional que emdeterminado momento adoeceu,sofreu um avc. Eu assumi comdiretor de redação. Fui o primeirofotojornalista a sentar na cadeirade uma semanal de informação,então éramos a IstoÉ ,a Veja e aÉpoca. Meus pares fotógrafos seorgulharam e eu também, logico.Mas orgulho mesmo tenho daequipe que comandei. Na fotografiatínhamos a Magali Giglio, o JoaoPrimo Carloni, o Ricardo Stuckert,para citar alguns. Era um time debravos. Nos doze anos que dirigia redação, entre outros prêmios arevista recebeu 10 Esso, então osmais cobiçados. Depois da IstoÉ,abri a revista mensal Brasileiros,junto com Patrícia Rousseaux,Nirlando Beirão e RicardoKotscho. Ela que também foi umsucesso, durante dez anos, tambémpremiada com o Esso e o PrêmioVladimir Herzog. Hoje, temos aArte!brasileiros que é tocada pelaPatrícia Rousseaux e onde eu tenhoo prazer de fotografar. Voltei afazer o que fazia no começo com omesmo prazer: a fotografia. Achoque até com mais prazer.Nesta minha volta às origenshoje, as quais, diga-se nuncaabandonei, tenho feito umtrabalho para a Arte!brasileirose um trabalho como flâneur,como fotógrafo de rua, olhandoe registrando o meu entorno, oque me chama a atenção. E estetrabalho que faço hoje é frutoda bagagem que naturalmenteadquiri na convivência com asidiossincrasias que nos cercam,exercitando a crítica social comrelação ao mundo, a obrigatóriacrítica social, sem deixar de ladoa regência estética, o prazer queme traz a fotografia no registrode paisagens, das cores, doscinzas e dos pretos e brancos.Quais fotógrafos (sei que é umaescolha de Sofia) ajudarama desenvolver a linguagemautônoma do fotojornalismo.Quero dizer a imagem deixade ilustrar o texto e se tornanarradora por si própria?Devo respeitos a muitos fotógrafos,ao Robert Capa (1913-1954)considerado o grande fotógrafode guerra do século XX, ao DavidBailey (1938-), imortalizadono filme, “Blow Up”, depoisdaquele beijo do cineasta italianoMichelangelo Antonioni, em 1967,mas fico com Erich Salomon(1886-1944), considerado o paido fotojornalismo moderno, porfugir da pose e procurar o flagranteem uma Alemanha pré-nazista.Advogado, criou a obrigatoriedadedo crédito ao lado da fotografia,começou a fotografar com 41 anose usava uma câmera Ermanox 4x5escondida no chapéu coco. Morreuem Auschwitz.Como você avalia ofotojornalismo que vemos nãosó na grande imprensa ou naimprensa internacional e nasredes?A importância do jornalismo e dofotojornalismo para a civilizaçãoé impossível de ser calculada.15