UnicaPhoto - Ed.18
Revista do Curso de Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco
Revista do Curso de Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco
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Nesta rápida entrevista
a Simonetta Persichetti,
para Unicaphoto,
o mestre Hélio Campos Mello
fala e sua trajetória,
influências e do momento
histórico atual
Como você vê a importância do
fotojornalismo como um narrador
hoje da notícia amanhã da
história?
É obvio que o fotojornalista tem
que ter a noção de como seu
trabalho se insere na História.
É óbvio que seu material tem
que ser bem identificado, para
futuro acesso. Neste futuro
acesso o seu trabalho vai auxiliar
e eventualmente modificar a
História. Ela tem importância
infinita e mesmo assim é relegada
a um segundo plano. Haja vista o
presidente que temos. Tudo o que
faz hoje já fazia quando estava
no baixo clero do Congresso.
A História nos relata era só
consultá-la com serenidade.
Quando falamos em
fotojornalismo em geral falamos
do fotógrafo, mas acho que
não podemos esquecer o papel
fundamental do editor que
consegue juntar texto e imagem.
Você esteve nas duas frentes.
Como você vê esta ligação textoimagem?
A ligação ideal entre texto e foto:
o editor é uma espécie de curador.
Ele não só encomenda, pauta, o
material a ser produzido, ele agrega
Dois luíses.
Jorge Luis Borges, o
escritor argentino e Luiz
Inácio Lula da Silva, o expresidente.
Nas páginas 10-11,
o ex-presidente Jânio
Quadros.
informações, orienta pesquisa e
auxilia na eficiência. Eu fui diretor
de redação da revista IstoÉ por
mais de uma década. Vinha da
Agência Estado que cuidava das
sucursais e da fotografia do Estadão
e do JT, onde, como diretor de
fotografia, participei da renovação
por lá e da transição do analógico
para o digital. Fui para IstoÉ como
redator-chefe para fazer a ponte, a
integração, entre texto e imagem,
entre a arte e a redação. Fui
convidado pelo Mino Carta, um dos
maiores jornalistas que passaram
por aqui e com quem aprendi
bastante. O Mino se desentendeu,
saiu, e veio Tao Gomes Pinto,
outro brilhante profissional que em
determinado momento adoeceu,
sofreu um avc. Eu assumi com
diretor de redação. Fui o primeiro
fotojornalista a sentar na cadeira
de uma semanal de informação,
então éramos a IstoÉ ,a Veja e a
Época. Meus pares fotógrafos se
orgulharam e eu também, logico.
Mas orgulho mesmo tenho da
equipe que comandei. Na fotografia
tínhamos a Magali Giglio, o Joao
Primo Carloni, o Ricardo Stuckert,
para citar alguns. Era um time de
bravos. Nos doze anos que dirigi
a redação, entre outros prêmios a
revista recebeu 10 Esso, então os
mais cobiçados. Depois da IstoÉ,
abri a revista mensal Brasileiros,
junto com Patrícia Rousseaux,
Nirlando Beirão e Ricardo
Kotscho. Ela que também foi um
sucesso, durante dez anos, também
premiada com o Esso e o Prêmio
Vladimir Herzog. Hoje, temos a
Arte!brasileiros que é tocada pela
Patrícia Rousseaux e onde eu tenho
o prazer de fotografar. Voltei a
fazer o que fazia no começo com o
mesmo prazer: a fotografia. Acho
que até com mais prazer.
Nesta minha volta às origens
hoje, as quais, diga-se nunca
abandonei, tenho feito um
trabalho para a Arte!brasileiros
e um trabalho como flâneur,
como fotógrafo de rua, olhando
e registrando o meu entorno, o
que me chama a atenção. E este
trabalho que faço hoje é fruto
da bagagem que naturalmente
adquiri na convivência com as
idiossincrasias que nos cercam,
exercitando a crítica social com
relação ao mundo, a obrigatória
crítica social, sem deixar de lado
a regência estética, o prazer que
me traz a fotografia no registro
de paisagens, das cores, dos
cinzas e dos pretos e brancos.
Quais fotógrafos (sei que é uma
escolha de Sofia) ajudaram
a desenvolver a linguagem
autônoma do fotojornalismo.
Quero dizer a imagem deixa
de ilustrar o texto e se torna
narradora por si própria?
Devo respeitos a muitos fotógrafos,
ao Robert Capa (1913-1954)
considerado o grande fotógrafo
de guerra do século XX, ao David
Bailey (1938-), imortalizado
no filme, “Blow Up”, depois
daquele beijo do cineasta italiano
Michelangelo Antonioni, em 1967,
mas fico com Erich Salomon
(1886-1944), considerado o pai
do fotojornalismo moderno, por
fugir da pose e procurar o flagrante
em uma Alemanha pré-nazista.
Advogado, criou a obrigatoriedade
do crédito ao lado da fotografia,
começou a fotografar com 41 anos
e usava uma câmera Ermanox 4x5
escondida no chapéu coco. Morreu
em Auschwitz.
Como você avalia o
fotojornalismo que vemos não
só na grande imprensa ou na
imprensa internacional e nas
redes?
A importância do jornalismo e do
fotojornalismo para a civilização
é impossível de ser calculada.
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